O projeto do deputado Eduardo Farias (PCdoB), que destina 20% das vagas de atendimento no Sistema Único de Saúde, foi o centro das atenções na Aleac na última semana. O projeto foi aprovado por unanimidade no plenário da Casa recebendo votação até de deputados de oposição.
Em entrevista À GAZETA, o deputado falou sobre eleições 2014, futuro do PCdoB, candidatura de Perpétua Almeida ao Senado Federal, desempenho parlamentar, entre outros temas. Eduardo Farias destacou o gesto do senador Aníbal Diniz em desistir da candidatura em favor da deputada comunista.
A GAZETA – O senhor aprovou um importante projeto que o Cartão Verde, que prioriza o atendimento de produtores rurais no SUS. Qual a sensação de aprovar um projeto desse relevante alcance social?
Eduardo Farias – Esse é o projeto pelo qual eu queria ser lembrado nesse mandato que acaba agora em janeiro de 2015. Se não for renovado, eu já me sinto com missão cumprida no parlamento. Digo isso por que é um projeto que mexe com a estrutura do Sistema Único de Saúde, que não respondeu ainda como tratar as pessoas que moram na zona rural, nas florestas. A gente achou uma resposta aqui que não fere nenhum dos princípios do SUS, que são a universalidade, integralidade e a equidade, que trata as pessoas diferentes de modo diferente para que elas se tornem iguais. Nesse princípio da equidade é que nós nos baseamos em retirar 20% das vagas nos SUS para atender a essa demanda. Isso compreende todos os atendimentos do SUS, desde uma vacina, a uma cirurgia de próstata, tratamento do câncer e etc. Essa identificação será feita e checada pelo Sindicato Rural e pela Secretaria de Estado de Saúde.
A GAZETA – A escolha da chapa majoritária, principalmente do Senado foi bem discutida. Foi difícil para o PCdoB conquistar o espaço. Como o senhor acompanhou esse processo?
Eduardo Farias – Penso que mais uma vez a gente consegue dar uma demonstração de uma política grande. Tivemos um debate salutar no Senado. Quanto ao governo, o governador Tião Viana mexeu num setor que ainda não havia tocado de forma muito forte que é a produção. Jorge Viana trabalhou a alto estima do povo acreano, recuperar as instituições. O governo do Jorge foi quase uma reconstrução do Estado enquanto ente. Já o Binho trabalhou a questão social, dos movimentos sociais, trabalhou de forma mais esquemática. O governo do Tião conclui esse processo, mas avança nesse ponto, que é da produção, da produção rural, da produção industrial, dos pequenos negócios. Por conta disso foi unânime a escolha dele.
A polêmica foi no Senado. O gesto do senador Aníbal Diniz foi de uma política grande, que você não encontra em nenhum outro canto do Brasil. Um senador de fato, um senador bem avaliado, um senador que tem suas origens na Frente Popular. Legitimado pela sua luta de formação da Frente Popular. Mas foi grande ao pensar a pluralidade da Frente Popular e, com isso, a Perpétua foi escolhida a partir do gesto do Aníbal e os outros 12 partidos.
Temos o processo da formação de uma chapa única para deputado federal com reais chances de eleger 5 deputados federais e, dependendo de como são as articulações da oposição, podemos fazer mais uma vaga. Tenho certeza que faremos 5 deputados federais. Estadual podemos fazer 16 até 18, para termos uma base de apoio ao governador Tião Viana bem sólida. Então foi um processo salutar eu diria.
A GAZETA – O senhor acredita que haverá partidos ou candidatos da Frente Popular que não apoiarão a Perpétua?
Eduardo Farias – Isso faz parte dos primeiros arranjos. É claro que todo partido vai colocando na mesa as suas reivindicações, isso é da natureza da política e nós estamos vencendo essa etapa. Eu não acredito que teremos candidatos com esse tipo de postura de agora em diante, em que a campanha começou de fato. A própria campanha vai dando aquela liga em defesa do projeto maior. Não adianta o camarada querer ser candidato a deputado estadual da base do governo ou deputado federal e pedir para o Tião Viana ter mais um deputado de oposição lá em Brasília. O cara que pensa assim está jogando contra o time. Eu não creio que tenhamos candidatos assim. Será uma campanha dura, é verdade, mas teremos uma campanha compacta.
A GAZETA – As últimas pesquisas foram favoráveis aos candidatos da Frente Popular. O governador Tião Viana, por exemplo, ganharia em primeiro turno. Qual a sua avaliação desse cenário, segundo, as pesquisas?
Eduardo Farias – Acredito que as pesquisas do Instituto Delta e da Vox Populi refletem aquilo ali. O Delta fazendo uma avaliação mais para baixo, mas colocando o Tião e a Perpétua na dianteira. Com o calor da campanha, a gente conversando com a população e fazendo uma prestação de contas, afinal foram 16 de governo. Mas não foram 16 anos sentados em uma cadeira e vendo as coisas passarem. Foram 16 anos com muita coisa feita. Estamos concluindo esse ano com todas as BRs sendo asfaltadas. A BR-317 asfaltada, a BR-364 sendo concluída, ou seja, os grandes eixos de BRs sendo pavimentadas. A Peixes da Amazônia vai revolucionar, a saída para o Pacífico… Estamos no rumo certo.
Penso que somos o novo, ainda. Temos capacidade de elaborar projetos e trazer recursos para executá-los. Temos capacidade política. A pesquisa nacional mostra a Dilma eleita no primeiro turno. Pela primeira vez no Acre podemos ter uma grande vitória dela, com uma grande vantagem em cima do Aécio e do Eduardo Campos.
A GAZETA – O PCdoB sabe do risco de ficar sem mandatos em 2015, uma vez que a reeleição da deputada federal Perpétua Almeida era tida como certa. O PCdoB tem essa consciência?
Eduardo Farias – Esses são os riscos da vida. A vida nos impõe algumas coisas. Não sabemos se vai chover, se vai fazer sol, então são algumas coisas que a vida nos impõe. Podemos sair com a maior vitória que o PCdoB pode ter no Acre. Termos uma senadora, um deputado federal, que é o Moisés Diniz, e dos deputados estaduais. Sabemos da militância aguerrida que nós temos, o nome da Perpétua é um nome que o Acre todo conhece. Interagimos com a sociedade.
O Moisés tem encabeçado essa luta dos 11 mil. É a voz mais forte que se tem. O Moisés tem feito uma luta grande em defesa daquelas famílias que vem aqui na Aleac. O Moisés não investiu nenhum real na Telexfree, mas defende aqueles que investiram de forma inocente, eu diria até. Ele tem sido a voz dos mais oprimidos. Ele não entra no mérito da decisão da Justiça sobre a Telexfree, mas sim a defesa dos divulgadores. Acredito que a sua eleição será um ganho para o povo do Acre.
Já na Aleac, o PCdoB quer manter as nossas duas vagas. Era o Edvaldo Magalhães e Moisés. Agora sou eu e o Moisés. Em 2015 seja com o meu nome, ou com o de outros camaradas, a intenção é manter as duas cadeiras.
A GAZETA – Qual a leitura que o senhor tem da atual legislatura?
Eduardo Farias – Sempre tive um olhar para Aleac de quem está na gestão. Sempre via a Aleac como uma casa de muito debate. Como diz a música do Caetano: “de perto ninguém é bonito”. Então, tem algumas coisas aqui que eu não concordo. Vez ou outra, nós baixamos o debate para coisas pequenas, para picuinhas. Mas também acho que essa casa produziu grandes momentos, como a defesa dos 11 mil, a questão dos haitianos, dos estudantes que moram fora do Brasil, dos PCCRs dos servidores públicos, das questões minoritárias. Tivemos bons projetos de muitos colegas, não só meu.
Se não somos a melhor legislatura, eu diria que não somos a pior. É uma legislatura que não deixa mancha. Durante esses 4 anos, não teve nenhum escândalo que envolvesse qualquer deputado, coisa que a gente não vê nas outras Assembleias Brasil afora. A forma que essa Casa trata o dinheiro público e recebe o povo é louvável.
A GAZETA – Finalizando nosso bate papo, qual a avaliação que o senhor faz do seu mandato? Vai à reeleição mesmo?
Eduardo Farias – A melhor forma de avaliar o mandato é na urna. Vai ser um recado de como o povo avalia o meu mandato. Eu tenho mantido o contato com o público através das redes sociais, através do nosso site: www.eduardofarias.com.br. Faço uma avaliação anual. Procurei manter um canal de comunicação que é o nosso jornal escrito dando conta do meu trabalho aqui. O que vejo é a adesão de pessoas querendo ajudar nessa reeleição. Notas da imprensa avaliando o nosso mandato como produtivo e acredito que se nós não fizemos um grande mandato, nós não caímos na vala comum. Fizemos um bom trabalho.
(Foto: J. Simão)