X

Desalojados pelo Rio Acre querem voltar para casa após maior tragédia natural

Abrigos espalhados pela cidade serviram de refúgio temporário para as vítimas da enchente. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

“Deus está ouvindo minhas preces, ainda bem que as águas estão baixando”, falou a dona de casa, Maria de Lima, que atualmente está alojada no abrigo localizado no Ginásio do Sesi, em Rio Branco. Ela é moradora do Baixada da Habitasa, um dos mais de 50 bairros atingidos pela cheia histórica do Rio Acre na Capital do Estado.

Apesar da vazante apresentada nos últimos dois dias, a Defesa Civil Estadual afirma que o nível continua mais de três metros acima da cota de transbordamento. Além disso, a previsão é de chuva para os próximos dias e com isso, as águas poderão subir novamente.

Maria de Lima se entristece ao lembrar que perdeu alguns móveis e que a casa certamente precisará de reparos quando as águas baixarem de vez. “É triste ver algo que lutamos tanto para conquistar a água simplesmente levar. Mas, o importante é que estamos vivos, meus filhos e meu marido”.

A família de Maria teve sorte. Já outras pessoas, como a diarista Francisca do Rosário, perderam o pouco que tinha num quarto alugado no bairro Cadeia Velha. “Não sei o que fazer. Perdi tudo, até mesmo o emprego, porque as casas onde eu trabalhava também estão alagadas”, lamentou a diarista.

A empregada doméstica, Maria Lúcia Souza, tenta animar as ‘vizinhas’ de boxe. “Gente, temos que dar graças a Deus por nós estarmos vivas. Nós passamos por uma tragédia nunca antes vista na nossa cidade. Vamos crer que dias melhores virão”.

Desde o dia 22 de fevereiro, data em que o Rio Acre, superou a cota de transbordamento na Capital do Acre. Desde então, mais de 900 ruas foram afetadas pelas águas. Estima-se que 24,7 mil edificações foram atingidas.

Atualmente, duas pontes ainda continuam interditadas. As 3.014 mil famílias estão alojadas em 26 abrigos públicos, o que representa quase 10,6 mil pessoas. Todos os dias são servidas 29.545 refeições nos abrigos. Mais de 2,1 mil voluntários colaboram para o bem- estar das famílias nos abrigos.

Onde a água recuou iniciam os trabalhos de limpeza

O calçadão da Benjamin Constant foi a primeira área a receber a limpeza. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

BRUNA LOPES

Devido a vazante do Rio Acre, a sexta-feira, 7, foi marcada pela limpeza das lojas e casas atingidas pelas águas. No Calçadão da Benjamin Constant e no camelódromo central, próximo ao Terminal Urbano, comerciantes contabilizam os prejuízos. Nesta sexta-feira, 6, a Prefeitura de Rio Branco, em parceria com o Governo do Estado, iniciou as ações de limpeza por toda a cidade.

Mais de uma tonelada de entulhos já foram recolhidas. Cerca de 20 homens da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) estão envolvidos na operação. Além do serviço de retirada de entulho, as ações de limpeza incluem a lavagem das ruas.

O comércio na região central da cidade reabriu as portas. O trânsito liberado também colaborou para a volta da rotina. “Foi triste chegar ao Calçadão e ver lixo por toda parte, além do mau cheiro”, relatou o comerciante Valério Silva.

“O verdadeiro trabalho agora que começou”, destacou o José Lima enquanto trabalhava na limpeza do boxe. Já a comerciante Deise Torres contabilizava os prejuízos na volta ao boxe onde trabalha há mais de cinco anos.

“A água nunca veio até aqui. Foi muito rápido. Meu prejuízo é de mais ou menos R$ 10 a 15 mil. Vou jogar tudo fora, não tem como aproveitar nada”, lamentou.

Além de Rio Branco, o município de Brasileia também passa por um trabalho de limpeza. Em quatro dias e meio de trabalho, a operação já retirou 3.200 toneladas de entulhos da parte central da cidade. Ao todo, 40 máquinas, entre caçambas, caminhões-pipas, caminhões de apoio, retroescavadeiras e outros maquinários, estão sendo utilizados no trabalho de higienização.

A população está sendo orientada sobre o uso correto do kit de limpeza, utilizado para desinfecção de casas, caixas e depósitos de água, além dos cuidados a serem tomados com a manipulação e armazenamento dos alimentos. As doenças comuns nessa época, também preocupam como leptospirose e hepatites. Acidentes com animais peçonhentos, como cobras, aranhas e escorpiões, por exemplo, se tornam muito comuns, durante a limpeza.

Com a descida do rio, crescem os riscos de doenças e de animais peçonhentos

DA REDAÇÃO

Durante a enchente do Rio Acre, a preocupação da Defesa Civil, dos bombeiros e de voluntários era salvar vidas. Levar a população para um local seguro. E tudo foi feito com muita dedicação. O número de voluntários foi algo surpreendente, principalmente de jovens estudantes. Mas agora o Rio Acre começou a descer, e os problemas são outros. Questões mais difíceis de resolver.

Em breve, as famílias vão voltar pra casa. O retorno exige todo um preparo: lavar paredes com água sanitária, dispensar restos de alimentos, usar luvas e botas mesmo que seja para andar dentro de casa e tentar evitar ao máximo o contato com as águas da enchente, pois estão contaminadas.

Durante a remoção de móveis da casa, é preciso ter muito cuidado com cobras e outros animais que também buscaram um local seguro para ficar.

Durante a retirada de balseiros encalhados na ponte metálica, em um único dia foram encontradas mais de 50 cobras das mais variadas espécies. E esse problema tende a aumentar agora, quando as águas baixarem mais.

Após vazante, margens do Rio Acre em Xapuri começam a desmoronar

MARCELA JANSEN

Em virtude das fortes chuvas que voltaram a cair na região do Alto Acre nos últimos dias, o nível do Rio Acre voltou a subir naquela região. Diante da possibilidade de uma nova cheia, o prefeito de Xapuri, Marcinho Miranda (PMDB), já busca estratégias para evitar que o transtorno causado na última enchente se repita. O prefeito teme que um novo transbordamento possa agravar ainda mais a situação do município.

“Vivemos momentos de desespero nos últimos dias, com essa cheia que foi a pior já enfrentada por Xapuri. Como as chuvas voltaram a cair na região, nossa maior preocupação é que o rio volte a encher e agrave ainda mais os problemas no município”, disse.

O primeiro-secretário da mesa diretora da Assembleia Legislativa (Aleac), deputado Manoel Moraes (PSB), lembra que Xapuri enfrenta no momento um desbarrancamento em decorrência da alagação.

“No momento, alguns desbarrancamentos estão ocorrendo às margens do Rio Acre, em Xapuri. Estamos todos atentos a essa situação. Nossa maior preocupação é que comércios e residências possam desmoronar”, relatou.

O deputado Antônio Pedro (DEM) relata que devido o desbarrancamento, a travessia no bairro Sibéria, que é feita através de balsa, está comprometida. “A prefeitura improvisou um desvio para normalizar o acesso à balsa. Porém, ainda assim, essa situação nos preocupa, pois a balsa é o único acesso para aquele bairro. Reforço aqui o meu pedido ao Governo do Estado para viabilizar a construção da ponte. Isso, hoje, é mais do que necessário”, pontou o deputado.

O prefeito de Xapuri ressaltou a importância de a população não retornar as residências enquanto a situação persistir. “Peço que a população continue alerta às recomendações da Defesa Civil e aguarde a vistoria antes de retornar aos seus lares e comércios”, finalizou.

A cidade, de pouco mais de 16 mil habitantes, teve boa parte da área urbana invadida pelas águas dos rios Acre e Xapuri. Ruas, casas, praças, terminal rodoviário, hospital, comércios e órgãos públicos instalados na região central do município, além da casa e do Centro de Memória Chico Mendes foram tomados pelas águas.

Marinha do Brasil realiza fiscalização no Rio Acre 
A partir desta sexta-feira, 6,  uma equipe da Marinha do Brasil estará fazendo a fiscalização e inspeção naval do Rio Acre. As ações visam a segurança da navegação, a proteção da vida humana e do meio ambiente.

Algumas embarcações acabam contribuindo para o agravamento do problema enfrentado pela população de Rio Branco com a cheia do Rio Acre. A potência dos motores dessas embarcações provoca ondas que derrubam os barrancos e as casas atingidas.

“O objetivo é intensificar as ações na água por conta dos excessos que estão ocorrendo, como o abuso na velocidade e lanchas e jet ski”, afirma o capitão-tenente Lemos da Marinha do Brasil.

Uma equipe da Agência Fluvial de Boca do Acre foi deslocada para Rio Branco para realizar a fiscalização. As embarcações utilizadas para a fiscalização serão jet ski e uma lancha de pequeno porte, que possibilita uma maior mobilidade da equipe. (Agência Acre)

TJ/AC instala Centro de Solução de Conflitos no Parque de Exposições
Dando continuidade às ações de apoio e solidariedade às pessoas que vivem um momento de extrema vulnerabilidade social devido à cheia histórica que assola a Capital, o Tribunal de Justiça do Acre instalou na tarde desta sexta-feira, 6, um núcleo do Centro Judiciário de Solução de Conflito e Cidadania (Cejus) no Parque de Exposições Castelo Branco, local em que mais de cinco mil vítimas da enchente estão alojadas.

Por tempo ainda indeterminado, o núcleo do Cejus, que está funcionando em um ônibus do Poder Judiciário do Acre, nas proximidades do refeitório do abrigo, tem como objetivo resolver conflitos amigavelmente por meio da conciliação.

Durante a instalação do núcleo, a presidente do Tribunal de Justiça, desembargadora Cezarinete Angelim, voltou a parabenizar magistrados e servidores pelo esforço voluntário em tentar minimizar o sofrimento de milhares de famílias que se encontram nessa condição de vulnerabilidade. “Esse trabalho voluntário engrandece o Poder Judiciário”, enfatizou a chefe da Corte de Justiça Acreana. A desembargadora-presidente destacou ainda os benefícios da Justiça da Conciliação, como a pacificação social, tratando-a como “a Justiça do milênio”.

Funcionamento do Cejus no abrigo
Para a execução dos trabalhos, de acordo com o juiz de Direito Substituto Alex Oivane, designado pela Presidência do TJ/AC para dirigir os trabalhos no parque de exposições, o Cejus funcionará, das 13h às 19h, com dois conciliadores, dois estagiários de Direito, além de servidores originariamente lotados nos Juizados Especiais da Comarca de Rio Branco.

“O objetivo é resolver os conflitos de forma amigável, por meio de conciliação. Se houver necessidade, haverá desdobramento judicial, tão logo a crise seja superada. Por isso, quem buscar o serviço avançado do Cejus precisa informar o número de seu telefone e endereço para que possa ser localizado após sair do abrigo”, explicou o magistrado.

A vantagem da conciliação
Além de aumentar a sensação de segurança, a conciliação também promove a pacificação social, já que as partes passam a ter suas relações de amizade (e até familiares) restauradas, as quais estavam muitas vezes interrompidas após meses ou anos de brigas, desentendimentos e litígios. (Agência TJ/AC)

Solidariedade: Senac do Acre lança campanha ‘Senac Solidário’
Com o intuito de contribuir e ajudar a população que sofre com a cheia do Rio Acre, que já se tornou a maior da região amazônica, o Senac com o apoio da Fecomércio, lançou na última segunda-feira, 2, a campanha “Senac Solidário”, oferecendo uma vasta programação a todas as faixas etárias, que oferece as famílias atingidas pela cheia do rio na Capital, serviços de corte de cabelo, palestras e minicursos.

O Senac está atendendo desde o início da semana as famílias do abrigo montado no Parque de Exposição. Além dos cortes gratuitos e das palestras oferecidas, iniciou nesta quarta-feira, 4, o curso de produção de lençóis e toa-lhas de banho em alta escala, onde o que for confeccionado será doado para os atingidos pela enchente.

Todas as unidades educacionais do Senac estão sendo ponto de coletas para arrecadação de alimentos não perecíveis, fraldas descartáveis, leite em pó, produtos de higiene pessoal, roupas, colchões, cobertores.

“O Sistema Fecomércio/Sesc/Senac não poderiam deixar de contribuir para que as famílias atingidas tenham acolhida. Nossa expectativa é atender bem a todos os desabrigados, muitos deles que em decorrência da rápida elevação das águas não tiveram condições de retirar nada de suas residências e perderam tudo. Estamos apreensivos com a quantidade de pessoas nos abrigos mas nossa equipe está toda envolvida e pronta para ajudar a todos.

O Senac está à disposição do governo e da sociedade com o objetivo de minimizar a dor de todos os atingidos, além de proporcionar uma qualificação que irá oferecer uma renda a todas as famílias. Toda ajuda que pudermos oferecer com certeza será de bom grado. Esse é um momento de união. Contamos com a solidariedade de todos”, ressaltou o diretor regional em exercício do Senac, Abrão Maia. (Assessoria Fecomercio/AC)

OCA passa a emitir “declaração de alagados” para vítimas da enchente
A “declaração de alagado”, documento usado para comprovar que alguém teve sua residência atingida pela enchente do Rio Acre, usado, principalmente, para fins trabalhistas estava sendo expedido no quartel do Corpo de Bombeiros.

Contudo, diante da grande demanda, o Governo do Estado e a Prefeitura de Rio Branco decidiram transferir o atendimento para a sede da Organização de Centrais de Atendimento (OCA) da Capital.

O atendimento no novo local teve início às 13 horas desta sexta-feira, 6. Neste sábado, 7, e no domingo, 8, o atendimento será das 8 às 17 horas.

Para requerer a declaração o cidadão deve apresentar os seguintes documentos: RG, CPF e comprovante de residência. (Agência Acre)

NOTA DE ESCLARECIMENTO
Rio Branco enfrenta a maior enchente registrada em toda sua história. Uma tragédia que já afeta mais de 80 mil pessoas e 53 bairros foram diretamente atingidos. Diante dessa calamidade, o Governo do Estado e a Prefeitura de Rio Branco elaboraram um Plano de Apoio para o retorno das famílias as suas residências. Uma das medidas fundamentais é garantir, prioritariamente, o abastecimento de água potável nas áreas alagadas.

O Depasa esclarece que mesmo com as estações de tratamento operando em sua capacidade máxima de produção, em algumas regiões o fornecimento de água deverá ser realizado em sistema de rodízio nos próximos oito dias, tendo em vista a necessidade de garantir o abastecimento ininterrupto nas regiões afetadas.


O Governo do Acre pede a compreensão de todos diante dessa medida emergencial e informa que as localidades abaixo listadas seguirão um cronograma específico de abastecimento:


Sábado (7/03), terça-feira (10/03) e sexta-feira (13/03) – Jorge Lavocart, Conjunto Raimundo Melo, parte da Rua Joaquim Macedo, Bairro Placas, Loteamentos São Jorge e Novo Horizonte e Vila nova I e II.


Domingo (8/03), quarta-feira (11/03) e sábado (14/03) – Custódio Freire, Irineu Serra, Conjuntos Adalberto Sena, Wanderley Dantas e Xavier Maia, Loteamentos Copacabana e Céu Azul,Residenciais Envira, Purus, Juruá e Novo Andirá.


Segunda-feira (9/03) e quinta-feira (12/03): O fornecimento de água será para: Conjunto Defesa Civil, Conjuntos Tancredo Neves e Santa Helena, Loteamentos Santo Antônio, Jatobá e Santa Mônica, Estrada do Mutum e Conjunto Mulateiro, Bairro Alto Alegre, Residenciais Vila Rio Verde, Joarez Távora e Montanhês.


Na oportunidade, salientamos que as demais regiões permanecerão com seu fluxo normal de abastecimento.

Categories: Flash Geral
A Gazeta do Acre: