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Acreano improvisa com materiais que iriam para o lixo

Criatividade é o segredo de acreanos que vivem da reciclagem e reutilização de materiais que iriam para o lixo


Pare e pense na quantidade de produtos que você consume diariamente, por exemplo, refrigerantes, água, sacolinha de supermercado, vidro, embalagens longa vida, filtros de cigarros, plásticos e afins. Já pensou em reaproveitar ou reciclar alguns desses itens? Ou ainda, oferecer a destinação correta a esses materiais?

E se você soubesse que alguns desses itens, considerados supérfluos, são artigos de luxo para quem tem criatividade e enxerga nos materiais que vão para o lixo, como uma oportunidade de ganhar dinheiro.

Além de ser economicamente viável, a reutilização, o reaproveitamento e a reciclagem são uma forma de minimizar os impactos da ação humana na natureza. Atualmente, estima-se que, apenas em Rio Branco, cerca de 40 toneladas de plástico são produzidos diariamente.

Uma parte desse montante é reciclada por empresas que atuam na Capital do Acre. Transformando os plásticos que iriam para o lixo, em telhas plásticas coloridas, caixas agrícolas, mangueiras para irrigação, conduíte corrugado e tijolo ecológico para pisos. A outra parte vai para o lixo mesmo.

Rio Branco dispõe de todo o processo de reciclagem de alguns tipos de plástico. O restante dos materiais vai para fora do Estado, onde o mercado da reciclagem é maior, além de necessitar de grande quantidade de insumos. Esse mercado absorve o que é desperdiçado pelos acreanos.

E no lixo, uma sacolinha plástica pode demorar até 100 anos para se decompor. Este jornal, que neste momento está sendo lido, caso não seja reutilizado, pode levar até seis meses. Uma frauda descartável leva longos 450 anos. Um copinho plástico que se toma água no trabalho leva 50 anos para se decompor. Vidros e pneus não possuem estimativa para decomposição.

Portanto, alguns dos materiais utilizados pelas pessoas, ainda estarão por aqui por mais algumas gerações, gerando problemas para os filhos, netos e bisnetos. A hora de fazer alguma coisa pelo meio ambiente é agora.

Diferença dos processos
*Reutilizar é usar de novo para outros fins. Exemplo: reutilizar uma garrafa pet, transformando-a em funil, vasinho de plantas, brinquedos e etc.

*Reaproveitamento está relacionado à alimentação. Exemplo: reaproveitar a sobra do arroz e fazer bolinhos de arroz.

*Reciclagem é o reaproveitamento de materiais que envolvem processos industriais. Exemplo: a reciclagem de latinhas de alumínio que passam por processos industriais até serem transformadas em novas latinhas.

Ideias criativas de reciclagem contribuem para a saúde do meio ambiente no Acre

 

Alguns materiais plásticos levam até 450 anos para se decompor

(Fotos: Odair Leal/ A GAZETA)

SOS AMAZÔNIA atua com uma campanha de reciclagem

Projeto arrecadou três toneladas e meia de materiais recicláveis em 13 meses

A campanha de reciclagem tem o intuito de promover a educação ambiental sobre os resíduos sólidos. O resultado dessa ação ajuda nas atividades de proteção das desovas de quelônios ao longo do Rio Juruá. De novembro de 2013 a dezembro de 2014, o projeto arrecadou, aproximadamente, três toneladas e meia de materiais recicláveis, totalizando cerca de R$ 2,1 mil.

O coordenador-geral da instituição, Miguel Scarcello, explica que a intenção é incorporar a coleta seletiva no cotidiano dos moradores. “É preciso ter contato constante, ter uma boa informação e ter orientações permanentes. Até entrar na rotina. Quando entrar na rotina, pronto! Ele passa a ser o educador. Porque quem visitar a casa e perguntar, a pessoa já orienta”, explica.

A ideia começou a ser colocada em prática em fevereiro de 2013, por meio de uma campanha experimental de educação, recepção e coleta de material reciclável, no bairro Cadeia Velha, envolvendo cerca de 20 moradores.

Além de gerar emprego e renda, a coleta seletiva evita a poluição do ambiente, diminui a quantidade de lixo jogada nos aterros sanitários e a exploração dos recursos naturais.  De todo o dinheiro arrecadado, 27,5% será destinado à coleta dos materiais e gestão do processo, enquanto que 72,5% será investido na proteção das desovas de quelônios.

“Nossa intenção é seguir firme para atingir os objetivos esperados, que é diminuir a pressão dos resíduos sólidos sobre o meio ambiente, conservar a biodiversidade e ajudar as famílias ribeirinhas”, disse Miguel Scarcello.

Se a reutilização, a redução e a reciclagem já estivessem sendo aplicadas deste quando foi gerada a primeira peça de plástico, com toda certeza esse quadro não seria o atual e esse impacto não faria parte de nossas vidas.

Os interessados em contribuir com a campanha podem procurar a SOS Amazônia de segunda a sexta-feira, das 8 às 17 horas. Os materiais podem ser depositados no Araújo do Aviário, todos os dias da semana das 7 às 22 horas. (Foto: Divulgação)

Veja a lista de alguns dos materiais recebidos
Garrafas de refrigerante ou garrafas de água mineral; garrafas de água sanitária; garrafas de amaciantes de roupas; garrafas de desinfetante; garrafas de detergente; potes e garrafas de shampoo e condicionador; potes e garrafas de produtos de limpeza; garrafas de iogurte grande e pequena; garrafão de água mineral; potes de manteiga, margarina, requeijão; sacos de arroz, feijão, açúcar e farinha; sacolas de supermercados; baldes e bacias; vasilhas plásticas; mesas e cadeiras de bar. Além de objetos de alumínio como latinhas e panelas velhas.

Academia feita de material reciclável

Academia de materiais recicláveis, localizada no bairro Calafate, atende moradores das proximidades

Criada a partir do conceito de sustentabilidade, a Academia de Artes Marciais Macêdo Team, tem chamado a atenção de quem passa pelas mediações do Portal da Amazônia, no bairro Calafate. Sua estrutura foi toda projetada a partir de materiais recicláveis. A ideia de utilizar o que iria para o lixo surgiu da necessidade de possuir uma mínima estrutura para dar suporte aos atletas de Jiu-jitsu e da falta de recurso para adquirir aparelhos profissionais.

A academia tem 60 metros quadrados, as paredes são de compensado e o chão ainda é apenas um contra piso, de cimento queimado. Os aparelhos foram feitos artesanalmente, todavia, não tiram o brilho dos frequentadores e não diminuem o alcance social da academia, que existe há mais de cinco anos.

Os aparelhos de levantamento de peso são de tábua e napa. As ferragens de sustentação da aparelhagem foram juntadas de restos de construção civil. Os sparings são sacos de câmaras de pneus cheios de areia. São mais 25 aparelhos disponíveis para os frequentadores da academia.

O espaço conta ainda com um tatame, onde são ministradas aulas de Jiu-jitsu. Atualmente a academia é utilizada apenas por seus donos e também amigos. Porém, a um tempo atrás, de acordo com o Joe Weider Rego Macêdo, um dos proprietários, era desenvolvido um trabalho social, onde eram ministradas aulas de Jiu-Jitsu para cerca de 20 crianças.

“A ideia de criar a academia partiu do meu pai e quando finalmente conseguimos realizar esse sonho colocamos em mente que era importante que pudéssemos usar esse espaço para desenvolver um trabalho social que pudesse fazer a diferença na vida das pessoas, principalmente, das comunidades carentes dos arredores do nosso bairro”, disse.

Segundo Joe, um de seus objetivos é retomar o trabalho social que foi interrompido devido à falta de recursos.

“Abrimos uma turma para ensinar a criançada sobre artes marciais. Eles estavam aprendendo a lutar, mas, infelizmente, devido à falta de recursos, tivemos que cancelar as aulas e automaticamente o nosso projeto. Mas, não desistimos do nosso foco. Estamos buscando parceiros que se interessem nesse tipo de trabalho que desenvolvemos”, disse.

O professor de Boxe José Messias Macêdo, criador da academia e pai de Joe, acredita que seu trabalho já ajudou a melhorar o caráter de muitos jovens.

“Nunca ganhei dinheiro com isso aqui, mas sou feliz por ter ajudado muitas pessoas a não se enveredar por caminhos tortuosos”, diz o mestre, que fala enquanto os alunos, todos sentados, fazem um silêncio intrigante, pela disciplina imposta pelas artes marciais.

Enquanto não encontram os meios para reabrir as turmas de Jiu-Jitsu para as crianças, Joe e alguns amigos utilizam o espaço como academia para treinar artes marciais para futuras competições.

“Nosso espaço é dividido em dois ambientes, onde no primeiro, temos as aulas de musculação e no segundo, aulas de artes marciais. Enquanto não voltamos com as aulas de Jiu-Jitsu infantil, vamos utilizando o primeiro ambiente para melhorar nosso condicionamento e assim podermos participar de futuras competições. Hoje, apenas os adultos estão presentes na academia”, finalizou.  (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

Do lixo à solidariedade

Edvaldo Paes aposta em objetos oriundos de material reciclável a fim de conseguir o sustento para a Casa de Apoio e Saúde do Seringueiro

Aquilo que para muitos não tem mais nenhuma utilidade, nas mãos de artistas anônimos se transformam em verdadeiras obras de artes. Criações que, na maioria das vezes, são a única fonte de renda dessas pessoas, que ainda encontram uma maneira de ajudar o próximo.

A reportagem de A GAZETA buscou na Rua Cancão de Fogo, bairro Taquari, em Rio Branco, uma dessas histórias, que fala de renúncia, dedicação e amor ao próximo.

Edvaldo Paes e Rosélia Aguiar Paes, a dona Nêna. Um ex-policial militar e uma dona de casa, que abriram mão de uma vida confortável e estável para ajudar pessoas de todo o Estado que chegam à Capital em busca de tratamento médico.

Há 22 anos, o ex-policial militar, que trabalhava na Policlínica como técnico de enfermagem, largou a carreira de policial para se dedicar a abrigar pessoas enfermas que chegavam a Rio Branco em busca de tratamento médico e que não tinham onde ficar. Com muita força de vontade e fé, Edvaldo Paes começou a fabricar, a partir de pneus, verdadeiras obras de artes vindas do lixo.

Cadeiras, poltronas, sofás e jarros para plantas foram os primeiros produtos produzidos pelo artesão que usava o dinheiro das vendas desses utensílios para prover o sustento da família e de dezenas de pessoas, que ele e dona Nêna abrigavam, em sua casa. Tempos depois, o casal passou a usar também latas e garrafas pet como matéria-prima.


(Fotos: Odair Leal/ A GAZETA)

Casa de Apoio surgiu em 1999

Atividade de reciclagem na Casa de Apoio ajuda de forma indireta cerca de 80 pessoas

Em 1999, o casal decidiu criar a Casa de Apoio e a Saúde do Seringueiro (CASS), que chegou a atender 60 pessoas, entre homens, mulheres e crianças. Atualmente a casa está atendendo 18 pacientes.

No local, os pacientes recebem café, almoço, lanche da tarde e janta, além de assistência médica por meio de uma parceria com a Central de Apoio às Entidades de Saúde (Cades).

“Recebemos aqui em nossa casa pessoas de todas as partes do Acre e até de cidades dos estados vizinhos, todas em busca de um local para ficar enquanto recebem tratamento médico. Houve uma época em que hospedamos 60 pessoas, entre homens, mulheres e crianças. E, graças a Deus e aos nossos parceiros, conseguimos atender a todos com alimentação e um local digno para ficar”, comentou Edvaldo.

O programa Mesa Brasil do Sesc também ajuda a entidade com doações de frutas e verduras. Duas vezes por semana, médicos e enfermeiros do Centro de Saúde Claudia Vitorino visitam a casa de apoio para atender os pacientes. Por conta do trabalho sério realizado na CASS, a entidade foi beneficiada com a doação, do Ministério do Trabalho no Acre, de um veículo modelo Doblô, que será usado para o transporte dos pacientes aos hospitais.

No entanto, Edvaldo Paes garante que a maior parte da renda para custear as demais despesas da casa é oriunda da venda dos produtos de material reciclado. Com essa atividade, ele ajuda de forma indireta cerca de 80 pessoas, que trabalham como catadoras recolhendo a matéria-prima que é comprada por ele, e pelo menos outras 15 trabalham na fabricação dos produtos.

“A nossa maior fonte de renda é dos artesanatos. Com o nosso trabalho ajudamos ainda aquelas pessoas que trabalham catando latinhas e garrafas pet. Todo material recolhido por elas, nós compramos aqui e ainda têm as pessoas que trabalham na fabricação dos artesanatos. Sempre quando temos muitas encomendas eu contrato a ajuda dessas pessoas”, disse.

O casal tem um controle rigoroso com a rotina da casa de apoio. Eles acompanham todos os agendamentos de consultas, internações e cirurgias, além de seguir de perto os casos dos pacientes.

“Aqui também temos a preocupação de acompanhar de perto a situação de cada paciente, agendamento de consultas, internações e até cirurgias. Quando essas pessoas estão nas unidades de saúde, nós também acompanhamos a situação deles, como previsão de alta médica entre outras situações”, enfatizou dona Nêna.

Indagados sobre o porquê abrir mão da privacidade, da estabilidade do serviço público e do conforto de um lar convencional, o casal afirma que não há um motivo específico, que apenas são movidos pelo amor ao próximo.

“Eu não sei qual o motivo, apenas me sinto realizado em poder ajudar aqueles que necessitam. É a alegria no coração e o amor pelo irmão”.

No momento, o casal está precisando de ajuda para construir mais um quarto e de uma porta para a sala da casa. Quem quiser conhecer e ajudar a Casa de Apoio pode ir à Rua Cancão de Fogo, Nº 58, bairro Taquari. Ou ligar para os telefones (68) 9916-1162 e (68) 9983-3185. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

 

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