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Agente executado com dez tiros é enterrado sob comoção

Agentes penitenciários protestaram com caixão simbólico
Agentes penitenciários protestaram com caixão simbólico

A execução do agente penitenciário Anderson da Silva Albuquerque, 29 anos, ocorrida na noite de segunda-feira, 2, desencadeou uma série de protestos durante toda a terça-feira, 3. Andersom foi alvejado por vários tiros após chegar a sua residência.

Durante a manhã, a categoria realizou uma carreata pelas principais ruas da capital acreana como forma de protestar pela morte do colega de trabalho. A manifestação seguiu até o local onde a família velava o corpo do agente, localizado na Avenida Ceará. Na chegada, amigos e familiares se emocionaram com a homenagem a Anderson.

Na sequência, os agentes seguiram para a Assembleia Legislativa (Aleac), onde também realizaram protesto pedindo segurança para a categoria. Carregando um caixão, os agentes penitenciários ocuparam o hall da Aleac durante quase quatro horas. No início da tarde uma comissão foi recebida pelos deputados.

No final da tarde, essa mesma comissão, acompanhada de sete parlamentares estaduais reuniram-se com o secretário de Segurança, Emylson Farias, secretário de Polícia Civil, Carlos Flávio Portela Richard e o diretor do Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen), Martin Hessel. Na ocasião foram discutidos meios de melhorar as condições de trabalho da categoria.

De acordo com o líder do governo na Aleac, deputado Daniel Sem (PT), serão listadas as demandas mais urgentes para que as mudanças sejam ocorridas. “Uma série de demandas nos foram apresentadas. Vamos analisar as mais urgentes e tentar viabilizar isso da forma mais rápida possível. Algumas coisas podem ser feitas logo, outras, porém, demanda tempo e valores. Portanto, teremos um tempo a mais para efetivá-las”, disse.

Nos últimos 30 dias, quatro agentes foram mortos em Rio Branco. Em menos de 72 horas é o segundo agente penitenciário morto em Rio Branco. Na sexta-feira, Edmilson da Silva Freire foi assassinado com quatro tiros no banheiro de casa por uma mulher que alegou ter sido estuprada pelo agente e resolveu se vingar. A polícia trabalha com a hipótese de execução. A mulher teria ligação com um detento do presídio Francisco de Oliveira Conde.

O secretário de Segurança Pública, Emylson Farias, afirma que a manifestação é justa, mas que é necessário ter serenidade e equilíbrio no momento de buscar os culpados pela morte do agente penitenciário.

“O sistema de segurança está solidário. Nós compreendemos que é uma baixa enorme a morte do agente. É preciso ter seriedade e equilíbrio na busca dos autores pelo crime, a polícia está empenhada para colocar essas pessoas atrás das grades o mais rápido possível para que possamos restabelecer a paz social”, disse.

A morte de Anderson também gerou muita comoção nas redes sociais. Muitas pessoas lamentaram o crime e se mostraram solidárias à vulnerabilidade com a qual vivem os agentes na Capital. Amigos e familiares do jovem Anderson foram pegos de surpresa pela tragédia.

Em nota divulgada na madrugada de terça-feira, a Secretaria de Estado de Segurança Pública informou que determinou a mobilização imediata dos efetivos das polícias Civil e Militar, para atuarem na elucidação das circunstâncias que envolvem o delito.

Agente velório - OL (4)

Presidente de sindicato afirma a existência de facções criminosas no Estado do Acre
De acordo com o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Acre (Sindap/AC), três facções criminosas seriam responsáveis pelas execuções dos profissionais que atuam no complexo penitenciário de Rio Branco. Seriam elas: Comando Vermelho, PCC e o Bonde dos 13.

“Essas facções são as responsáveis por pelo menos 200 mortes de presidiários nos últimos anos, sendo 23 deles somente nos últimos seis meses, e agora pelas mortes dos agentes”, disse.

Ainda segundo o presidente do Sindap, o Comando Vermelho (CV) foi à primeira facção a se instalar no Acre, seguida pelo PCC. As duas maiores organizações criminosas do país escolheram o Estado por conta da fiscalização na região de fronteira ser uma das mais ineficientes do Brasil.

Já o surgimento do Bonde dos 13 Amigos aconteceu depois que CV e PCC começaram a disputar o comando do tráfico de drogas dentro e fora do presídio.

“O Bonde é uma facção criminosa formada por assaltantes e traficantes acreanos, que foram presos durante a Operação Baixada do Sol. Seus líderes são velhos conhecidos da polícia acreana, identificados como Condongo e Isaac. O problema disso tudo é que os gestores de segurança não admitem a existência desses grupos e nem fazem nada para impedir suas ações”, afirmou Marques.

As denúncias de Adriano Marques foram confirmadas pelo presidente da Associação dos Agentes Penitenciários, José Janes, que disse ainda que a categoria dará início a uma operação padrão, como forma de protesto.

O agente Landstayner Weiner afirmou que todos os agentes penitenciários estão temerosos com essa onda de assassinatos. “Saímos de casa e não sabemos se vamos voltar. Essa situação está insustentável”, concluiu.

No caso de Anderson Albuquerque, além da vingança de um preso, existe outra linha de investigação. O agente era o chefe de equipa no domingo, quando agentes entraram em atrito com familiares dos presos durante a visita.

(Fotos: Odair Leal/ A GAZETA)

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