Desde que disputou sua primeira eleição para a Assembleia Legislativa do Acre em 1982, quando ficou como suplente ainda pelo PT, o atual presidente da Aleac, deputado Elson Santiago (PEN), se prepara para deixar o parlamento estadual nos próximos dias. Com 28 anos de vida pública, o deputado tem sido um exemplo de humildade e competência entre os atuais políticos que compõem o quadro no Legislativo.
Em entrevista ao jornal A GAZETA, Elson Santiago relembra um pouco dos desafios e conquistas ao longo de sua trajetória política. Ele afirma que em sua infância nunca pensou que entraria na política.
“Nunca imaginei que algum dia seria político. Passados 28 ano, hoje comemoro sete mandatos como deputado estadual. Saio daqui com a sessão de dever cumprido”, afirmou.
Nascido no dia 28 de julho de 1962, na zona rural do município de Cruzeiro do Sul, Santiago sempre ressaltou sua origem humilde e o local onde nasceu. Ele frisa que seu passado foi importante para torná-lo a pessoa que é atualmente.
“Não nasci em berço de ouro. Durante muito tempo vendi bolos para ajudar financeiramente meus pais. E agradeço a Deus por tudo isso, pois, foi exatamente a essa vivência que me tornei o cara humilde que sou hoje”, disse.
Como presidente da Aleac, Santiago deixa um legado de proximidade deste Poder com a população do Estado. Com o projeto ‘Assembleia Itinerante’, o parlamentar conseguiu a proeza de levar a Casa do Povo a todos os municípios do Acre.
“Um dos meus maiores orgulhos como presidente da Aleac foi conseguir estar mais perto da nossa população. A ‘Assembleia Itinerante’ nos proporcionou ter mais contato com aqueles que nos elegem para representá-los”, afirmou.
Ele finaliza comentando sobre o processo de renovação ocorrido na Aleac no pleito deste ano. Confira a entrevista:
A GAZETA – Qual foi o motivo que o fez ingressar na vida política em 1982?
Elson Santiago – Ingressei na vida pública em 1982, como candidato a deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT), mas fiquei como segundo suplente, enquanto o Chico Mendes ficou na primeira suplência e o companheiro Ivan Melo assumiu a cadeira na Assembleia Legislativa. Em 1986 voltei a disputar uma cadeira pelo PMDB e desta vez o resultado foi positivo.
A GAZETA – Quais foram os maiores desafios que o senhor enfrentou em sua carreira política?
E. S. – Em 1998, quando perdi a eleição para o parlamento estadual, mas tive um alento porque fiquei com a primeira suplência. Assim, que o deputado César Messias ganhou a prefeitura de Cruzeiro do Sul, eu retornei ao parlamento, para continuar o trabalho que tinha começado. Na eleição de 2002, quando Jorge Viana concorreu à reeleição, fui o quinto deputado mais votado e aí começava uma nova etapa na minha carreira política.
A GAZETA – Quando o senhor assumiu a presidência da Aleac qual foi o seu primeiro pensamento?
E. S. – Nunca passou pela minha cabeça ser presidente da Assembleia Legislativa. Minha maior preocupação foi substituir o ex-presidente Edvaldo Magalhães. Ele simplesmente mudou a cara do Poder Legislativo acreano. E eu tinha que fazer algo pelo menos parecido. Eu tenho certeza que fizemos um bom trabalho e que esses quatro anos à frente desta Casa foram muito produtivos. Minha maior preocupação foi fazer tudo de bom para o Poder Legislativo. Uma das coisas que fizemos foi dar sequência ao ‘Assembleia Aberta’, mas com uma nova roupagem, que foi levar as sessões ordinárias para os municípios.
A GAZETA – O que o senhor achou do nível de acirramento na Aleac ao longo desta legislatura?
E. S. – Em minha opinião, os debates foram muito bons. A oposição foi bastante presente nesses embates e o principal puxador foi o deputado Rocha. Houve um debate firme, coeso, o que é natural do próprio parlamento. A produtividade também foi positiva.
A GAZETA – Como presidente da Aleac, qual o principal trabalho desenvolvido pelo senhor?
E. S. – Desenvolvemos muitos trabalhos nesta legislatura, mas, um que considero de fundamental importância é a Assembleia Itinerante. Fomos a vários municípios onde tratamos de assuntos extremamente importantes. Não devemos atuar apenas no plenário. Fora dele também. Outro ponto importante foi a parceria com o Governo do Estado. O que mais me marcou foi ser o presidente desta Casa. Ajudamos muito o governador. Não podemos trabalhar contra o governador. Não importa quem seja. Se ele está trabalhando em função do Acre, temos que ajudá-lo.
A GAZETA – Esta legislatura ficará marcada pela proximidade com o povo. Esse era seu objetivo?
E. S. – Temos 24 deputados eleitos pelo povo, portanto, nosso trabalho sempre deverá ser voltado para eles. Muitas vezes, as pessoas no parlamento nos trazem certas demandas e sempre as recebemos. Por muitas vezes, suspendi a sessão para conversar com todos que nos procuravam. Isso é importante. Quando escuto as pessoas afirmando que o Legislativo se tornou um Poder mais próximo do povo nesses últimos anos, fico feliz, pois, é a confirmação que cumpri de forma positiva meu trabalho neste parlamento.
A GAZETA – Em muitos momentos, o Poder Legislativo foi taxado como subserviente ao Poder Executivo. O senhor concorda?
E. S. – Não vejo dessa forma. Se o Poder Executivo manda um projeto para a Casa do Povo é porque deseja fazer um trabalho. Como negar ajuda. Optamos por trabalhar em parceria com o governador. Se não aprovamos determinados projetos, o governo não trabalha e, consequentemente, o Estado não se desenvolve. Aprovamos projetos do Judiciário, Tribunal de Contas, Ministério Público e nunca afirmaram que somos subservientes a eles. Porque apenas ao Executivo? Votamos, porque acreditamos que o governo deste Estado tem trabalhado sempre em prol de seu povo.
A GAZETA – Como o senhor enxergou essa renovação no parlamento estadual neste pleito?
E. S. – Foi uma renovação inédita. Isso preocupa, porque estamos perdendo deputados com experiência e que colaboraram muito com o trabalho da Casa. Mas tenho certeza que a próxima turma irá aprender logo o caminho das pedras.
A GAZETA – Qual o futuro do deputado Elson Santiago?
E. S. – Nestes 30 anos de vida pública, consegui sete mandatos, mas tive que abrir mão de muitas coisas. Uma delas foi não acompanhar de perto o crescimento dos meus filhos. Perdi muitas férias em família, confraternizações escolares das crianças. Enfim, assim que saiu o resultado das últimas eleições, os meninos brincaram: perdemos um político, porém, ganhamos um pai. Aproveitarei este final de ano para passar férias com a família, coisa que nunca pude fazer por conta da vida pública, que sempre exige sacrifícios, porque temos uma extensa agenda de compromissos para cumprir. Vou assumir a assessoria especial do governo e me dedicar a minha fazenda que é uma das coisas que mais gosto de fazer na vida.
A GAZETA – Sensação de dever cumprido?
E. S. – Sem sombra de dúvida. Sempre trabalhei no sentido de acrescentar ao povo. Meu foco sempre foi o desenvolvimento do Acre. Deixo o parlamento estadual com a sensação de dever cumprido.
A GAZETA – O senhor ainda retorna à política?
E. S. – Quem sabe? Não posso afirmar nada, pois, vai que mudo de ideia. Disse que não sairia candidato à reeleição e acabei fazendo o contrário. A única certeza que tenho é que nos próximos quatros anos serei assessor especial do governador. O ano de 2018 ainda é uma incógnita para mim.
A GAZETA – Qual recado o senhor deixaria para estes novos deputados que estão assumindo uma cadeira na Casa do Povo pela primeira vez?
E. S. – O conselho que deixo para essa nova turma que está entrando é que deixem as suas vaidades pessoais de lado, para ajudar o governador Tião Viana a continuar o trabalho que começou. Desde que ingressei na vida pública, apenas um terço das cadeiras eram renovadas, em média, a cada eleição. Mas, dessa vez aconteceu uma renovação geral, como ocorreu anteriormente, na Câmara Municipal de Rio Branco. Em muitas ocasiões, cabe ao legislativo atuar como poder moderador, quando as disputas pessoais ou ideológicas interferem na administração pública. Sempre que tenho oportunidade de conversar com um dos novos deputados, digo: procure trabalhar para o desenvolvimento do nosso Estado, independente da cor partidária.
(Foto: Arquivo Agência Aleac)