A sala não era das mais esplêndidas como as dos grandes espetáculos, mas nem por isso a grandeza daquele encontro não passou despercebida. Bachianas Brasileiras, de Heitor Villa-Lobos, Brasileirinho e outras composições clássicas deram o tom de encanto ao ambiente.
Sentados nos bancos de madeiras do refeitório do prédio, uma plateia silenciosa e atenta de crianças, adolescentes e adultos com necessidades especiais ouvia silenciosamente aqueles homens e mulheres e seus violinos, violoncelos e clarinetes, integrantes da Orquestra de Câmara do Amazonas.
O projeto ‘Música na Estrada’, produzido pela Kommitment Produções Artísticas, está no Acre para uma série de atividades que vão desde oficinas a apresentações como a que aconteceu ontem à tarde, na sede da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Acre, a Apae, no Conjunto Esperança.
E o que distingue um concerto de alto nível, como os apresentados por eles em grandes teatros, do de uma sala de refeição da Apae? “Praticamente nenhum”, responde o maestro Marcelo de Jesus, após reger uma das quatro estações de Vivaldi “auxiliado” pelo jovem Rogério Fontes da Silva, 21 anos, que se orgulha ser baterista no Centro de Ensino Especial Dr. Arthur Chalub Leite, onde funciona a Apae Acre.
“Isso é completamente diferente e nos proporciona uma energia completa. É algo que nos faz abrir o coração e nos faz sentir mais humanos”, diz Jesus, em tom de gratidão.
Antes de o espetáculo começar, Rogério da Silva dispara: “Eu sempre gostei de música. Aqui eu toco caixinha. Comigo aqui é terê-tei-tei, terê-tei-tei”.
Abre um sorrisão. “Se eu tiver uma oportunidade na apresentação, eu quero ouvir é um sertanejo”.
E completa: “gosto daquela banda que veio pra Expoacre… É aquela que mistura sertanejo com axezinho, o senhor conhece?”
Minutos depois lá estava ele de pé, sorridente, a reger Vivaldi sozinho. O garoto respirou fundo, estendeu o braço direito para os músicos e como se fosse o Zubin Metha acreano se pôs a “trabalhar”.
Rogério arrancou aplausos, sorrisos da plateia e também lágrimas dos olhos da diretora do projeto, Marcia Ximenez.
Para a presidente da Apae no Acre, Cecília Lima, a visita do projeto ‘Música na Estrada’ à unidade “agrega valor ao cuidado e ao carinho” que a instituição tem por essas pessoas.
“É de extrema importância que tenhamos esses tipos de espetáculos, porque se trata de algo muito raro e valioso para nós”, ressalta Lima.
Na ocasião, A GAZETA doou dez livros para a Apae, para que sejam sorteados em um baile beneficente que acontece amanhã, celebrando o término da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência no país. O evento acontece na Associação de Cabos e Sargentos do Exército Brasileiro.
Já os músicos do projeto Música na Estrada se apresentam também amanhã, 30, no Teatro Plácido de Castro, às 19 horas. A entrada é gratuita. (Foto: Assessoria APAE)