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Dia de conflito no complexo prisional d’Oliveira Conde

Suspensão de visitas íntimas provocou tumulto na frente do presídio
Suspensão de visitas íntimas provocou tumulto na frente do presídio

A decisão dos agentes penitenciários de suspender as visitas íntimas dos presos no complexo prisional Francisco D’Oliveira Conde, na manhã de quarta-feira, 4, causou transtornos e um verdadeiro “dia de cão” para os gestores da Segurança Pública.

No mesmo instante que eram informadas da suspensão da visita, uma grande confusão se formou em frente ao presídio. Revoltadas, centenas de mulheres iniciaram um manifesto em frente à casa de detenção.

Munidas de pneus velhos, pedaços de madeira e entulhos, as mulheres dos apenados bloquearam a Estrada do Barro Vermelho impedindo o acesso ao presídio e o trânsito de moradores da região.

A decisão de suspensão das visitas foi acordada em assembleia geral da categoria realizada na terça-feira, 3, com representantes do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Acre (Sindap/AC), onde foi deliberada também uma greve por tempo indeterminado.

A decisão de radicalizar foi adotada depois das duas mortes de agentes penitenciários ocorridas nos últimos dias.

O presidente do Sindap/AC, Adriano Marques, disse que o ato de protesto não tem nada a ver com retaliações aos visitantes, mas sim pela busca de melhorias de trabalho para a categoria.

“O manifesto é contra a falta de condições de trabalho, pois os agentes não têm equipamentos suficientes para garantir a integridade física dos visitantes, dos servidores e dos presos. Portanto, não é um ato de retaliação, é um ato de melhores condições de trabalho que está abandonada pelo setor público”, disse.

(Foto: Gleidyson Meireles/ A GAZETA)

Princípios de motim e quebradeira
A notícia da suspensão das visitas rapidamente se espalhou dentro do complexo prisional. Por conta disso, os presos deram início a um princípio de motim, que resultou em pelo menos três celas depredadas e dezenas de colchões queimados.

No município de Sena Madureira, detentos do presídio Evaristo de Moraes também queimaram colchões e outros objetos, além de ameaçarem de morte os agentes penitenciários plantonistas.

Nas duas unidades prisionais, o motim foi controlado depois da intervenção de equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), da Polícia Militar. Unidades do Corpo de Bombeiros foram acionadas para conter os focos de incêndio dentro dos pavilhões.

No Francisco D’Oliveira Conde, os pavilhões mais afetados pelo motim foram o “B” e “N”.

Do lado de fora o clima ficou mais tenso quando os familiares presenciaram a chegada das equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e dos Bombeiros, além de ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Algumas mulheres passaram mal e chegaram a desmaiar depois que começou a circular, por meio de grupos de WhatsApp, a notícia falsa de pelos menos três mortes dentro da penitenciária.

Uma delas chegou a afirmar que o marido teria enviado uma mensagem de dentro do bloco conhecido como “chapão”, informando sobre as mortes.

A direção do presídio, agentes penitenciários e a polícia negaram as mortes e conseguiram conter os ânimos mais exaltados das manifestantes.

No final da tarde, o diretor-presidente do Instituto de Administração Penitenciária (Iapen), Martin Hessel, informou que o motim dos presídios, promovido pelos presos, no presídio de Sena Madureira e em Rio Branco, havia sido controlado pela Polícia Militar.

“Não houve uma rebelião. Foi apenas um motim por conta da suspensão das visitas, mas já está tudo controlado”, disse Hessel.

Selfie do motim

Foto de cela pegando fogo circulou em redes sociais
Foto de cela pegando fogo circulou em redes sociais

Após iniciarem um motim e incendiar colchões dentro das celas, os detentos do presídio Evaristo de Moraes, em Sena Madureira, fizeram questão de registrar o momento. Uma foto passou a circular pelas redes sociais em que presos aparecem fazendo pose para o registro fotográfico tendo ao fundo a imagem do fogo dentro da cela.

A selfie se espalhou rapidamente por meio de grupos de grupos de WhatsApp, onde a maioria dos integrantes são familiares dos apenados. A imagem demonstra a fragilidade do sistema prisional acreano, onde detentos diariamente, por meio de celulares com acesso à internet, atualizam páginas nas redes sociais.

PM assumirá funções dos agentes, determina juíza
Por conta da confusão ocorrida nos presídios de Rio Branco e Sena Madureira e do anúncio de uma greve por tempo indeterminado, a juíza da Vara de Execuções Penais (VEP) da Comarca de Rio Branco, Luana Campos, deferiu o pedido formulado pela presidência do Instituto de Administração Penitenciaria do Acre (Iapen), para que a Polícia Militar (PM) auxilie nas atividades penitenciárias.

De acordo com a decisão assinada pela juíza Luana Campos, titular da unidade judiciária, “se for o caso, a polícia deverá auxiliar na realização de escoltas de presos para comparecimento em audiências judiciais ou hospitalares, objetivando, assim, garantir a ordem e evitar possíveis rebeliões nos presídios”.

A medida vale para todas as unidades prisionais da Capital e surtirá efeito até o anúncio da decisão pelo juízo da Fazenda Pública acerca da legalidade da greve dos agentes penitenciários.

Ao deferir o pedido, a magistrada levou em consideração a movimentação e ameaça de paralisação por parte dos agentes penitenciários.

Deputado exige providências para caso da mulher que comemorou a morte de agente em rede social

GLEYDISON MEIRELES

Em seu primeiro discurso na tribuna da Assembleia Legislativa (Aleac), o deputado Luiz Gonzaga (PSDB) chamou atenção das autoridades de Segurança Pública para o caso da mulher do preso que comemorou a morte do agente penitenciário Anderson Albuquerque, por meio das redes sociais.

O parlamentar exigiu providências imediatas, já que a mulher, identificada como Vanessa Passos, fez claras ameaças quando afirmou, em sua publicação, que “E ai se vai mais um agente de ralo, e assim vai continuar sendo se eles não aprenderem a respeitar mulher de malandro…”

“É gravíssima a denúncia, tudo o que temos visto nos últimos tempos. Não podemos esperar, pois o assunto exige urgência”, declarou.

Luiz Gonzaga defendeu medidas enérgicas por parte da Segurança Pública sob pena de aumentar o número de mortes de agentes.

“O nosso medo é que a situação fique insustentável e mais pessoas sejam vitimadas. Precisamos de providências. Checar as denúncias. Precisamos de uma resposta do poder público”, declarou.

Em coletiva, polícia nega que mortes tenham ligação com facção criminosa

Cúpula da Polícia Civil negou versões populares
Cúpula da Polícia Civil negou versões populares

GLEYDISON MEIRELES

Durante coletiva realizada na manhã de quarta-feira, 4, com a presença do secretário de Polícia Civil, Carlos Flávio Portela, e o diretor de Polícia da Capital e do interior, Nilton Boscaro, afirmaram que as mortes dos agentes penitenciários Anderson Albuquerque, de 29 anos, e Edmilson Freire, de 44, executados a tiros, não estão relacionadas e nem que as execuções tenha sido encomendadas por membros de facções criminosas, como foi dito pelo presidente do sindicato dos agentes penitenciários.

“Desde que a polícia tomou conhecimento dos fatos, começou a trabalhar e apurar.Nesse primeiro caso, ocorrido na sexta-feira, 30, houve uma prisão em flagrante e trabalhamos com uma linha de investigação com relação a crime passional. No segundo caso, que ocorreu nesta segunda-feira, 2, gostaria de deixar claro que também foram tomadas todas as providências e não descartamos possíveis prisões nas próximas horas”, explicou o secretário.

Portela ressaltou ainda que a qualquer momento, a polícia pode cumprir os mandados de prisão e apresentar os suspeitos dos homicídios para a sociedade. “Não descartamos que nas próximas horas alguns mandados de prisão sejam cumpridos. Estamos esperando que alguns laudos sejam concluídos para que essas pessoas sejam apresentadas à sociedade”, esclareceu.

O delegado e diretor de Polícia da Capital e do interior, Nilton Boscaro, reafirmou que as mortes dos agentes de segurança ocorreram em momentos diferentes e, portanto, não teriam relação entre si.

“As mortes dos agentes não têm nenhuma ligação entre si. A gente ouve muito da sociedade, até dos próprios policiais falando que as coisas estão descontroladas, mas não estão”, afirmou.

Parlamentar afirma que execução de agentes é responsabilidade do próprio sindicato

MARCELA JANSEN

O deputado Jonas Lima (PT), em discurso na tribuna da Assembleia Legislativa  (Aleac), na manhã desta quarta-feira, 4, afirmou que as supostas execuções dos agentes penitenciários, ocorrida nos últimos meses, têm como principal responsável o presidente do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Acre (Sindap/AC), Adriano Marques.

“O que está acontecendo com os agentes é culpa do próprio sindicato. O maior responsável é o próprio presidente”, disse o parlamentar.

Segundo o parlamentar, a Segurança Pública do Estado está trabalhando da melhor forma possível. Para ele, a resposta desse trabalho é vista a partir do momento em que se percebe o aumento no número de presos.

“O Governo do Estado tem colaborado para a melhoria da nossa Segurança Pública. Podemos ver isso quando analisamos a quantidade de presos nas penitenciárias. Lá tem muitos presos e isto é ótimo, porque eu não apoio preso, agora o que acontece com os agentes não é responsabilidade do governo, é do próprio sindicato”, frisou.

Na última segunda-feira, 2, o agente penitenciário Anderson Albuquerque Guimarães foi assassinado quando chegava a sua residência.

O presidente do Sindap, Adriano Marques, afirmou que a falta de estrutura de trabalho está colocando em risco a vida dos agentes. “Falta scanner corporal, bloqueadores de celular, iluminação de emergência, coletes, armas, vigilância com câmeras e um contingente adequado. Se o governo não investir no sistema, os agentes vão continuar sendo assassinados. Nossa categoria enfrenta as piores condições de trabalho possíveis”, declarou.

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