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“Quero que acabe logo”, diz filha do palestino que mora no Acre e vive drama em Gaza

Fotos mostra a situação da Faixa de Gaza durante conflito entre israelenses e o movimento islamita
Fotos mostra a situação da Faixa de Gaza durante conflito entre israelenses e o movimento islamita

O desespero e a aflição da família do palestino Yusif Awni El-Shawwa, 67 anos, que mora com a família no Acre desde 1968, só aumentam. No final de abril, ele resolveu visitar a mãe, que vive na Faixa de Gaza. Desde então, o conflito entre israelenses e o movimento islamita Hamas, iniciado no dia 8 de julho, tem o mantido impossibilitado de retornar para casa.

Em entrevista para A GAZETA, a delegada Márdhia El-Shawwa Pereira, 35 anos, filha de Yusif, relatou os momentos de terror que a família paterna tem vivido em Gaza. Do Acre, ela mantém contato com o pai via aplicativo WhatsApp, mas a comunicação ficou comprometida. A avó teve a casa bombardeada no dia 15. O alvo era o vizinho. Desde então, ela, Yusif e mais dois irmãos estão dormindo no único quarto que não foi atingido pelo míssel.

“Meu pai estava extremamente feliz. Não ia para Gaza desde 2005, quando Israel desocupou o local. Assim que chegou lá, em abril, nos ligou falando o quanto a região havia se desenvolvido. Ele acreditava na paz. Quando eu vi nos noticiários sobre o sequestro dos três jovens israelenses, já suspeitava que haveria conflitos”, relata.

Nesta quarta-feira, 23, o primo de Márdhia também teve o apartamento destruído. Recém-casado e com a esposa grávida, o jovem teve que se mudar do local, que havia acabado de ser mobiliado. “Não tem lugar seguro lá. Os israelenses estão atacando casa de civis em busca de integrantes do Hamas. Escolas da ONU, hospitais e abrigos estão sendo bombardeados. Muitas crianças e inocentes já morreram. Algo realmente triste”, declarou Márdhia.

São 8h de diferença do Acre para Gaza. Sempre que entram em contato com o palestino Yusif, a aflição das filhas e da esposa dele aumenta, pois é audível e notório o som de explosões e mísseis cortando o céu a todo o momento. “Falei com o meu primo e ele me disse que só dormem 3h por dia. Descansar é coisa rara por lá, devido ao barulho e ao chão que treme”.

O pai e os parentes de Márdhia presos em Gaza, assim como outros palestinos, vivem em situações críticas. Nesses dias os trabalhos foram suspensos. “Tenho um primo que é pintor, mas não pode fazer o serviço, pois não entra tinta e nem material de construção lá. Outro tio é gerente de um escritório, mas o prédio foi totalmente destruído. Só resta a eles ficarem em casa”.

Yusif adiou os planos de deixar Gaza neste mês para concluir o ramadã, período do calendário islâmico em que é feito o jejum, um dos cinco pilares da fé islâmica. O retorno estava previsto para agosto, mas não é certeza devido aos conflitos na região e à família. “Ele está preocupado. Não quer deixar a mãe, os irmãos e os sobrinhos em um momento tão difícil”, afirma Márdhia.

Ainda de acordo com a filha de Yusif El-Shawwa, as orações são voltadas para o fim do conflito. “Quero que acabe logo. Gaza não tem condições para de tempos em tempos se reerguer. É triste saber que o local estava indo tão bem e se desenvolvendo. Espero que depois disso tudo, o mundo ajude a reconstruir a cidade”, pediu Mhárdia.

Márdhia El-Shawwa Pereira, filha de Yusif Awni El-Shawwa
Márdhia El-Shawwa Pereira, filha de Yusif Awni El-Shawwa

Origem do conflito
Israel acusou o Hamas, que controla a Faixa de Gaza, pelo desaparecimento de três adolescentes na Cisjordânia. O grupo islamita não confirmou nem negou envolvimento. Israel deslocou soldados para a área da Cisjordânia e vários membros do Hamas foram detidos. Foguetes foram disparados da Faixa de Gaza contra Israel.

A tensão aumentou quando os corpos dos três jovens foram encontrados com marcas de tiros, em 30 de junho. No dia seguinte, um adolescente palestino foi sequestrado e morto em Jerusalém Oriental. De acordo com a autópsia, ele foi queimado vivo.

Israel prendeu seis judeus extremistas pelo assassinato do garoto palestino, e três dos detidos confessaram o crime. Isso reforçou as suspeitas de que a morte teve motivação política e gerou uma onda de revolta e protestos em Gaza.

No dia 8 de julho, após bombardeio com foguetes contra o sul de Israel por parte de ativistas palestinos, a aviação israelense iniciou dezenas de ataques aéreos contra a Faixa de Gaza, que respondeu disparando foguetes contra Tel Aviv. Após os bombardeios, Israel decidiu atacar Gaza por terra.

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