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É japonês ou é chinês?

Quantas vezes a Vivian já foi chamada pelo apelido de “japa”, ela não lembra mais. Já está acostumada. É normal confundir uma descendente de chinês com japonês. No entanto, o problema não está no engano, mas na reação de quando ela vai explicar o equívoco. Geralmente a resposta é “mas é tudo a mesma coisa!” ou “tanto faz”. Ela engole a frustração. Tenta esconder o desapontamento. Ninguém entende quão ofendida ela se sente nessa situação.

Isso acontece desde que ela era pequena. Ela não entendia bem a situação. Nunca viveu perto dos avós chineses, sua nainai e seu yéyé, e o pai nunca foi tradicional. Por isso, nunca se sentiu diferente das outras pessoas. Aos poucos os comentários começaram. Falavam que seu olho era muito pequeno. Perguntavam como ela conseguia enxergar desse jeito.

As pessoas não veem isso como insulto, pois não faz parte do cotidiano delas. Ninguém está acostumado a ver muitas pessoas descendentes de orientais no Acre. Também não importa quantos países com línguas, culturas e escritas diferentes existam na Ásia. Todos deduzem que qualquer traço oriental é japonês.

Se aparece um japonês em um filme, as pessoas já brincam perguntando se é algum parente. Ela já desistiu de explicar que sua descendência é chinesa, porque ninguém gosta de ser corrigido ou está interessado na diferença. Também deduzem que ela é um gênio e que sabe falar mandarim.

Vivian consegue identificar os traços, a linguagem, a escrita de cada cultura oriental. Se colocar um coreano, um japonês e um chinês lado a lado, ela consegue diferenciar facilmente.

As pessoas fazem piadas ligadas aos olhos, narizes ou órgãos sexuais. Mas nada disso é considerado racismo, pois essa palavra só é levada em consideração quando ligada ao negro.

Tudo o que a Vivian queria é que as pessoas tomassem cuidado com suas palavras. Que ao invés de responderem que tanto faz se os asiáticos são ou não iguais, elas abrissem a mente descobrirem que há muita diferença. Que yakisoba não é japonês e sashimi não é comum na China. Quem sabe um dia isso acontece.
Vivian é uma descendente de chinês que ama anime japonês e é fã de música sul-coreana.

* Isabela Gadelha é estagiária de jornalismo do jornal A GAZETA
E-mail: isabbelagadelha@gmail.com

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