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A hora da voz do povo!

A forte impressão e os fatos espantosos causados pelos últimos acontecimentos, envolvendo homens e mulheres que exercem relevantes cargos públicos, em crimes de corrupção, organização criminosa, formação de cartel, fraude em licitações e lavagem de dinheiro descomunal, numa “podridão” generalizada, nos faz refletir sobre a ambição dessa gente privilegiadíssima em relação a milhões de outras pessoas que sobrevivem em meio as agruras da existência humana. Diante desta “coisa” faço uso de duas reflexões:

A primeira cogitação passa inicialmente pela revolta, principalmente porque, de Norte a Sul, segmentos da sociedade brasileira, em sua totalidade, estão cansados em debater, exaustivamente, determinados assuntos que afetam diretamente o povo, sem encontrar eco, nos fazendo sentir como travestidos de palhaços ou como camelôs oferecendo produto pirateado, sem que ninguém leve a sério. A imprensa que faz jornalismo sério, em muitas ocasiões, anos mesmos, é a única voz deste povo; voz do que clama no deserto, a voz da fraqueza diante da força, a voz dos deslocados num mundo de portas que não se abrem ao sésamo. É a voz do profeta Amós às portas da cidade, a abjurar os que amealham riquezas ilícitas em detrimento da miséria do povo. É a voz de
Diógenes em seu barril, ou de Antístenes em seus andrajoso ou trapos.

Cansado dessa representação “fascista” a voz do povo deve ser ouvida no próximo domingo, dia 15/03/2015. Essa voz é a reverberação da manifestação de 13 de junho de 2013. É a desconstrução, pacífica, do Brasil que, no dizer Ortega Y Gasset, “deu as costas aos valores  da tradição liberal e introduziu na vida pública um estilo de ação baseado sobre a sistemática agressão e cancelamento do outro, sobre idolatria do chefe carismático e sobre o estatísmo totalitário”.

É a quebra do invólucro da linhagem  perversa do novo fascismo, inserido num contexto de “comunidade” que ao invés de se organizar para a consecução de fins coletivos, termina por fazer parte duma organização que tem por fim, na maioria das vezes, o interesse patrimonial, o prestígio e a glória dos governantes, pois é fato, inegável, que muitas vezes os governantes buscam o bem próprio e não o dos governados.

A segunda reflexão é de foro íntimo. Forçosamente, estou sendo provocado, por conta da lambança das autoridades constituídas, a colocar em prática a insensibilidade do ceticismo de Pirro de Élida (365-275 a.C) doutrina da descrença na capacidade humana de conhecimento da verdade, e praticar a indiferença, abster-me de julgar, pois quando opino estou julgando, privar-me de fazer juízo e, sobretudo colocar em prática a Afasia que no grego significa literalmente falta de palavra. Essa atitude do não-dizer-nada de definitivo com valor de verdade, tem como  fim  não ter perturbações de qualquer grau. Afinal, ninguém é de ferro, este articulista também tem seus momentos de angústia e perturbação, acarretados, sobretudo  pelo descaso de instituições, algumas estatais, que vivem para espoliar os minguados R$ do povo.

Estou inclinado, sim, no íntimo da alma, a experimentar um estado de Afasia, atitude cética mesmo, e abster-me de afirmar ou de negar alguma coisa a respeito de tudo o que permeia a vida pública brasileira. Mesmo porque, estamos sem sensibilidade de forma a produzir uma mudança que induza necessariamente a fazer valer os mínimos e necessários direitos para a sobrevivência da gente simples. É notório que, atualmente, vivemos a própria abstenção do juízo.

Essa minha vontade de suspensão de toda asseveração, apesar de radical, se constitui numa atitude sábia, uma vez que ao assumir viver diretamente essa Afasia, ou seja, calar e não expressar qualquer julgamento definitivo experimento, momentaneamente, uma condição de imperturbabilidade, que não se abate ou se incomoda por nada. Pondo-me à parte de tudo aquilo que pode perturbar ou afetar a minha “serenidade”.

Todavia, opto por acender uma vela em favor do Santo Otimismo, que ainda existe nos corações dos milhões de brasileiro. Otimismo, que enche de expectativa e esperança de um dia possuir um parlamento voltado unicamente para os interesses da nação. Que os novos e os antigos congressistas priorizem a tarefa de apagar da mente da nação brasileira o alto índice de descrédito que a população detém pelo Congresso Nacional, ocasionados pelos vexatórios escândalos políticos.

Do mesmo modo, que resgatem o respeito Nacional pelo legislativo como a arte de bem governar e legislar os negócios públicos. É pedir demais?

*Pesquisador  Bibliográfico em Humanidades.
E-mail: assisprof@yahoo.com.br

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