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Desumano

Desumano é o homem kafkaniano representado em tudo o que o seu tempo tem de trágico, de irracional e de bárbaro. Desumano é tudo o que pretende levar o homem acima ou para lá dos próprios limites que o constituem, erigindo-o em realidade absoluta e auto-suficiente. É  tudo o que, pelo contrário, o rebaixa para o plano de manifestação insignificante de uma realidade pré-determinada. Desumano é o homem considerado fora da história e da sociedade em que vive; fechado numa situação ultrapassável, e é também o homem reduzido a simples marionete da sociedade e da história.

Desumano, como diz o filosofo italiano Remo Cantoni  (l914-1978), são os monstros da agressividade, destruição e da violência, da obediência incondicional aos novos chefes autoritários e carismáticos. Monstros que, a cada dia, protagonizam incursões clamorosas e atrozes na cena do mundo, tornando a busca da verdade e a defesa da liberdade, mais perigosa e mais difícil. Desumano é constatar que há no Brasil, 14 milhões de casas de família sem acesso à água tratada.

Desumano, é a glorificação da guerra. Em dias passados, com Bush, na invasão contra o Iraque, tendo como saldo macabro quatro milhões de desabrigados, dois milhões de  refugiados e milhares de mortos.. Com a Rússia na guerra da Geórgia em 2008 e, mais recentemente, diante do poder de veto da Rússia e da China.

As atrocidades destas guerras insanas se seguiram numa ação contínua, no médio oriente. O mundo testemunhou, com olhar perplexo a insanidade  entre os defensores do presidente deposto Mohammed Morsi em confronto com as forças  do “novo governo” do Egito, num verdadeiro horror nas ruas de Cairo.

O conflito na Síria não foi diferente, precisamente um ano atrás. Resultado de longos anos de ditadura insana, o governo instituído  oprimiu o povo com suas armas pesadas; sendo acusado, inclusive de se utilizar de “armas químicas” devastadoras, para impor, notadamente a cidade de Damasco, opressão, terror e morte. O número de mortos passou de 100 mil pessoas nesta “guerra interna” na Síria, sendo que grande parte dessas pessoas eram constituída de civis.

Agora, a guerra “santa” na Faixa de Gaza, com mais de um mil palestinos mortos. Mortos covarde e impiedosamente. É inegável que estamos vivendo perigosamente os limites da irracionalidade, isto é, estamos na contramão da razão. Desumanidade total!

A guerra no Oriente Médio inspira ao poderoso Primeiro Mundo o desejo de intervenção, notadamente para testarem suas armas sofisticadas e para deixar bem claro, ao mundo inteiro, seu projeto de domínio total, sua ganância de poder e riqueza, representado hoje, ainda, pelo petróleo. Os EUA, que têm verdadeira sede de supremacia total em países como o Catar, Iraque e Irã, entre outros que compõe o Golfo Pérsico, notadamente pelo manancial de ouro preto, volta à cena do crime.

Na verdade, vivemos universalmente a contradição entre o humano e o desumano.

Parece, que nesta contradição, o humano  deu lugar ao desumano. Basta uma simples olhada na convivência entre as pessoas, a partir do  mais simples município, para se constatar esta realidade. Grosso modo, podemos dizer que o inditoso, desumanamente passou a roubar do seu semelhante de infortúnio. É o pobre roubando do pobre!

Aquele espírito humano que anima uma coletividade e instituições.  Aquilo que é característico e predominante nas atitudes e sentimentos dos indivíduos de um povo, grupo ou comunidade, e que marca suas realizações ou manifestações culturais, relações de amizade entre as nações com base no respeito ao princípio de igualdade de direitos e autonomia dos povos. O modo de ser ou de vida habitual, do ser humano. Seu temperamento e disposição interior de fazer o bem, de natureza emocional ou moral, feneceram pelo caminho.

*Pesquisador  Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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