O preconceito bom é aquele que alavanca o conhecimento. Aprendi isso na faculdade. E é isso que o “pré-conceito” é: julgarmos algo sem termos um conhecimento prévio. É impressionante que, por mais que acreditemos piamente que não temos preconceito com nada, sempre há algo que estereotipamos em nossas mentes. No meu caso, foram as judias ortodoxas. Fiz um trabalho com pesquisa de campo sobre o papel delas em sua religião, a mais rígida e conservadora entidade do judaísmo. Essas mulheres, por exemplo, devem estar vestidas sempre recatadamente, sem mostrar clavícula, cotovelos ou joelhos. Se forem casadas, o cabelo também deve ser escondido, com peruca ou lenço. Mulheres não podem usar a kipá (o chapéu judeu) e não podem tornar-se rabinas em sua religião. Sentam-se separadas dos homens nas sinagogas assim como no colégio judeu ortodoxo, alguns até são apenas para meninas ou para meninos. Com essas informações, pensamos em quão inferiorizadas elas são. Mas, acreditem, é o contrário.
Ao longo da Torá, é impressionante o papel da mulher para a proliferação de sua religião. São elas quem mantém essa chama do judaísmo acesa. Mesmo quando seus homens foram escravizados pelos egípcios, elas continuaram fazendo-os acreditar em sua liberdade. Inclusive, o fato de elas não participarem dessas mitsvots, como o uso da kipá e da talit, tem como justificativa o fato de não precisarem. A razão de os homens o fazerem é para sempre se lembrarem de que há um Deus acima deles. A mulher não precisa, pois se acredita que a presença de Deus é constante em seu projeto de espírito. Essas mulheres cuidam de sua família constantemente. Apesar de não poderem se tornar rabinas, são as rabinas em seu lar. É elas quem manda, quem decide, quem determina. Tudo deve ser preparado por ela. E, acredite ou não, muitas vezes são essas mulheres que trabalham fora de casa, e não os maridos. São ortopedistas, arquitetas, empresárias. Enquanto seus maridos estudam em casa para se tornarem rabinos.
O que quero dizer é que olhamos para essas mulheres e as julgamos inferiorizadas pelo modo recatado de vestir, de agir, sem saber que são pessoas muito inteligentes, sábias, e com muitos papéis importantes em sua religião. São elas quem determinam a cultura de seus filhos – se a mãe é judia, o filho é judeu. Se a mãe não é judia, o filho não é judeu. São elas que acendem as velas do Shabat, para honrar o dia em que Deus descansou. Apesar de ter um conhecimento bem limitado do assunto, foi o bastante para perceber que o ju-daísmo prioriza e respeita a mulher muito mais que outras religiões. Inclusive o cristianismo.
* Isabela Gadelha é estagiária de jornalismo do jornal A GAZETA
E-mail: isabbelagadelha@gmail.com