Conhecido por seu uso ritual em religiões e por suas propriedades psicotrópicas, o chá santo-daime acabou barrado no Aeroporto Internacional Tom Jobim na hora de deixar o país: 20 litros da bebida foram apreendidos no momento em que seriam exportados para a Holanda. O fato inédito mobilizou fiscais do posto do Ibama no Galeão, que passaram os últimos dias elaborando um detalhado relatório.
A conclusão saiu nesta quarta-feira, 10: a Igreja do Culto Eclético Fluente Luz Universal (Iceflu), localizada na Floresta Nacional do Purus, na fronteira do Amazonas com o Acre, e que produz o chá foi autuada duas vezes: por “adotar conduta em desacordo com os objetivos da unidade de conservação, o seu plano de manejo e regulamentos”, além de “estar com seu cadastro junto ao Ibama inativo, sem apresentar relatórios anuais desde o ano de 2008”.
A igreja recebeu ainda duas multas, num total de R$ 13 mil. Apreendido em 7 de novembro, o chá deverá voltar para a Amazônia. O Globo tentou entrar em contato com representantes da igreja, mas ninguém atendeu as ligações.
“O tema é complexo, pois envolve a questão religiosa. Ao mesmo tempo, o chá tem propriedades psicotrópicas. No entanto, o Conselho Nacional de Políticas Sobre Drogas autoriza o uso da bebida, desde que seja para fins religiosos, não havendo regulamentação quanto à sua exportação. Todo o trabalho do Ibama foi feito com muito respeito à crença envolvida e à sustentabilidade de nossa biodiversidade”, contou Vinícius Modesto de Oliveira, médico veterinário e analista ambiental do Ibama, um dos que assinam o relatório.
A igreja foi fundada por Sebastião Mota de Melo, em 1974, no município de Pauini, no AM. Muitos daimistas acreanos que eram da colônia da Cinco Mil se mudaram pra lá. É uma das principais vertentes do culto na Floresta Amazônica. O chá é feito à base do cipó ayahuasca.
Vários estados brasileiros têm filiais da igreja, assim como países como Espanha, Holanda, Estados Unidos, Canadá, Japão, Argentina, Chile, Uruguai, Venezuela e Portugal. Era para uma representação na Holanda que o chá estava sendo enviado.
A decisão de apreender o chá no aeroporto, segundo o relatório do Ibama, visou a interromper o fluxo de santo-daime para o exterior, em decorrência da ausência de documentação autorizativa para o envio. (Fonte: Texto do Jornal O Globo, com alterações feitas pela Redação do Jornal A GAZETA/ Foto: Divulgação)