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Como acessar informação sobre eventos extremos – o potencial e os perigos

Imaginamos que muitos já notaram algumas mudanças recentes no clima: secas mais frequentes e chuvas mais fortes. Além disso escutamos de indígenas, produtores rurais e extrativistas sobre a imprevisibilidade do clima – de que está chovendo quando não devia, secas idem, etc.

Ter informações atualizadas é importante para reduzir desastres. As revoluções interligadas da internet e eletrônica prometem que possamos ter acesso a informações que poucos anos atrás não existiam ou não foram disponibilizadas ao público.

Este artigo mostra como acessar algumas informações para que o leitor possa fazer a sua própria análise e avaliar os cuidados que deve ter com eventos extremos meteorologicos/climáticos.

Está chovendo? Onde e quanto?   Uma maneira de verificar isto é acessar sítios locais.  A Defesa Civil Estadual do Acre (https://www. facebook.com/defesacivil. estadual.7?fref=ts ) reporta diariamente a altura dos rios e a quantidade de chuvas em vários lugares no Estado.

O sitio Acrebioclima (http://acrebioclima.net/ ) do Professor Alejandro Duarte, da UFAC, permite acesso a diversos bancos de dados.  Oferece acesso facilitado aos dados de altura dos rios da Agência Nacional das Águas (ANA). Este sitio fornece também dados mais sofisticados como os de radiação solar e de aerossóis. Davi Friale coloca as suas interpretações de dados de tempo e dos rios em http://otempoaqui.com/.

Outra fonte para sobre chuvas é o sítio do Centro de Previsão e Estudos de Clima (CPTEC) do Instituto Na-cional de Pesquisas Espaciais (INPE) no estado de São Paulo.

O nome reflete a sua origem: www.cptec.inpe.br.  O CPTEC trabalha muito com previsões de tempo, mas também estima chuvas usando imagens de satélites. Na página “Home”, do lado esquerdo encontra-se o link “Precipitação por Satélite” onde pode ser observada a “Chuva Instantânea” que é cerca de 1 a 2 horas passadas. Um clique em “acumulado” mostra as chuvas acumuladas das 24 horas antes da 7 da manhã no Acre (meio-dia no Tempo Universal Coordinado – UTC).   É possível fazer um zoom e tirar uma foto da tela, como a que está acompanhando este texto.

O sitio da ANA (www.ana.gov.br) é rico em dados de alturas de rios e de chuva, mas o seu acesso é um pouco complicado. Na página principal, procurar a seção “Acesso Rápido” e clicar em “Telemetria”. Quando aparece um mapa do Brasil dividido por bacias, clicar no “Tipo de Informação” na “Chuva” ou no “Nível”, dependendo dos dados que se quer acessar.

Depois na “Origem dos Dados” clicar em “Projetos_Especiais”.   Aparecerão uma série de pontos.  Pode clicar na região do Acre e ver um zoom para as três sub-bacias de interesse:  12 (Juruá), 13 (Acre/Purus) e 15 (Madeira).  Clicar na bacia de interesse, 13, por exemplo, que é Rio Solimões, Purus, Coari…

Agora clicar em “dados numéricos” e vai aparecer uma lista de estações com dados das últimas 96 horas.  Se forem dados demais, selecionar uma estação e clicar no botão “Pesquisar”.

Usando estas ferramentas, o leitor pode ter uma ideia sobre o que tem acontecido em termos de alturas dos rios e das chuvas na últimas horas e dias na Amazônia Sul-ocidental.

Em termos de previsões o sítio www.cptec.inpe.br  tem uma seção dedicada a “Previsão Númerica” que permite olhar alguns dias a frente.   Se clicar no “BRAMS” é possível ver as previsões de 12 em 12 horas para os próximos três dias.  Mas como qualquer previsão, não acerta 100%.

Estas ferramentas disponibilizam uma gama de outras informações para o público em geral, uma verdadeira democratização da informação. O perigo no uso destas ferramentas ocorre em três aspectos.   Primeiro, o acesso fácil de dados pode levar à dependência e ao abandono de métodos mais simples.  Como notamos no artigo sobre a Lei de Murphy e redundância (A GAZETA, 9 dez 14), as plataformas de coleta de dados podem quebrar ou ficar mal-calibradas no pior momento possível.  Precisamos de alternativas, como um público consciente que possa complementar os dados com observações pessoais, e aí a tradicional régua para medidas de nível dos rios passa a ser o recurso essencial.

Um segundo perigo é de que os dados nem sempre saem corretos, aliás, todos tem um grau de incerteza que tem que ser levado em conta. Os equipamentos e modelos  podem produzir dados distorcidos, muitas vezes de difícil detecção pelo leigo. Se, de repente, ao observar os dados o leitor encontrar algo estranho ou que não compreenda, faça contato com a defesa civil ou com a Unidade de Situação da CEGdRA (Comissão estadual de Gestão de Riscos Ambientais) para evitar equívocos.  Como regra, é importante ter dois ou mais dados independentes confirmando se uma inundação está acontecendo, por exemplo.

O terceiro perigo envolve quem está interpretando os dados que precisa saber como fazê-lo. Geralmente isso vem via estudos e experiência, mas às vezes a experiência com o fenômeno não existe, como aconteceu o ano passado com a inundação do Rio Madeira ou os incêndios florestais de 2005.  Por isso vale muito aplicar imaginação e teoria juntas para antecipar eventos extremos – e pensar em nossas respostas. Só poder usar dados deste tipo com segurança se entender o contexto dos fenômenos sendo medidos.

Hoje em dia, os governos locais, estaduais e nacionais têm o seu papel na organização da Defesa Civil, mas carecem muitas vezes de análises mais detalhadas. Cidadãos podem contribuir muito para esee processo via análise de dados para alertas de eventos extremos, especialmente em municípios e comunidades distantes de centros mais populosos. Os sítios mencionados são somente uma amostra do que está disponivel.  Com maior participação da imprensa, prefeitos e líderes de sociedade civil na análise de eventos extremos, vamos estar mais preparados para enfrentar eventos extremos como inundações e secas.

Afinal, Defesa Civil é uma tarefa de todos.

*I. Foster Brown, Pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente do Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN) da Universidade Federal do Acre (UFAC). Cientista do Experimento de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA), do INCT SERVAMB e do Grupo de Gestão de Risco de Desastres do Parque Zoobotânico (PZ) da UFAC. Membro do Consórcio Madre de Dios e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre
George Luiz Pereira Santos, Tenente Coronel do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre e Coordenador de Defesa Civil Municipal de Rio Branco, Acre.

A Gazeta do Acre: