Este artigo não traz receita, mas uma reflexão sobre sentimentos, atitudes, auto-estima, respeito ao próximo, qualidade no ambiente de trabalho, lugar onde as pessoas passam a maior parte de suas vidas. Nesse espaço, algo precisa ser feito, trabalhado, melhorado. A intolerância, o desrespeito, o pouco caso nas relações interpessoais não deve ser permitido. Afinal, a humanidade deve caminhar para o aperfeiçoamento e não para o caos.
Nesse sentido, não é admissível se chegar a um local, uma empresa, uma indústria, uma repartição pública, e encontrar alguém de cara feia, de má vontade, que não responde a um simples e cordial bom dia. Afinal, o que faz uma pessoa assim num ambiente de serviço? Ainda mais num espaço público e educacional?!
Porém, entre tantas firulas existentes no serviço público, aquela que mais me choca e envergonha é entrar num lugar cujo lema é Educação e ali ouvir pessoas falando de outras, dos chefes, dos colegas, sem o mínimo pudor, respeito, ética. Por isso entendo ser urgente encontrar um novo estilo de administração, voltado para o trabalho em equipe e o desenvolvimento das potencialidades humanas, acabando, de vez, com feudos e grupos parasitários que se apossam de bens e serviços públicos como se fossem coisas pessoais. Gente que age dessa forma deveria ser penalizada, perder o emprego, ir para uma clínica, hospício etc. O serviço público, como o nome diz, existe para servir o público e servir bem, sem cara feia.
E qual solução se tem para este quadro lastimável? É urgente que ele seja melhorado. E, para tanto, devem-se analisar alguns aspectos do ser humano, como por exemplo, a personalidade dos indivíduos; as habilidades sociais e técnicas; as atitudes; os processos de comunicação, percepção, feedback, entre outros. São aspectos fundamentais ao sucesso do serviço público.
Entendo que a base para a melhoria das relações interpessoais é a compreensão de que cada pessoa tem uma personalidade própria, que precisa ser respeitada. Cada ser humano traz consigo necessidades sociais, materiais e psicológicas, que precisam ser satisfeitas, pois elas influenciam o seu comportamento e, consequentemente, os resultados na produção das tarefas executadas. Mas há pessoas que precisam ser tratadas com psicólogos, psiquiatras, analistas. Há gente que não gosta de si mesma, então, como vai gostar dos outros e tratá-los bem?
Por isso tudo entendo que as relações interpessoais atuam como uma disposição interior, uma aceitação do outro, que transparece no modo de falar, de olhar, na conduta com o outro e, sobretudo, na forma de agir educadamente. Assim, os líderes, os chefes de setores, os governantes, administradores, precisam conhecer aqueles que os cercam e desenvolver a coragem de intervir com sinceridade, firmeza, clareza, determinação, no sentido de coibir abusos, incentivar boas condutas, que cada pessoa faça a aquilo que lhe compete, da melhor forma possível. Trabalhar não é um favor que se faz a alguém, é uma obrigação, um dever social, cívico de cada pessoa.
O psicólogo e educador francês Pierre Weil (1971), estudioso das relações interpessoais, propõe dez mandamentos a serem observados pelos membros de um grupo: 1º) Respeitar o próximo como ser humano; 2º) Evitar cortar a palavra a quem fala, esperar sua vez; 3º) Controlar as suas reações agressivas, evitando ser indelicado ou irônico; 4º) Evitar o “pular” por cima de seu chefe imediato, quando o fizer dar explicação; 5º) Procurar conhecer melhor os membros de seu grupo, a fim de compreendê-los; 6º) Evitar o tomar a responsabilidade atribuída a outro, a não ser a pedido deste ou em caso de emergência; 7º) Procurar a causa das suas antipatias a fim de vencê-las; 8º) Estar sempre sorridente; 9º) Procurar definir bem o sentido das palavras no caso de discussões em grupo, para evitar mal entendido; 10º) Ser modesto nas discussões, pensar que talvez o outro tenha razão e, senão, procurar compreender-lhe as razões.
As sugestões aqui postas, se colocadas em prática, podem mudar o quadro das relações interpessoais tanto no setor de trabalho quanto no seio de uma família. A questão da comunicação entre as pessoas é hoje um aspecto que ganha destaque por sua relevância na qualidade de vida. Não raras vezes, assistimos, assustados, episódios nos telejornais, expondo situações corriqueiras, próprias do cotidiano, que terminam em ações violentas, chegando, por vezes, às ultimas conseqüências. Do mesmo modo assistimos conflitos que envolvem até os órgãos responsáveis, eles próprios, pela segurança das pessoas.
Todos esses sintomas vão delineando um formato social preocupante, onde o imediatismo, a intolerância com a dificuldade, seja em que grau for, vai assumindo a tonalidade predominante nas relações pessoais. Nos setores onde houver necessidade, estas são algumas sugestões que podem ser observadas, analisadas e aplicadas dentro das organizações, repartições públicas, enfim, entidades governamentais ou não governamentais. É preciso trabalhar com qualidade, atender com qualidade e viver com qualidade.
Então, se desejarmos uma sociedade diferente, teremos que mudar as pessoas, a maneira de pensar e sentir, para que se possa alterar a conduta, já que são essas maneiras de ser que determinam o comportamento do ser humano. Relacionar-se é dar e receber ao mesmo tempo, ou seja, é estar aberto para o novo. É a capacidade de escolher, de desenvolver uma visão para si mesmo, reescrevendo a vida, iniciando um novo hábito ou abandonando um antigo em prol da felicidade. E a felicidade é democrática, todos têm o direito a ela.
DICAS DE GRAMATICA
POSSO DIZER: “ENTRAR DENTRO”?
– NÃO! NUNCA! Também não diga: Sair fora ou para fora; elo de ligação; monopólio exclusivo, já não há mais; ganhar grátis;viúva do falecido.
VENDEU “UMA” GRAMA DE OURO?
– Não! Grama, peso, é palavra masculina: um grama de ouro, vitamina C de dois gramas.
Agora é possível dizer: a grama do jardim cresceu; comprei uma bonita grama para o jardim.
A grama é relva; O grama é peso.
* Luísa Galvão Lessa Karlberg IWA– É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Mestra em Língua Portuguesa pela Universidade Federal Fluminense – UFF; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras; Membro perene da International Writers end Artists Association – IWA; Coordenadora da Pós-Graduação em Língua Portuguesa – Campus Floresta; Pesquisadora DCR do CNPq.