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“Trabalhamos todo o tempo assustados com a bandidagem”, diz motorista de coletivo

Motoristas de ônibus realizaram diversas manifestações durante toda esta terça-feira na Capital Rio Branco
Motoristas de ônibus realizaram diversas manifestações durante toda esta terça-feira na Capital Rio Branco

Na casa modesta da periferia do Segundo Distrito de Rio Branco, o clima era de desolação. Ali, o motorista profissional Raimundo Marconi Santana, 39 anos, dos quais cinco deles trabalhando na Viação Floresta, era velado ontem como a mais recente vítima da violência na Capital.

Por volta das 20h30 da última segunda-feira, 28, Santana viu seus planos, de casar com a amada, abruptamente interrompidos por bandidos já acostumados com o entra e sai do presídio Francisco de Oliveira Conde.

Seis indivíduos participaram do plano: assaltar o cobrador e descer em algum ponto da linha da Ufac. Mas na primeira oportunidade, um deles disparou três vezes contra o motorista.

Ontem pela manhã, depois de uma paralisação da categoria, a Secretaria de Estado de Segurança tratou de reunir-se com lideranças do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes e traçar metas para evitar que atrocidades como essas não voltem a acontecer.

“Não sabemos ao certo de agora em diante, mas o fato é que sempre trabalhamos assustados”, responde um dos colegas, Genildo Correa da Silva, que tem a mesma idade da vítima, entrevistado ontem por A GAZETA.

Eram 16h28 de ontem quando Correa da Silva desceu do ônibus que faz a linha do Bairro São Francisco para participar de mais um protesto – o segundo – pelo assassinato do colega. Neste meio tempo aceitou conversar.

“Nunca estivemos seguros e o momento de maior tensão é entre 22h e 23h30, nos últimos “balões” (voltas) da noite”, explica o profissional.

No Terminal Urbano de Rio Branco, quem deixa para embarcar próximo das 23 horas, na última partida da noite, corre sérios riscos de ser atacado.

“É neste momento que os marginais agem. Eles embarcam armados de faca, geralmente cortam as cordas usadas para os passageiros se segurarem e muitas vezes, do lado de fora, arremessam pedras contra os vidros”, conta o motorista.

De acordo com os motoristas, o policiamento da PM no interior do Terminal é eficaz, mas eles não estão dispostos a revistar todo passageiro nos pontos de espera, porque além de serem muitos, quem tem a intenção de aprontar no interior dos coletivos não se manifesta na área de embarque até entrar no veículo.

“O ideal é que as pessoas optem por embarcar às 22 horas. É o conselho que eu dou porque quem deixar pra 23 horas pode ser seriamente molestado pelos criminosos”, adverte Genildo da Silva.

Ele acredita que a implantação de um esquema policial, com agentes à paisana nos ônibus, seria o ideal.  (Foto: Odair Leal/A GAZETA)

Noivos se casariam em dezembro
Os próximos dias serão de muita frustração para Erlândia Gomes, 22 anos, noiva de Raimundo Santana.

“Nós nos casaríamos em dezembro próximo e pretendíamos passar a lua-de-mel em Teresina (PI), logo em seguida ao matrimônio”, conta a mulher. “Já sinto muita falta dele”, se lamentou no funeral.

Ao site A Gazeta.net, o cobrador, que preferiu não se identificar, disse ter acompanhado os últimos momentos de vida do colega e da sua insatisfação com a profissão.

“Não estou querendo mais voltar para o trabalho. Vou pedir as contas e procurar outro serviço”, disse à reportagem.

Indiciamento – Seis indivíduos foram indiciados por crime de latrocínio (roubo seguido de morte). O inquérito está a cargo do delegado Paulo Rezende. Cinco deles já têm passagem pela polícia e estiveram presos na penitenciária Francisco de Oliveira Conde. A polícia não divulgou quais crimes eles teriam praticado.

Conforme Rezende, quatro tiveram envolvimento direto com o crime. Dois indivíduos seguiram o ônibus em motocicletas e outros dois armados invadiram o coletivo.

Além deles, um casal, proprietário de uma casa no Bairro Nova Esperança, está envolvido. Foi para lá que o bando se deslocou após a morte. A mulher é a única que não tem passagem pela polícia.

Saiba quem são eles

Suspeitos foram presos logo após o assalto ao ônibus
Suspeitos foram presos logo após o assalto ao ônibus

* José Carlos de Melo Júnior, 24. Estava em uma das motos dando apoio ao grupo.
* Leandro Sousa dos Santos, 28, estava na segunda moto: saiu do presídio em 2013.
* José Aroldo dos Santos Silva, também de 28 anos: saiu do presídio em janeiro deste ano. Ele atirou no motorista e estava na parte de trás do ônibus, recolhendo os pertences dos passageiros.
* Wesley Presley Cavalcante da Silva, 27 anos: não estava mais cumprindo pena em regime semi-aberto. Levou o tiro na perna. Tinha um mandato de prisão em aberto.
* José Carlos de Melo Júnior. Deu amparo ao grupo de assaltantes na casa do Nova Esperança. Tinha passagem pela polícia. Saiu do presídio em 2013.

(Foto: Pedro Paulo)

(Fonte: TV GAZETA)

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