X

No Taquari alagado, a solidariedade de uma médica do Programa Mais Médicos é o conforto em meio à tragédia

Belkis Hernandez é médica cubana e está atendendo vítimas da alagação voluntariamente

Palco da maior catástrofe natural deste século na Amazônia, Rio Branco guarda histórias de lutas e superação no cotidiano imposto pela cheia do Rio Acre, mas guarda principalmente histórias de solidariedade, mostrando a essência de ações governamentais como o Programa Mais Médicos, criado há três anos pela presidenta Dilma Rousseff para elevar o atendimento médico nas regiões mais carentes do País.

Em Rio Branco, o Taquari é o primeiro a sofrer a com cheia do rio porque, observa a Defesa Civil, está localizado em um platô pouco acima da cota regular. Os equipamentos públicos, como a Unidade Básica de Saúde Maria Moreira, ficam alagados. Já é corrente no bairro que quando o Taquari alaga, tudo para no bairro: “não temos nada, a não ser o que o governo nos passa. Não há farmácia, a gente não consegue comprar as coisas que precisamos”, disse o entregador de pizzas Francisco Silva, ressaltando que apesar de tudo não tem faltado atendimento médico. Verdade.

A presença constante da médica Belkis Caridad Bacas Hernandez na comunidade realça não simplesmente o propósito, mas a natureza do Mais Médicos. Ela não teria obrigação de estar no bairro completamente tomado pela água – foi até transferida para outra unidade de saúde – mas apenas na terça-feira, 3, ficou atendendo na Escola Dejanira Bezerra até às 19 horas, só interrompendo as consultas porque o postinho improvisado não tem energia elétrica. O fornecimento foi interrompido pela Eletrobrás no bairro inteiro como medida de segurança. “Não saio do Taquari”, sentenciou Belkis, que além de clínica-geral é também cirurgiã oftalmologista. “Estas pessoas são meus amigos, são como minha família”, completa, angustiada pela situação que a faz trabalhar improvisadamente.

Belkis deixou o marido, um economista, e os dois filhos na Ilha da Juventude, em Cuba, para trabalhar no Brasil. Selecionada para o Acre, veio, viu e gostou – e a comunidade idem. “É uma boa pessoa. Todo mundo aqui gosta dela, que é a médica da minha mãe e sempre está em casa vendo como ela está”, disse Maria Xavier do Nascimento, avó e ´mãe´ adotiva do menino Railson Souza da Silva, de 7 anos, que apresentava um quadro de febre muito alta e dor aguda no estômago, e foi encaminhado por Belkis para a Unidade de Referência em Atenção Primária (URAP) Claudia Vitorino.

A população do Acre vem sendo grandemente beneficiada com a expansão do Programa Mais Médicos, que está presente em todo o Estado, que conta com 160 profissionais. O Governo Federal vai garantir em 2015 a permanência de 18.247 médicos nas unidades básicas de saúde do país, levando assistência para cerca de 63 milhões de pessoas.

Comunidade criou confiança
Esta não é a primeira alagação da médica cubana. O valor que deu ao Programa Mais Médicos a fez estrear em enchentes no ano passado, quando grande parte do Taquari, uma região pobre, mais uma vez ficou debaixo d´água. Tão logo chegou ao “posto” na Escola Dejanira Bezerra tinha Jailson, em estado que merecia muita atenção, e o motociclista Francisco Frazão à espera de avaliação das feridas decorrentes de um acidente de moto ocorrido há cinco dias na BR-364 quando um pneu estourou e o veículo ficou sem controle.  Avaliado e feito o curativo, Frazão voltou para casa com a ajuda do sogro. “Quando fiquei sabendo que estavam atendendo aqui, logo vim para ver se tinha médico. Ainda bem que essa médica estava aqui”, disse Frazão.

Na sequência, depois de organizada a fila de candidatos a consulta médica, Belkis foi acionada para uma visita domiciliar -um dos grandes valores do Programa Saúde da Família, âmago do Mais Médicos – e seguiu de barco até a casa de número 45, localizada em um pequeno e alagado beco da Rua Diógenes. A mãe do menino Danilo Souza, Celiane Ferreira, indicou o endereço. Danilo nasceu com paralisia infantil e tem asma. Belkis o examinou e prescreveu antibiótico e outros medicamentos.  Muito humilde, a casa de Celiane está a um palmo de ser tomada pela água, mas ela tem poucas opções e prefere manter-se no local. (Texto e foto: Ascom PMRB)

Categories: Geral
A Gazeta do Acre: