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2015: apenas esperança!

Com a chegada do novo ano, a palavra de ordem da grande mídia, notadamente dos meios de comunicação alimentados pela verba pública, é superação. Aventar o futuro. As derrotas ficam para trás. Este é um ano para esquecer. Esse negócio de sisudez ou austeridade é com o Papa Francisco. Enfim, vamos todos zerar os ponteiros e “começar tudo de novo”.

Entendo que a coisa não é bem desse jeito. Temos questões pontuais a serem comemoradas, mas é pouco diante do volume de derrotas perpetradas contra a terra madre. Clichê é pouco. Talvez, clichês mil vezes repisados nos dessem uma pálida amostra dessa realidade.

Contudo, vamos fazer de conta que finalmente encontramos o Avatar da felicidade e que tudo vai bem, e coisa e lousa!

O problema é como ir além num país em que, no ocaso do ano velho, o governo permite medidas cerceadoras contra a economia nacional, permitindo a majoração de produtos básicos e, por extensão, da gasolina e seus derivados, transmitindo impaciência e inquietação.

Como pedir superação, por exemplo, das classes representativas da educação, do judiciário, das polícias federais, do servidor público em geral? Do pai de família, profissional honesto, que não encontra condições de sustentar sua família com seu pequeno salário e ainda vê seus filhos sendo empurrados na direção das praças e ruas em busca de sobrevivência?

Essa superação, subentendo, passa por crer nas utopias, enquanto aspirações possíveis. Significa dizer que é preciso pôr ações nos nossos sonhos, uma vez que os sonhos não se sobrepõem à realidade. A realidade é dura, cruel e sangra nas suas múltiplas facetas. A situação atual, independente das utopias do futuro, é sacrificante e exige da gente a capacidade de perseverar face às dificuldades, ou até mesmo sofrer tudo sem perder o ânimo. Exercitar com tenacidade, própria de cidadão sofrido, muitíssimo provado por meios de perdas, sofrimentos e outros males existenciais.

Num contexto social em que o povo está com os nervos à flor da pele, tendo a ansiedade como seu grande algoz, só superação não assegura aos nossos corações que dias melhores irão surgir. Nem o sentimento de total expectativa pode nos fazer superar, num passe de mágica, os apertos cotidianos. Num país em que 10% da população detém 43% de toda renda nacional, é miragem pedir forças redobradas para uma gente que já paga um alto preço para viver em sociedade.  É demais!

Numa sociedade de velocidade instantânea, todos querem solução imediata para os aperreios opressores; quando esta providência não chega, somos consumidos pelo desespero. Nesse caso, aquela clássica afirmação do profeta Isaias: …“os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fadigam”. É simplesmente jogado na lata de lixo. Afinal, não cremos mais em milagres, notadamente quando o assunto é milagre econômico brasileiro.

Enquanto o milagre não vem, pois os milagres não são determinados por nós, os sinais estão no campo da metafísica, precisamos exercitar a nossa alma a esperar “mais do que os guardas (noturnos) pelo romper da manhã”. Esperar e torcer, nem que seja por segundos, pela chegada do recorrente surgimento de modelos, mesmo utópicos, de convívio social. Que a distância entre o sonho de uma sociedade ideal, e sua ilusória concretização, diminua.

Todavia, à luz da fé cristã, uma vez que a nação brasileira se diz, em sua maioria, evangélica e católica, por ser a esperança um ato de aguardar um bem que se deseja e, também, uma extensão da fé “Ora, a fé é a certeza daquilo que se espera” “A esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera?” diz- nos o texto Sagrado.

Mesmo num mundo contemporâneo que parece desconhecer as dimensões da esperança. Talvez porque esperar demanda tempo. Tempo requer paciência, uma virtude rejeitada pela geração da comida rápida, do controle remoto e dos carros velozes e vorazes. Mesmo decepcionados com os fatos brutais, estado de coisas, onde poucos sobrevivem dignamente. A esperança, como bálsamo, cabe bem neste momento de desesperança!

Temos que ter fé e esperança no Criador, bem como nos poderes constituídos e caminhar com coragem e calma até o fim do ano. Visto que, em 2015, temos apenas esperança de melhores dias, pois só Deus sabe o que ainda virá, quer  no campo da fome e das doenças endêmicas que sorrateiras continuam agoniar os países ditos de terceiro mundo; quer na violência urbana com suas assombrosas consequências.

*Pesquisador  Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br

Categories: Francisco Assis
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