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Importância da Lexicologia e da Lexicografia no estudo das palavras

A ordenação onomasiológica tem longa data na tradição de pesquisa e fazer lexicográficos. Peter Marc Roget e seu Thesaurus of English Words and Phrases (1806) pode ser considerado um dos precursores neste campo. No século XX, destaca-se o trabalho de Rudolf Hallig e Walther von Wartburg, Begriffsystem als Grundlage für die Lexicographie: Versuch eines Ordnungsschemas (1963), onde se propõe um modelo mais exaustivo e coerente para classificar o léxico de uma língua natural. A proposta de Hallig/Wartburg recebeu importantes retificações teóricas e metodológicas de Klaus Heger (Teoría Semântica II, 1977), que, por sua vez, têm sido levadas em conta por Henri Vernay, Dictionnaire onomasiologique des langues romanis (1992 e seguintes). Pode-se dizer, então, que esta evolução é a melhor testemunha da validez deste método para tratar o léxico de uma língua.

A ciência lexicológica é um rico campo a ser estudado. São ainda poucas as pessoas dedicadas à Lexicologia no Brasil, onde nome de autor virou sinônimo da obra. Aqui, no Acre, há raras notícias de pesquisa sistematizada sobre o tema. As pessoas até julgam não ser relevante estudar e catalogar palavras. Esquecem-se que com elas constróem-se o dia-a-dia na vida humana. Há pessoas que até sentem vergonha em consultar um dicionário e há outras que não sabem manuseá-lo. Há, ainda, aquelas que chamam o dicionário de “o pai dos burros”. Então, só manuseia um dicionário aquele ser despido de inteligência?!

Trabalho, enquanto pesquisadora, na catalogação de palavras, tarefa da disciplina Lexicologia e Lexicografia brasileira e nela, objetiva-se, dentre muitas coisas, motivar o aluno e  o professor à produção de glossários acreanos, para a melhoria da produção dos textos em sala de aula. Por isso, dentro dos grandes objetivos desse curso está o de preparar uma equipe de pesquisadores nessa área de estudos, já que não se tem, no Acre, pessoas trabalhando nesse campo do saber. Assim, urge  a preparação de uma equipe, envolvendo profissionais das mais diversas áreas, no campo das línguas modernas, em cursos como inglês, francês, italiano e espanhol, bem como treinamento em temas mais  específicos, como metodologias de organização lexical, lexicologia e terminologia etc. Nesse campo, há um recente projeto envolvendo profissionais de diversas áreas, Línguas modernas: léxico, terminologia e multimídia, como uma linha de pesquisa dentro do Departamento de Letras.

De outra parte, o Curso Lexicologia e Lexicografia Brasileiras, a ser ministrado no segundo semestre letivo, pela segunda vez na Ufac, atende à necessidade específica de professores e aprendizes da língua materna, na feição língua escrita. Objetiva ser um subsídio que venha auxiliar o trabalho dos professores, no que tange ao léxico específico para as várias unidades situacionais, especialmente para os cursos que adotam a abordagem comunicativa em seus planos de ensino.

Não se trata da elaboração de um dicionário geral, mas tão somente de termos e expressões regionais (designações), ou seja, como se expressa tal conceito em português, na oralidade acreana, bem como as formas de aproveitamento no estudo do léxico da nossa linguagem,  na expressão oral e escrita.

DICAS DE GRAMÁTICA
E as expressões MEIO e SÓ, como fazer a concordância, professora?
– Observando a sua significação, da seguinte forma: Meio (equivalendo a um tanto) e só ( eqüivalendo a somente) são advérbios, e permanecem invariáveis. Assim diga seguramente:

Nós só comemos frutas. (=somente)

Tu, só tu,  homem, sentirás a minha ausência. (=somente)

Elas ficaram meio envergonhadas. (um tanto)

Vocês ficaram meio confusos?! ( um tanto)

E quando a expressão MEIO significar metade, professora?
– Nesse caso será numeral e você realiza a flexão. Assim diga:

Não gosto de meias-verdades.

O almoço é servido ao meio-dia e meia. (hora)

Eles são maléficos, não usam meios-termos.

De manhã, comeu meio pão.

E a na expressão TAL QUAL, como fazer?
– O primeiro elemento concorda com o antecedente e o segundo, com o consequente. Assim:

O garoto é tal qual o pai.

Os garotos são tais quais os pais.

O garoto  é tal quais os pais.

Os garotos são tais qual o pai.

Indivíduo sem vergonha ou Indivíduos sem vergonhas?
– Indivíduo sem vergonha. As locuções adjetivas permanecem invariáveis.

Artistas de talento.

Heróis sem caráter.

Homens sem virtude.

* Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras; Professora Visitante Nacional Sênior – Capes.

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