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Estudante acreana de 16 anos é aprovada em Medicina na Universidade Federal do Ceará

Monalisa Félix, 16 anos, estudava 15 horas por dia
Monalisa Félix, 16 anos, estudava 15 horas por dia

Desde que era criança, Monalisa Félix sonhava em ser médica. Aos 16 anos de idade, conseguiu realizar o primeiro passo e foi aprovada em Medicina na Universidade Federal do Ceará. Mas, não foi sem sacrifícios e esforço: ela estudava 15 horas por dia. “Eu estudava de manhã, na Escola Estadual José Rodrigues Leite, e à tarde fazia um curso preparatório. À noite, repassava matérias, lia e assistia vídeo-aulas no cursinho online. Dia de sábado, acordava cedo, estudava, fazia redações”, relatou.

Tudo foi planejado para que o ano de 2014 fosse um período apenas de estudo. “Foi um projeto de vida”, brinca Monalisa. Desde quando era pequena, os pais da aluna procuraram direcioná-la às melhores escolas, com as melhores condições. “Meus pais sempre sonharam comigo e sempre me apoiaram”, explicou.

Seus estudos eram organizados por uma programação mensal e semanal. Diversão tinha dia marcado: uma vez no mês, Monalisa ia ao cinema, saia com as amigas. Só descansava em ocasiões especiais, como seu aniversário ou o da irmã. Também desistiu de dançar na igreja, pois os ensaios eram de duas a três noites por semana. “Chegou o tempo em que ela estudava dia, tarde e noite”, comentou o pai, o bombeiro militar Moisés Alencar de Moraes, 39. “Muitas vezes ficava estudando até duas, três da manhã. Eu falava ‘vamos dormir’ e ela dizia ‘quando acabar o vestibular, eu durmo’”.

O resultado tão esperado foi recebido com lágrimas pelo pai da estudante. Apesar de ter recebido a ligação da filha no ambiente de trabalho, não conseguiu segurar a emoção. “Liguei pra todos os meus amigos, pros meus irmãos. Gastei todos os meus créditos! Todo mundo estava torcendo por ela”.

A diretora da escola, Geralda Dávila, também se manifestou. “Ficamos muito felizes por ser uma aluna que esteve aqui desde o primeiro ano do Ensino Médio. Nós, como escola, nos orgulhamos. Gostaríamos que todos os nossos alunos tivessem esse apoio da família, fizessem esse cronograma de estudos. Porque não é só a escola. Aqui é uma parceria, mas não é o tudo. É necessária uma dinâmica, uma rotina. Pra você ver, todos os alunos que tem sucesso têm uma rotina bem rígida, não a quebram, e sabem que futuramente podem ir pra balada que quiserem, podem viajar a hora que quiserem”.

O coordenador de ensino, Francisco Weyder, concorda. “A escola fica muito contente, mas ao mesmo tempo aumenta a nossa responsabilidade. A nossa parte no latifúndio é muito pequena, 70% é dela. É a perseverança, disciplina, abrir mão na idade dela. É muito difícil abrir mão das coisas em qualquer idade. Na idade em que ela está, então, triplica. Os outros 30%, divide entre família, escola, amigos, um ou outro professor que faz a diferença. Esse sucesso dela acaba nos dando uma responsabilidade muito grande. Esperamos conseguir que mais alunos tenham uma possibilidade de, senão na Medicina, ingressarem em outro curso superior”.

A diretora completa: “Às vezes a gente aprende muito mais com os alunos do que eles com a gente. Claro que somos o parâmetro, mas eles nos surpreendem muito. A Monalisa é uma pessoa que está de parabéns”. Geralda também lembrou do ex-aluno da JRL, André Lucas Melo, que passou em cinco universidades americanas no ano passado e, assim como Monalisa, tinha programas de estudos rígidos.

Apesar de já estar matriculada na UFC, a estudante ainda espera ser chamada pela Ufac. “É melhor financeiramente”, explica Moisés. “Se ela ficar aqui vai ser melhor. No Ceará tem aluguel, alimentação, livros. E um de nós teria que ir, ou eu ou a mãe dela”.

Outro caso de sucesso
Outro acreano que se destacou no Enem 2014 foi o ex-estudante de Engenharia Mecatrônica, Sérgio Cunha Mendonça Filho, 21. Após quatro anos estudando na Universidade de Brasília, despretensiosamente Sérgio decidiu se inscrever no Enem. Não estava feliz com seu curso e pensava em desistir. “Eu sempre tive essa dúvida se deveria seguir a carreira de mecatrônica ou de comunicação social, mesmo os dois cursos sendo de duas áreas completamente diferentes. Eu já estava há quatro anos no curso e não queria voltar à estaca zero”.

A decisão não foi fácil. “Como eu entrei na faculdade com 17 anos, e já estava com 21, eu achei que seria perder quatro anos da minha vida se eu desistisse. Mas eu percebi que nunca andaria, nunca seguiria no curso se não tomasse essa decisão. Eu estava parado nas mesmas matérias há muito tempo e foi o passo principal perceber que eu precisava tomar essa atitude para conseguir me formar e me realizar nos estudos”.

O tempo inteiro, Sérgio teve o apoio dos pais. “Quando eu disse que pensava seriamente em desistir, eles disseram que eu tinha que avaliar o que era melhor pra mim. E quando eu decidi isso, eles aceitaram a decisão e me apoiaram”.

O resultado foi 150 questões certas e 920 pontos na redação. Com essa nota, foi aprovado na primeira chamada de Publicidade na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sérgio acredita que ter tido um bom Ensino Médio, com boas notas, foi fundamental para sua aprovação quatro anos depois.

(Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

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