Ícone do site Jornal A Gazeta do Acre

Tragédias e frustração no futebol e eleições acirradas marcaram o 2014 dos acreanos

Retratado por Caetano Veloso como o ‘compositor dos destinos e o tambor de todos os ritmos’, o tempo, essa incrível dimensão que à medida que avança em direção ao futuro se transforma em presente, e logo, em passado, é realmente o senhor de todos os meandros.

Avizinha-se um novo ano: 2015 bate à porta, e para tentar delineá-lo, é preciso olhar para trás, reavaliando 2014. Foi um ano difícil paras os administradores públicos, com enchentes, mas de fortes emoções também, com as expectativas da Copa do Mundo e de um acreano ser o vencedor do Prêmio Puskas 2014, da Fifa, com o gol mais bonito do mundo.

Nas estradas, muitas tragédias. E pela primeira vez, quase tivemos uma acreana presidente da República. O Estado se viu novamente com a pecha de longínquo, quando o país se curvou diante de nós, durante a apuração das eleições, por causa da diferença de horário que fez com que todos os demais estados esperassem até que as urnas fossem contabilizadas aqui. Relembremos então de alguns dos fatos mais marcantes de nossa história local.

O Rio Acre transbordou 3 vezes, entre janeiro a março        deste ano, deixando mais de 2 mil pessoas desabrigadas
O Rio Acre transbordou 3 vezes, entre janeiro a março deste ano, deixando mais de 2 mil pessoas desabrigadas

O ano das águas
A maior enchente dos últimos 100 anos em Rondônia impactou severamente a ligação via terrestre do Acre com o restante do país.

No dia 23 de março, depois de atingir 19,49m e desabrigar ao menos 12,5 mil pessoas, o Rio Madeira continuava a subir, o que mobilizou uma força-tarefa do Governo Federal e dos governos do Acre e de Rondônia para evitar o desabastecimento, sobretudo, de alimentos e combustíveis na região.  Até então, o maior nível das águas já registrado era de 17,50m, no dia 8 de abril de 1997.

A BR-364 foi fechada em Rondônia, por não apresentar condições de tráfego, com consequências diretas ao Acre. Em busca de gasolina, motoristas madrugaram nos postos de combustíveis de Rio Branco. Pelos quatro cantos da cidade, histórias de gente que conseguiu abastecer o carro nas primeiras horas da madrugada, de que dormiram nas filas e de pessoas empurrando seus veículos por falta gasolina.

Diante do desespero geral em encontrar um posto com o produto, as redes sociais traçavam mapas para auxiliar os motoristas. Uma rota fluvial alternativa, via Amazonas, foi traçada com a improvisação de um atracadouro em Porto Acre (a 90 quilômetros de Rio Branco).

Paralelo a isso, no Acre, as inundações deixaram 2,1 mil pessoas desabrigadas em Rio Branco. Moradores de dez bairros da Capital sofrem com a enchente. De janeiro a março, o Rio Acre transborda por três vezes.

A enchente em Rondônia faz o Governo do Acre decretar estado de calamidade pública. “Estamos fazendo um esforço de guerra”, disse o governador Tião Viana (PT), em programa de TV. Na ocasião, Tião Viana anuncia que 13 máquinas estavam na estrada, onde a inundação do Madeira mais prejudicava a trafegabilidade de caminhões, para auxiliá-los a viajar no alagado.

Quatro aeronaves faziam o transporte de produtos para abastecer os atacadistas e distribuidores, com objetivo de garantir os alimentos básicos perecíveis e não perecíveis.

Aviões da FAB chegam a Rio Branco com medicamentos, para abastecer unidades de saúde, e a ameaça da falta de gás de cozinha é superada com a chegada de uma balsa que garantiria a estabilidade do produto até maio. O prejuízo das empresas com mudança de logística, para não prejudicar a população, chega a R$ 14 milhões.

O senador Jorge Viana (PT) anuncia o início das obras da ponte sobre o Rio Madeira. Os serviços nas obras avançam ao longo de todo o segundo semestre.

No município de Tarauacá (a 412 quilômetros da Capital), a enchente do Rio Tarauacá atinge 17,5 mil pessoas, direta ou indiretamente, 525 pessoas ficam desalojadas. No Bairro da Praia, casas são tragadas pelas águas e desmanchadas como um novelo de lã. É a maior enchente da história da cidade em 101 anos.

(Foto: ODAIR LEAL/AGAZETA)

Copa do Mundo

Seleção Brasileira foi humilhada no mundial
Seleção Brasileira foi humilhada no mundial

O placar indigesto de 7 a 1, sofrido pelo Brasil contra a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo no Brasil, foi lamentado também pelos acreanos. Pelos quatro cantos de Rio Branco, o clima era de desolação entre os torcedores que viram o sonho do hexacampeonato se esvair do país, após uma partida pífia e apática.

De alento, restou Gessé. O frentista demitido após marcar um dos mais lindos gols da história do futebol mundial concorria ao Prêmio Puskas, da Fifa, uma espécie de Nobel do esporte, por ter feito um golaço numa partida do campeonato estadual.

O feito virou samba: “Gessé fez o gol que Pelé não fez”. Embora tenha ganhado o apoio de nomes de peso no futebol nacional e mundial, entre eles Ronaldo, o “Fenômeno”, Falcão, do futsal, Muricy Ramalho e Sheik, o atleta acreano não foi incluído na lista dos dez concorrentes.

(Foto: DIVULGAÇÃO)

Eleições 2014

Tião Viana derrotou Bittar na disputa ao governo; e Dilma se reelegeu presidente
Tião Viana derrotou Bittar na disputa ao governo; e Dilma se reelegeu presidente

O acirramento marcou as Eleições de 2014, com os candidatos majoritários disputando de igual para igual cada voto nas urnas. No Acre, o governador eleito Tião Viana (PT) e o candidato Marcio Bittar (PSDB) disputaram o segundo turno das eleições, no dia 26 de outubro.

No primeiro turno, com 99,63% das urnas apuradas, Tião Viana já obtinha 49,75% dos votos válidos e Bittar, 30,1%. Mesmo com mais de 98% das urnas apuradas, ainda não era possível saber se o candidato do PT venceria ou não a disputa em primeiro turno.

Já no segundo turno, Tião Viana era reeleito com  51,3% dos votos válidos, contra 48,7% de Bittar. O resultado nas urnas mantém o PT à frente do Estado por mais quatro anos.

Ainda no primeiro turno, com 92,42% das urnas apuradas, o candidato Gladson Cameli (PP) vencia matematicamente a disputa para o Senado, com 58,04% dos votos válidos. Perpétua Almeida (PCdoB) ficou em segundo lugar, com 36,86% dos votos válidos.

(Fotos: Divulgação)

Marina e o sonho da Presidência
Um acidente de avião quase causou uma mudança de curso na história presidencial mais recente do país: a chance real, pela primeira vez, de um acreano ascender à rampa do Palácio do Planalto, em Brasília.

Com a morte do presidenciável Eduardo Campos (PSB), então governador da Paraíba, a ex-senadora acreana Marina Silva, então candidata a vice de Campos, é escolhida pelo partido a seguir a trajetória interrompida bruscamente pela tragédia que o matou em Santos (SP).

De cientistas políticos a jornalistas especializados, o coro era um só: a candidatura de Marina assustaria quem já achava fácil disputar o segundo turno com Dilma Rousseff (PT).

Em pesquisas eleitorais anteriores para presidente, a ex-senadora dava amostras disso, ao atingir 27% das intenções de voto.  E também por, em 2010, obter 20 milhões de votos.

Não deu. O sonho dos 167.082 eleitores no Acre, que votaram nela se esvaiu pouco depois das 18 horas do dia 5 de outubro, antes mesmo do término das contagens de voto, fulminado pela ascensão meteórica do candidato do PSDB, Aécio Neves, às vésperas do dia das eleições.

Aqui no Acre, a maioria do eleitorado correspondeu. Foram 42,02% dos votos válidos contra 29,05% do candidato tucano (115.500 votos) e 27,98% (o equivalente a 111.241 votos) de Dilma Rousseff (PT).

E a Marina que apareceu nos flashes do Fantástico, da Rede Globo, no domingo à noite, não era mais a mesma vibrante, confiante e sorridente, que chegou pela manhã para votar aqui na Capital. Não tinha como ser diferente.

Em entrevista coletiva, à noite, logo após admitir a derrota que a impediu de ir para o 2º turno com a candidata Dilma Rousseff (PT), Marina Silva preferia não declarar apoio a nenhum dos candidatos, embora a fizesse, dias depois, em favor de Aécio Neves.

Atraso e polêmica – O horário de verão atrasou o anúncio do resultado da eleição presidencial em meia hora, porque o Acre foi o estado onde as eleições terminaram por último. Com o horário de verão, o Estado manteve uma diferença de três horas com o horário de Brasília.

Por isso, a situação gerou uma série de reações nas redes sociais. Surgiram piadas, como um perfil falso do Acre que comemora por decidir a eleição. E também uma série de mensagens preconceituosas, com direito a uma gafe da apresentadora Luciana Gimenez.

Gimenez escreveu “ninguém merece esperar o Acre” em sua conta no Twitter.

Um ano de acidentes graves e de violência

Carro capotou na BR-364; a jovem Luana morreu em assalto
Carro capotou na BR-364; a jovem Luana morreu em assalto. (Fotos: Cedidas)

Os sonhos da jovem Luana Souza de Freitas, de 15 anos, de conhecer a Coreia do Sul, um dia, foram interrompidos barbaramente na madrugada do dia 28 de agosto, quando bandidos invadiram a sua casa, no Bairro Conquista, e começaram a atirar nela e em seus familiares, durante uma tentativa de assalto. Luana dormia com os pais e o irmão.

A menina foi mais uma vítima entre os inúmeros casos de violência extrema assacada contra acreanos, em 2014.

Em Xapuri (a 180 quilômetros de Rio Branco) o delegado de Polícia Civil Antônio Carlos Marques de Melo é baleado durante uma operação para prender um indivíduo que degolou a enteada de 15 anos, no dia 18 último. O acusado foi preso dias depois de ter atirado contra o policial.

Marques de Melo já se recupera bem depois de ter permanecido na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco.

O ano fecha com um balanço funesto de vidas ceifadas em assassinatos e acidentes. Foi no dia 14 de maio que um dos mais incríveis sinistros assustou uma comunidade inteira. Um cilindro de oxigênio, que era armazenado de forma inapropriada numa casa do Conjunto Manoel Julião, explodiu, matando na hora o proprietário do imóvel, João Batista de Alencar.

Ele manuseava o equipamento, segundo testemunhas. Os três filhos, de 22, 19 e 13 anos, e o sogro, Francisco Castro Alencar, de 87 anos, também foram feridos. A explosão foi sentida a 2,5 quilômetros do local e teria afetado a estrutura de ao menos 27 casas nas redondezas.

No dia 13 de dezembro, três pessoas, duas delas pai e filha e do Acre, morrem tragicamente em um trecho da BR-364, próximo a Nova Mutum, já em Porto Velho (RO). O advogado Ubirair Dutra, a filha grávida, Jennyfer Amaral, além de Maria de Nazaré, mãe do policial militar Jhonnatan Júnior, que dirigia o veículo, morrem na hora.

Na tarde do dia 24, véspera das comemorações de Natal, um caminhoneiro perde o controle do veículo e atravessa na contramão atingido um ônibus na Estrada Variante, que dá acesso à BR-364, próximo a Cruzeiro do Sul, (cidade a 640 quilômetros de Rio Branco). No acidente, duas pessoas, uma delas o motorista, morreram na hora. Uma mulher de 45 anos com fundamento de crânio também foi a óbito, no último sábado, 27.

No ônibus estavam 45 passageiros e há suspeitas de que o motorista do caminhão estava embriagado e falando ao celular, no momento do acidente.

Explosão no Conjunto Manoel Julião pegou toda a cidade      de surpresa; a tragédia deixou uma família desolada
Explosão no Conjunto Manoel Julião pegou toda a cidade de surpresa; a tragédia deixou uma família desolada. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

 

Acidente entre ônibus e carreta deixou dois mortos
Acidente entre ônibus e carreta deixou dois mortos. (Foto: Cedida)

 

 

Sair da versão mobile