
A 30ª edição do Arraial do Sesc tinha tudo para terminar como começou: com dança, comidas típicas e alegria da quadrilha campeã. Mas, o que se viu na noite do último domingo, 31, foi pancadaria e intolerância que teve início com um ato de preconceito com um dos brincantes da quadrilha Malucos da Roça.
De acordo com o presidente da Liga das Quadrilhas Juninas do Acre (Liquajac), Cimar dos Santos, o clima ficou tenso quando um travesti, Francisco de Assis da Silva, conhecido como Iasmin foi impedido de utilizar o banheiro feminino. Revoltados com o preconceito ao colega, todos os integrantes da quadrilha se apresentaram sem camisa, vestindo apenas um colete.
“Trataram a integrante como homem, então ela se sentiu no direito de participar do protesto e o colete não cobriu os seios. Então, uma pessoa incomodada subiu no palco e desligou o som. Uma discussão teve início. Em seguida alguns policiais militares interviram de maneira agressiva e sem necessidade”, explicou o presidente, que afirmou ter sido agredido pelos policiais.
Os vídeos que circulam nas redes sociais sobre o ocorrido, mostram o travesti sendo arrastado pelo pescoço. “O travesti afirmava que iria à delegacia para prestar queixa de preconceito sobre a proibição de entrar no banheiro feminino, mas os policiais insistiram em levá-lo detido”, lembrou Cimar.
Outro integrante da quadrilha, Romário Monteiro Feitosa, também foi preso por desobediência. Os dois foram encaminhados à Delegacia de Flagrantes (Defla) para os devidos procedimentos e horas depois foram liberados.
“Questionamos sim a abordagem exagerada dos militares que estavam no local. Além disso, não concordamos com a conduta do funcionário que não permitiu o acesso ao banheiro feminino”, destaca o Cimar.
De acordo com o presidente, uma reunião irá definir as sanções que a quadrilha poderá sofrer após o incidente. Sobre o risco de perderem o título, Cimar foi cauteloso. “Não posso falar, porque faço parte de uma comissão que é composta por outras pessoas, inclusive, representantes do próprio Sesc, mas, posso dizer que ainda nesta semana a decisão será tomada”, concluiu.
Cimar confirma que esse foi o primeiro episódio envolvendo preconceito no meio das quadrilhas. “Uma boa parte dos brincantes de quadrilhas juninas são LGBT. Cada um deles enfrenta o preconceito diariamente, mas isso nunca tinha ocorrido durante as apresentações. Trabalhamos duro para que isso não acontecesse”, lamentou.
PM afirma que não houve truculência na ação

No final da manhã desta segunda-feira, 1º, o Comando Geral da Policia Militar comentou o caso e segundo o subcomandante, coronel Mário Cesar, não houve truculência na ação policial, além disso, um dos policiais chegou a ser ferido. O PM Edinaldo Queiros de Souza, 31 anos, sofreu uma luxação na mão direita ao tentar conter a confusão.
O comando mostrou no pátio a viatura danificada pelos integrantes da quadrilha. “Segundo me foi repassado, os integrantes registraram boletins de ocorrência contra os policiais militares. A Associa-ção dos Militares irá ingressar com ações contra essas pessoas que, no nosso entendimento, estão fazendo denunciação caluniosa”, disse o comandante.
Direção do Sesc
Segundo a diretora do Serviço Social de Comércio do Acre (Sesc-Ac), Débora Dantas, apesar da confusão, o arraial teve o balanço positivo.
“Estamos contentes com os resultados. Até o momento da confusão, o arraial estava sendo bem tranquilo e organizado. Não entendemos o motivo da briga, já que não era a primeira vez que eles se apresentavam lá”, explica a diretora.
Comunidade LGBT se posiciona
O presidente licenciado da Associação dos Homossexuais do Acre (AHAC), Germano Marino, utilizou as redes sociais para criticar a ação da Polícia Militar no caso. “Eles agiram com violência, batendo sem pena e nem dó, espancando uma travesti, por puro preconceito, homofobia, brincante de quadrilha junina e outros que tentaram intervir. Foi tudo filmado”, disse.
Germano apela para que as autoridades possam solucionar o caso. “Queremos uma polícia cidadã e inclusiva para que os policiais militares e civis possam de fato respeitar as cidadãs mulheres travestis e transexuais do Estado do Acre”, frisou.
(Fotos: Reprodução/ Cedida)