Uma das maiores linhas de energia do mundo, aguardada como promessa para abastecer as populações isoladas do Norte do país, a ligação Tucuruí-Macapá-Manaus está sendo bombardeada por ambientalistas. O motivo do protesto é a construção de uma grande estrada entre as torres, que terão até 70 metros de altura. O caminho vai riscar uma das mais preciosas reservas naturais da Amazônia, prejudicando pesquisas científicas e expondo espécies ameaçadas da região.
O “Linhão”, como o trajeto é conhecido, chegou no ano passado a Manaus. Agora, a obra avançará 750 km para o Norte, rumo a Boa Vista.
Trata-se, porém, de um caminho problemático. Seu traçado cruza a Reserva Florestal Adolfo Ducke, administrada pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e considerada uma das principais regiões de estudo de florestas tropicais do mundo.
“O problema não é propriamente a linha, mas a zona logo abaixo de onde ela passa”, ressalta William Laurance, da Universidade James Cook, da Austrália, que estuda distúrbios na floresta tropical e é um veterano pesquisador da Amazônia.
De acordo com Laurance, as estradas sob as torres teriam até 70 metros de largura. “Pode não parecer muito, mas é um espaço intransponível para muitos animais da floresta”.
Animais noturnos, como o jaguar, são intimidados pela abertura de um espaço iluminado no meio de seu habitat. Presas de espécies importantes também podem ter dificuldades para atravessar terrenos sem cobertura vegetal.
“Se a linha corta a conexão entre a reserva e a floresta vizinha, a reserva vai se tornar uma ilha”, alerta Philip Stouffer, da Universidade de Louisiana, que pesquisou as aves da região por mais de 20 anos. “Nossos estudos mostram que esse isolamento leva à perda rápida de espécies”. (Agência O Globo)