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A leitura pode mudar a vida brasileira?

Eu sempre fico a me perguntar por que as pessoas não gostam de ler. Afinal, o que acontece com tanta gente que não atribui valor à leitura e prefere comprar uma camisa, um short, uma saia, um vestido, um sapato, um perfume? Todos esses objetos são bens perecíveis, envelhecem, acabam, e não deixam marcas na vida de ninguém. As leituras sim, elas nos conduzem a mundos diferentes, fazem-nos mergulhar no universo do outro, a desvendar segredos, encontrar tesouros, compreender melhor as pessoas, a nós mesmos, a vida, o mundo.

A leitura é uma ação tão importante que conduz às pessoas a solidificar as relações que põem o mundo em paz ou em guerra. Isso porque ao concluir uma leitura nunca mais seremos a pessoa de antes, porque a leitura trouxe informações, reflexões que antes não povoavam a nossa mente. E essas informações nos fazem crescer!

Talvez por essa fabulosa atividade que é a leitura, ler é sempre recomeçar a vida, sob o prisma de um novo olhar, um novo pensar, um novo agir, um novo sentir. A escritora  Clarice Lispector dizia que a leitura tem sentido inaugural. Ela tinha razão. No ato de ler há sempre um  descerrar de véus para o que antes parecia destituído de significados. Em cada leitura que se faz  há algo novo, sempre.

O erudito  francês  Michel de Certeau disse, certa vez, que o “O leitor é um caçador que percorre terras alheias”. É verdade, a leitura é uma ação desbravadora de mundos, seja ela de natureza técnica, ficcional ou científica. A nossa mente fica a trabalhar, a planejar viagens no mundo das palavras. Afinal, as palavras,  elas traduzem tudo que existe entre o Céu e a Terra.

E tanto é verdadeira essa afirmação acima, que no momento atual, fazemos inúmeras leituras no mundo político. As pessoas aparecem na TV com um discurso que traduz verdades e mentiras. Há políticos de toda natureza: verdadeiros, corretos, íntegros; outros cínicos, mentirosos, enganadores, usurpadores dos sonhos da nação. E somente uma boa leitura será capaz de separar o joio do trigo. É preciso filtrar os discursos e deles separar os verdadeiros dos falsos.

Há candidatos que só querem ganhar dinheiro. Outros ingressam na política para fazer negócios. Muitos, grande maioria, para enganar, ludibriar o eleitor, o brasileiro simples, humilde, que não sabe o perigo que se esconde nas palavras ditas em forma de promessas e juras eternas de amor ao país, ao Estado, ao povo.

E eu sinto muito medo do tempo de hoje, quando tanta gente deseja se dar bem na política. Fazem um discurso ao gosto do povo, dizem aquilo que o povo quer ouvir, falam palavras de um mundo que desejamos ter, viver. Mas há uma dicotomia entre ler essas palavras e ler as verdades da vida dessa gente que tem o intuito de enganar o eleitor. E qual é essa dicotomia entre ler as palavras  e ler o mundo? Minha impressão é que a política está aumentando a distância entre as palavras que lemos e o mundo em que vivemos. Os discurso são enganadores. As palavras são as armas apontadas em nossa direção, tiros certeiros para a demolição. Também podem ser para-raios, que irão nos proteger das faíscas de fogos  e dos relâmpagos nos dias de trovoadas.

Então, em face de tal cenário, vamos ficar de olhos abertos, ouvidos atentos, mente em alerta para que não sejamos enganados, traídos pelas palavras pronunciadas como planos, projetos, promessas falsas. Tudo isso pode ser reza para um só santo: a conta bancária. O pobre irá continuar a depender do governo, da bolsa família, da bolsa escola, da bolsa verde, bolsa Brasil, bolsa floresta, bolsa gás e tudo que é bolsa furada que leva o país ao caos, ao mundo da esmola. Nós necessitamos de trabalho e vida digna. Esse país é gigante, não pode amesquinhar-se diante de políticos corruptos.

Leonardo Boff (1998) costuma dizer que uma visão de mundo é uma visão de um ponto de vista. Importante que cada pessoa tenho o seu ponto, seu olhar, sua leitura de mundo. E, neste momento político, o mundo pode ser: uma fábula;  uma perversidade; uma realidade. Então, não permitamos a ilusão, a fábula, a perversidade. Vamos caminhar para melhorar a nossa realidade. O Brasil tem jeito. Façamos a leitura correta deste momento. Não venda, não alugue, não desperdice o voto. Ele é individual, a arma do cidadão que ama a pátria.

O dinheiro que compra o voto foi desviado dos cofres públicos, foi roubado. Aquele que compra o voto vai continuar roubando a nação. Então, quem vende o voto rouba duas vezes. E quem deseja ser ladrão?! Deve-se usar o voto como instrumento capaz de mudar o país. O nosso futuro reside aí. Então, é isso que a leitura pode fazer para mudar a vida brasileira.

DICAS DE GRAMÁTICA

Uso de “A CERCA DE”, “HÁ CERCA DE” ou “ACERCA DE”. Vejamos:

1)    A CERCA DE indica distância, como na frase: “Vivo a cerca de 20 quilômetros da cidade”;
2)    HÁ CERCA DE indica tempo aproximado, como no exemplo: “ Eu te conheço há cerca de 30 anos”;
3)    ACERCA DE é o mesmo que A RESPEITO DE. Um exemplo? “No texto falamos acerca de seu voto nesta eleição”.
4)    Ainda temos o uso de CERCA, como cercado. Exemplo: A cerca do vizinho é de arame”.

* Luísa Galvão Lessa – É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras; Professora Visitante Nacional Sênior – Capes.

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