
Depois de dois anos à frente da presidência da Câmara Municipal de Rio Branco, o vereador Roger Corrêa (PSB) se prepara para deixar o cargo no próximo dia 31 de dezembro.
Nascido no Mato Grosso do Sul, Roger Corrêa de Oliveira chegou ao Acre em 1990, com apenas 21 anos. Após 18 anos residindo no Estado, foi convidado pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), para disputar uma vaga na Câmara Municipal de Rio Branco, porém, ficou na primeira suplência com 1.915 votos.
Em 2010, com o falecimento do vereador Jessé Santiago, Roger assume a vaga e como primeira ação dentro do parlamento mirim, cria a lei antibullying e lei do atendimento prioritário. Em 2012, disputou a reeleição, onde foi o vereador mais votado da Frente Popular do Acre e o 3° da Capital.
Em entrevista ao jornal A GAZETA, o parlamentar falou um pouco sobre os avanços da Câmara durante sua gestão. Ele destacou o comprometimento dos colegas parlamentares na defesa dos interesses da população e a relação democrática e de respeito que existe entre gestão municipal e o parlamento.
Roger comentou ainda sobre a devolução do montante no valor de R$ 128 mil à prefeitura de Rio Branco, construção do elevador no prédio da Câmara, site de transparência e eleição à presidência do parlamento mirim. Confira a entrevista:
A GAZETA – Quais foram as principais ações desenvolvidas durante sua gestão?
Roger Corrêa – Tivemos três eixos nesta gestão. Primeiro, a Câmara absorveu os princípios da administração, da legalidade, da impessoalidade e a da publicidade. Ela avançou muito na legalidade. Não é à toa que a gente fez a campanha ‘Por uma Câmara Mais Legal’, tanto no sentido da gíria (estado) como a obediência às leis. O segundo eixo foi fazer o servidor da Casa se sentir mais valorizado e respeitado. O terceiro ponto foi dar condições para os servidores trabalharem com a devida qualidade.
A GAZETA – Do ponto de vista estrutural, o que mudou na Casa?
R.C. – Quando assumi a presidência, a Casa passava por uma grande crise estrutural. Não tínhamos computadores, internet, site de transparência. Hoje a Câmara tem um site que fala sobre a transparência e mostra todas as ações dos vereadores. Nós queremos que esse site seja ainda mais aprimorado e que as sessões passem a ser exibidas online. Acredito que a primeira de fevereiro já conte com esse recurso.
A GAZETA – O Senhor teve uma gestão muito próxima dos servidores. Nesse sentindo, o que o senhor fez de diferente dos outros presidentes?
R.C. – Entre outras coisas, uma das nossas principais ações foi no sentido de investir na qualificação dos profissionais desta Casa. Realizamos um projeto de incentivo à profissionalização dos servidores e remanejamento de cargos, haja vista que alguns funcionários atuavam em uma área com formação em outra. Em 2013, quinze servidores saíram do Estado para estudar e se qualificar nos melhores setores do país. O resultado disso foi um melhor desempenho do parlamento.
A GAZETA – Um dos seus objetivos era realizar concurso público, porém, não se concretizou. O que aconteceu?
R.C. – Não conseguimos devido à estrutura financeira e algumas questões de ordem legal. Mas, eu estou deixando R$ 800 mil livres no orçamento, para que em 2015 o próximo presidente possa realizar um concurso público nesse poder.
A GAZETA – Durante sua gestão ocorreram algumas mudanças na operação da verba indenizatória. Fale um pouco sobre essas mudanças.
R.C. – Fomos até o Tribunal de Contas do Estado e observamos que havia um questionamento, por parte da corte de contas, sobre esse recurso destinado a custear os gastos dos vereadores com o aluguel de carros, combustível e outras necessidades básicas da vereança. Antes, cada vereador apresentava um conjunto de notas a serem restituídas e o TCE entendeu que a prática era irregular, porque não passava por uma licitação. Hoje, se o vereador precisar de algum serviço, a Câmara faz um processo licitatório para atender sua demanda. Isso mostra transparência e economia.
A GAZETA – Em termos de valores, quanto a Câmara conseguiu economizar com a alteração no gerenciamento da verba indenizatória?
R.C. – Diminuímos os gastos em quase R$ 100 mil, o que nos possibilitou a compra de um carro novo para esta Casa Legislativa. Sem contar que foram essas economias que também proporcionaram o aumento de 6% para os servidores, além do pagamento de uma dívida prescrita que os servidores tinham.
A GAZETA – O senhor foi bastante criticado ao devolver ao município o montante de R$ 328 mil. Porque não aplicou esse valor no próprio parlamento?
R.C. – Realmente muitas pessoas me criticaram na ocasião, dizendo que quando a gente devolve dinheiro é sinônimo de má gestão. Vindo da iniciativa privada, eu sei que má gestão é quando existe o desvio de verba ou ela é mal empregada. Devolver é sinônimo de respeito com a população. Tínhamos acabado de fazer uma reforma geral no prédio da Câmara, não tínhamos nenhuma demanda, portanto, nada mais natural do que fazer essa devolução. Esse valor serviu para ajudar a prefeitura a quitar dívidas deixadas pela alagação dos rios Madeira e Rio Acre.
A GAZETA – Outro ponto bastante questionando diz respeito ao aluguel do prédio onde funciona a Câmara. Houve aumento irregular?
R.C. – Embora afirmem que fizemos tudo no apagar das luzes, na realidade, tudo foi feito à luz do direito. No primeiro contrato, o valor do mercado imobiliário para locação do prédio foi reduzido por conta das obras de adequação à Câmara Municipal. Agora que o prédio está devidamente adequado, o valor passou a ser o de mercado, por isso esse aumento de 100%. Vale frisar que fechamos um contrato para os próximos cinco anos. Deixo a presidência da Casa com a consciência tranquila. Nesta gestão não houve desvio de verba ou algo do tipo. Trabalhamos muito para colocar a Casa em ordem. O próximo presidente está pegando um parlamento saneado, do ponto de vista jurídico.
A GAZETA – E quanto à construção do elevador?
R.C. – Hoje, o único meio de se chegar às salas dos vereadores é através das escadas. O que fazer quando um cadeirante aparece para falar conosco? Temos que estar com a devida estrutura para atender nossa população. Não vejo a construção de um elevador como algo desnecessário. Essa obra não trouxe nenhum prejuízo à Casa, uma vez que está por conta do dono do prédio. A obra está prevista para ser concluída no início do ano que vem, se o inverno não atrapalhar.
A GAZETA – O senhor foi acusado de articular a aprovação de uma emenda que torna possível a reeleição à presidência da Casa. Isso procede?
R.C. – De forma alguma. Em 2012, antes da eleição, decidimos votar algumas alterações na nossa Lei Orgânica e nela consta uma emenda que permite reeleição à presidência do parlamento. Nessa época eu nem sabia se voltaria a Câmara e muito menos que seria o presidente. Por esses tempos, o vereador Gabriel Forneck me perguntou por que não colocávamos a Lei Orgânica para ser votada e quando ficaram sabendo que provavelmente a LO seria apreciada, o povo só observou a questão da emenda e aí começaram a falar que eu estava articulando para continuar a frente da Casa. Eu até sugeri para tirar essa emenda e votar a LO, pois temos uma LO muito antiga e se faz necessário essas mudanças. Porém, não ocorreu.
A GAZETA – Então, o vereador Artêmio Costa se candidatou com seu apoio?
R.C. – Sem sombra de dúvida. Embora alguns afirmem que existem atritos entre eu e Artêmio, essa informação não procede. A construção da candidatura do vereador Artêmio também teve a minha participação e meu apoio. Sempre fomos aliados e continuaremos assim.
A GAZETA – Nos últimos meses o senhor teve um relacionamento um pouco difícil com a imprensa. O senhor deixa a presidência com alguma ressalva?
R.C. – Nenhuma. Não me incomodo com as críticas, desde que contenham verdades. Quando assumi a presidência, peguei um parlamento falido em todos os sentidos. Hoje, deixo a presidência com dinheiro no caixa. Só peço que antes de tecer críticas, as pessoas busquem conhecer a nossa história, como era a Câmara do passado e a do presente. Averiguem, analisem, comparem. Não critiquem apenas por criticar. Gostaria que o relacionamento com a imprensa tivesse sido mais próximo, mas, ainda assim agradeço a força que recebi dos jornalistas que cobriram os trabalhos da Casa.
A GAZETA – Alguma consideração final?
R.C. – Eu agradeço primeiramente a Deus e aos servidores da Câmara que deram o tom ao trabalho, acreditando que não seria apenas mais um político a defender interesses pessoais. Agradeço à FPA que me convidou a ser presidente da Câmara, ao meu partido, o PSB, que escolheu meu nome dentre os vereadores que compõem a Câmara, à minha família, ao prefeito Marcus Alexandre, por nossa relação sempre harmoniosa, independente, e, acima de tudo, respeitosa. E, por fim, aos vereadores, meus companheiros de trabalho e de vida.