X

Pobres macacos!

Faz tempo que as mentes mais privilegiadas, do tipo quociente de inteligência um pouco acima de imbecil, estão inculcadas com a discriminação e o preconceito que os homens ou a raça humana possuem dos macacos. Mesmo os que crêem na tese do evolucionismo por seleção natural de Charles Darwin (1809-1882) afirmando que o homem se aplicaria a essa teoria, sendo descendente de primatas que deram origem comum a homem e macacos, vivem a tirar sarro de forma pejorativa do seu próximo, especialmente se o próximo é de cor Negra, fazendo uso dessa relação.

Antonio Virgulino (1898-1938) vulgo Lampião apelidava a polícia nordestina de “macacos da volante”.  Menino danado, que subia com rapidez em árvores frutuosas, era chamado de “macaco prego”. No caso de ser um guri esperto ou tinhoso, daquele que arriava, dos colegas de rua, o calção feito de pano de saco preso com elástico, era tratado de macaco barrigudo “imoral.” Os políticos, da minha época de menino, astutos, manhosos e experientes, se arrogavam de “macacos velhos.” Daí, a máxima: fulano é macaco velho!

A sapiência do sujeito pensante, de forma criativa, deu ao maquinismo, provido de manivela para levantar peso, o nome de macaco. No atual mundo urbano, em que as grandes cidades estão permeadas de veículos, essa ferramenta chamada macaco, é indispensável. Sem ele não se trocam os pneus e os veículos não passam na blitz. O acessório macaco é indispensável.

Agora, quando o assunto é comparar o homem ao macaco, com intenção racista, o macaco é disparado o animal mais discriminado. Nada e nenhum outro animal, ou inseto ofende mais ao homem, notadamente o homem negro, quando cotejado com o macaco.  Exemplo crasso é o do goleiro do Santos. Ele atende pelo pseudônimo de Aranha. Este inseto se alimenta de outros insetos, é asqueroso para muita gente. Contudo, como apelido não ofende. O mundialmente conhecido goleiro Yashin, da antiga União Soviética, bem como o Clóvis do Rio Negro de Manaus, nos anos 60, era chamado de “aranha negra”. Então, Aranha pode!  Pode de igual modo: Pato, Ganso, Formiga e outros bichos.

O macaco, quando se trata de discriminação, perde para o porco; porco é sinônimo de imundo, imundície, sujidade e outras porcarias. Todavia, o Palmeiras, antigo Palestra Itália, tem no porco seu símbolo maior. É o famoso porcão. A torcida grita: pooorco, pooorco, pooorco. No “verdão” qualquer jogador pode ser chamado de porco; macaco, não!

O macaco perde até para o urubu. A torcida do Flamengo é conhecida pela alcunha de urubuzada. O centro de treinamento do Fla é o “ninho do urubu”. Urubus são aves da cabeça pelada, que se alimentam de carnes em decomposição, ou apodrecida. Então, pode alcunhar qualquer jogador do rubro-negro carioca de urubu, que não acontece nada. No entanto, se chamar de macaco o mundo cai. Urubu pode. Macaco, não! Pobres macacos!!

O macaco, também perde feio para Gabiru. Lembra do jogador Adriano que fez o gol da vitória do Internacional, na final do torneio mundial de clubes em 2006?  Pois é, o codinome dele é Gabiru, um rato grande, ou rato de paiol. Na chegada à Porto alegre, a torcida colorada gritava ovacionando o jogador: É GABIRU! É GABIRU!!

Não faço aqui, uma apologia de atitudes invasivas e de preconceitos extremados contra indivíduos de diferente raça ou etnia. Contudo, não encontro razoabilidade nesta questão de racismo envolvendo homens e macacos. Por que só o macaco?

Nos estádios de futebol (abro parêntese para dizer que quando se trata de jogo de futebol, o palco é estádio, arena é para outra coisa, p.ex. lutas entre gladiadores, carnificina entre animais e seres humanos). Nesses estádios de futebol, nos dias atuais, podem-se achincalhar jogadores, treinadores, árbitros e autoridades constituídas, de tudo quanto é palavrão, como foi o caso da presidente Dilma na abertura da Copa, em São Paulo. Alguns deploraram o achincalho, outros não. Mas, o mundo não desabou. É da democracia, disse a senhora presidente. Agora, se evocar o nome macaco, o bicho pega!

O Cesar, aquele da ficção planetas dos macacos, a origem, quer saber: Qual é precisamente o problema do homem com o macaco?  Está é uma pergunta que, por séculos, paira sobre o reino animal.

Pessoalmente, creio que toda criação se deu como está nas Escrituras Sagradas. Agostinho, Pascal e outros destacados pensadores da história, acreditavam também dessa forma. Contudo, vamos admitir, hipoteticamente, que a ciência entre aqui e os próximos 200 anos consiga provar que o homem e o macaco sejam parentes. Que as mutações genéticas podem ser transmitidas hereditariamente, dando origem a novas espécies. E, aí?  Como é que fica essa injustiça secular contra o macaco?

*Pesquisador  Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br

Categories: Francisco Assis
A Gazeta do Acre: