A capital acreana registrou em 2015 a maior cheia em 132 anos, com mais de 80 mil pessoas atingidas. O nível da água, que chegou a marca histórica de 18,40 metros, aos poucos segue normalizando. Na medição das 12h de sábado, 7, o manancial registrou o nível de 17,24 metros, apresentando vazante de 1 metro e 13centímetros.
Em entrevista ao jornal A GAZETA, o prefeito de Rio Branco, Marcus Alexandre (PT), falou sobre o trabalho desenvolvido pela prefeitura, em parceria com o Governo do Estado e Federal, durante o período de transbordamento do Rio Acre. O prefeito ressaltou que essa é uma ação em conjunto e foi fundamental para manter a situação sob controle na cidade.
“Estamos diante da maior tragédia natural que Rio Branco já viveu. Muitas pessoas foram atingidas direta e indiretamente. Sem sombra de dúvida que a parceria com o Governo do Estado e Federal foi de extrema importância”, afirmou.
Quanto aos danos causados pela enchente, de acordo com o líder político, ainda não é possível ter uma previsão de todos os prejuízos.
“Ainda não temos como mensurar a proporção dos danos. Apenas podemos afirmar que eles existem. A certeza é que vamos ter muito trabalho para recuperar a cidade. Será necessário um investimento muito grande”, salientou.
Marcus Alexandre destacou, também, o trabalho voluntário realizado por mais de 2.000 mil pessoas ao longo de toda a semana passada, perío-do em que o rio chegou à marca de 18,40m.
“Não podemos deixar de frisar a importância do trabalho realizado por quase 2.100 voluntários no auxílio às vítimas da alagação. Nossa população está de parabéns. Todos se uniram em favor dessa causa”, disse.
O Rio Acre ultrapassou a cota histórica registrada em 1997, quando atingiu 17,66 metros. De acordo com dados da Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Rio Branco, 26 abrigos públicos foram montados na Capital para receber as vítimas da enchente, todos ficaram lotados. A cheia já atingiu 53 dos 212 bairros da cidade, desabrigando 3.014 famílias, o que equivale a 10.599 pessoas. A cheia afetou 86.937 pessoas e 24.713 edificações.
Normalmente, o Rio Acre apresenta o nível de 6 a 8 metros e pode ficar abaixo de 3 metros em períodos de seca.
ENTREVISTA:
A GAZETA – Diante da proporção que o transbordamento do Rio Acre tomou nos últimos dias, já se pode ter noção do prejuízo causado?
Marcus Alexandre – Sem dúvidas, estamos vivenciando um dos momentos mais delicados em nossa cidade. Não existe, na história acreana, um nível fluvial que supere a marca de 2015, chegamos a 18,40m na tarde da última quarta-feira. A água chegou a pontos que nunca tinha atingido, alagando bairros que nunca foram alcançados. Ainda não temos como mensurar a proporção dos danos, apenas pode-se afirmar que eles existem. A certeza é que vamos ter muito trabalho para recuperar a cidade. Será necessário um investimento muito grande.
A GAZETA – Em relação à reestruturação dos bairros, já existe alguma estratégia de revitalização?
M. A. – Esse é o momento mais difícil. Sabemos que várias ruas dos bairros que foram tomadas pelas águas, diante disso podemos imaginar o acúmulo de lixo e entulhos que vai ficar quando as águas baixarem. Já iniciamos o diálogo com o Governo do Estado e vamos montar uma operação conjunta unindo as forças do município, Estado, Exército Brasileiro e empresários. O intuito é mobilizar mais de 60 equipes para iniciar o processo de limpeza para as pessoas poderem voltar em segurança para as suas casas.
A GAZETA – Como ocorrerá esse processo de limpeza?
M. A. – Temos um plano que começa pela limpeza, desobstrução de vias, priorizando vias que são acessos de ônibus, para podermos reestabelecer as linhas de ônibus o mais rápido possível. Na sequência, vamos entrar nas ruas adjacentes e consequentemente ajudar as famílias a limpar seus quintais, quando necessário. E por último, a desinfecção. Já mobilizamos nossos agentes de endemias, para fazermos um trabalho preventivo. Isso é muito importante.
A GAZETA – A prefeitura já tem uma estimativa de tempo para finalizar a revitalização da cidade pós-cheia?
M. A. – Ainda estávamos nos recuperando do dano das alagações passadas e o nosso esforço agora vai ser triplicado. Na minha experiência como engenheiro vamos demorar alguns anos para reconstruir o que foi perdido. Neste momento, precisamos contar com a compreensão de todos, estamos passando pela maior tragédia natural enfrentada pelo Estado. A ajuda do governo estadual e federal também será fundamental.
A GAZETA – Medidas foram tomadas para assegurar a segurança da população e o funcionamento da cidade. A parceria com o Governo do Estado foi fundamental para manter o controle?
Marcus Alexandre – O governador Tião Viana, foi um grande parceiro. Desde o primeiro momento que o rio começou a encher, a estrutura governamental foi colocada a nossa disposição para atender a demanda das famílias. Não resta dúvida que essa parceria foi fundamental para que se tivesse controle da situação.
A GAZETA – Quais foram as principais medidas conjuntas que foram adotadas para atender a demanda, durante esse período de cheia?
M. A. – Existe um trabalho estratégico em parceria com o Governo do Estado e todas as medidas que estão sendo tomadas são conjuntas. Um exemplo foi o decreto do ponto facultativo até a próxima sexta. Não havia nenhuma condição da cidade funcionar normalmente. Outra decisão conjunta foi o bloqueio do trânsito no centro por conta das pontes e principalmente pensando na segurança da população. Tivemos também o fornecimento de energia interrompido nos bairros atingidos e duas pontes bloqueadas para tráfego.
A GAZETA – Quais os maiores desafios enfrentados ao longo da semana?
M. A. – Sem dúvida foi atender ao chamado da população, que nos procurava pedindo ajudar para sair de suas residências devido às águas. O pior dia foi na quarta-feira, quando registarmos mais de três mil ocorrências de pedido de ajuda. Nossa principal ação foi garantir a integridade física de nossa população. Toda a ajuda que recebemos foi fundamental para o resultado positivo. É claro que muitas coisas precisam ser ajustadas.
A GAZETA – Qual a importância do trabalho voluntário durante todo esse processo?
M. A. – A palavra de ordem durante toda a semana foi solidariedade, sem sombra de dúvida. Tivemos muitos voluntários tanto na retirada das famílias das áreas alagadas como também nos abrigos. Tivemos muitos parceiros e cada um foi fundamental para a realização desse trabalho. Quase 2.100 voluntários estão trabalhando para auxiliar as vítimas da alagação, além de mil homens do Corpo de Bombeiros, Exército, prefeitura e Governo do Acre. Essas pessoas fizeram e fazem a diferença.
A GAZETA – O ministro da Integração Nacional esteve no Estado, durante a última semana, com o intuito de prestar o apoio necessário às vítimas. Entre as ações do ministro, quais o senhor considera como importante?
M. A. – O apoio do Governo Federal, através do ministro, Gilberto Occhi, que esteve por duas vezes em Rio Branco, por determinação da presidência foi e é de fundamental importância. Já recebemos os primeiros recursos enviados pelo Governo Federal que beneficiará diretamente essas famílias. Recebemos auxílio também com a entrega de kits para serem distribuídos entre as vítimas, além da liberação de 966 casas pelo programa Minha Casa Minha vida.
A GAZETA – Como está sendo feita a distribuição dos kits?
M. A. – A primeira etapa da entrega dos kits tinha como prioridade os municípios que foram atingidos primeiro na cheia, portanto, Assis Brasil, Brasileia, Epitaciolândia e Xapuri são as cidades que estão recebendo nesse momento os kits que chegara. Os kits que serão direcionados a Rio Branco chegam entre domingo e segunda-feira.
A GAZETA – Muitas famílias já estão retornando aos seus lares. A prefeitura tem feito algum trabalho no sentido de orientar pessoas quanto ao retorno de seus lares?
M. A. – Com certeza. Mesmo com a vazante registrada durante toda esta quinta-feira, ainda não é o momento das famílias retornarem para suas residências. Peço à população que tenha calma para retornar as suas casas. Devemos entender que o ideal é retornar na hora que o rio ficar abaixo da cota de alerta, que é 13,50 metros. Portanto, o rio precisa descer mais de três metros para iniciarmos o trabalho de limpeza. As equipes de saúde do município e do Estado vão fazer uma inspeção nos bairros, há uma preocupação grande com as doenças transmissíveis. Além disso, a Defesa Civil vai verificar as áreas de desbarrancamento antes de deixar as pessoas voltarem para casa.