Em continuidade à rodada de entrevista com os candidatos ao Governo do Estado, o jornal A GAZETA entrevistou nesta semana o candidato pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol), Antônio Rocha. Rocha explanou as metas de seu plano de governo quanto à Saúde, Educação, Infraestrutura e Segurança Pública.
Em relação ao desenvolvimento do Estado, o candidato afirma que o ideal é trabalhar as peculiaridades do desenvolvimento econômico dentro da cidade. Ele afirma que “existe uma falta de compreensão dos governantes de valorização do potencial local. Precisamos valorizar as nossas próprias peculiaridades regionais”.
Quanto à industrialização do Acre, o candidato acredita e apoia um Estado industrializado, mas, não como forma de contribuir para superávits primários. “Levamos muito em consideração o que gera a parte de alimentação do Estado. Não vemos a indústria como aqueles empreendimentos como forma de contribuir com os superávits primários até porque a indústria no Acre deve ser voltada para o desenvolvimento regional”. Confira a entrevista.
A GAZETA – O senhor afirma que há um grande descrédito de parte da população com a política. Ao quê o senhor atribui isso?
Antônio Rocha – As pessoas estão enojadas com a política e com razão. Este descrédito é fruto da forma como os políticos atualmente fazem política. Quem aparece na mídia hoje em dia são os grandes partidos. Enxergamos várias falcatruas, promessas não cumpridas, diversos escândalos. Não tem como não desacreditar. O ponto negativo disso tudo é que acaba sobrando até para quem pratica a boa política, a política ideológica. É lamentável que às vezes, nós, que fazemos a boa política, sejamos igualados aos partidos tradicionais que fazem da política um verdadeiro balcão de negócios e esquecem-se de fazer política com virtude. Porém, também afirmo que é a própria população que tem a forma de mudar a realidade. A população precisa participar dessa mudança. Eles precisam tomar os espaços do poder ao qual lhes cabe.
A GAZETA – O senhor fala muito sobre a velha política, como mudar essa realidade?
Antônio Rocha – Primeiro, é preciso ter mandato para mostrar, na prática, que é possível fazer política de uma forma diferente. Outra forma é o processo pedagógico, educativo. Política não pode ser apenas um processo eleitoral; precisamos envolver a sociedade nas discussões políticas. A política enquanto arte, enquanto virtude é uma das coisas mais belas que já surgiu. Temos que fazer com que as pessoas participem mais da política. Se não houver a participação não conseguiremos mudar essa velha política.
A GAZETA – O senhor diz que a política tem se transformado em um balcão de negócios. Por quê?
Antônio Rocha – Sem sombra de dúvida a política se transformou em um balcão de negócios. É só prestar atenção nas várias áreas de abordagem que os políticos fazem. Criam-se os blocos políticos e eles já rateiam o Estado antes mesmo de chegar ao poder. Colocam pessoas para assumir secretarias que não tem noção nenhuma de algumas pastas. Essas ações acabam prejudicando a montagem de uma equipe com capacidade de planejamento para atender as demandas em virtude de um acordo político. Isso é muito nefasto, porque a população fica esquecida.
A GAZETA – Segundo dados do Ipea, o Acre é um dos estados mais endividados do país. Levando em consideração essa informação, como o senhor pretende governar o Acre?
Antônio Rocha – Sabemos que o Acre está covardemente endividado, porém, precisamos saber qual o valor real dessa dívida. Será que realmente adquirimos dívidas tão altas como normalmente se afirmam por aí? Acho que o mais correto é confirmar os valores e depois montar estratégias para sanar com os problemas. Não estou falando em dar calote em ninguém, mas também não seremos caloteados pelos bancos. Uma das minhas primeiras atitudes será fazer uma auditoria, especialmente em relação à dívida. Nós primamos pela participação direta da sociedade, a transparência real através da divulgação das informações e o respeito para com as pessoas.
A GAZETA – De que forma o senhor pretende investir para que o Estado se desenvolva economicamente?
Antônio Rocha – Existe uma abordagem que os governos não fazem porque costumam copiar o desenvolvimentismo de outros estados e isso é um grande erro. O Acre, a região amazônica, de forma geral, ela tem o seu próprio potencial econômico. Temos que trabalhar com as peculiaridades a parte do desenvolvimento econômico dentro da cidade. Do ponto de vista econômico, pretendo ir a todos os bairros da Capital e dos municípios para detectar, através de diagnósticos, possibilidades econômicas. Existe uma falta de compreensão dos governantes de valorização do potencial local. Precisamos valorizar as nossas próprias peculiaridades regionais.
A GAZETA – Quanto a industrializar o Estado?
Antônio Rocha – Temos projeto, porém, na questão da indústria levamos muito em consideração o que gera a parte de alimentação do Estado. Não vemos a indústria como aqueles empreendimentos como forma de contribuir com os superávits primários, até porque a indústria no Acre deve ser voltada para o desenvolvimento regional. Não podemos copiar as coisas lá de fora, pois não dá certo. É dessa forma que iremos trabalhar essa questão de industrialização do Estado, tudo dentro das capacidades e limites do Acre voltado também para a própria natureza.
A GAZETA – Como seu governo pretende abordar a Segurança Pública?
Antônio Rocha – É um ledo engano achar que a Segurança Pública se restringe à área repressiva. Isso não acaba com a insegurança da população. É necessário trabalhar a Segurança Pública a partir de um conjunto de ações integradas com outras políticas. Minha ideia é criar um sistema integrado para melhorar essa área em nosso Estado. Trabalhar essas várias áreas da política pública, desde a Educação à própria Segurança, comunidades, igrejas e aproveitar para juntos criarmos mecanismos eficazes, além de melhorar a parte estrutural das polícias. Acho necessário também retomar com as polícias comunitárias.
A GAZETA – Se eleito governador, o senhor lidará com altos índices de desemprego. Como pretende lidar com isto?
Antônio Rocha – Este é um problema gravíssimo. Existe uma falta de respeito da atual administração por não primar por concurso público, não apoiar o empreendedorismo e exceder lotação de cargos com indicações políticas. Pretendemos enxugar isto, tirando o excesso de cargos de confiança e realizar concursos. Uma política de geração de emprego e renda também passa pelo campo e cuidaremos disso. Temos projetos para estas áreas.
A GAZETA – Um dos principais problemas no Estado diz respeito à saúde. Quais são as metas do seu plano de governo para esta área tão delicada?
Antônio Rocha – A saúde tem que ser vista de uma forma sistêmica. Não é apenas a presença de um médico que resolve. Precisamos resolver a questão estrutural e isto também passa pela valorização dos servidores. Precisamos cuidar para que o cidadão seja atendido em todos os períodos do atendimento médico. A ideia é trabalhar a saúde de forma integrada, fortalecendo o Sistema Único de Saúde.
A GAZETA – Para a área de educação, quais são suas propostas?
Antônio Rocha – Trabalharemos através de duas matrizes: a primeira, valorizando nossos servidores, autonomia dos professores. E do ponto de vista técnico, criaremos uma grande frente de qualificação técnica que atenda às necessidades locais. O foco principal é criar cidadãos conscientes.
A GAZETA – Qual avaliação que o senhor faz do atual governo?
Antônio Rocha – O atual governo está muito desgastado. Com todo respeito que tenho, sou obrigado a dizer que eles se desgastaram. Este desgaste sempre acontece quando alguém tenta se perpetuar no poder. Não vejo nenhum avanço deste governo. Não tem nada que não tenha sido deixado por outro governo. O que existe é uma administração da folha de pagamento.
A GAZETA – Faça suas considerações finais, candidato.
Antônio Rocha – Quando decidi entrar nesse processo eleitoral sabia das dificuldades que provavelmente poderia ter, porém, a mudança de mudar falou mais alto. Sei que os votos que terei são daquelas pessoas que realmente acreditam que podemos fazer o diferencial. Primeiramente, quero agradecer esta oportunidade. São tão raras estas oportunidades de colocar nossas propostas e nos fazer ouvir. E segundo, gostaria de pedir para o eleitor analisar o atual cenário político e optar por mudança. Precisamos mudar essa forma de fazer política e isso só vai acontecer se o eleitor votar diferente. Espero que as reivindicações do ano passado tenham uma resposta nas urnas. O meu desejo é que a juventude queira fazer parte desse processo, que o cidadão em geral queira a mudança que tanto o nosso Estado precisa.