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Preso por tráfico passa no vestibular para engenharia agrônoma, em CZS

Com a foto da filha de sete meses estampada na blusa e lágrimas nos olhos, Adriano da Silva Almeida, de 23 anos, presidiário do regime fechado na unidade prisional Manuel Neri da Silva, em Cruzeiro do Sul fala sobre a oportunidade de ingressar na faculdade. O detento conseguiu ser aprovado na terceira chamada do Sisu, no curso de engenharia agronômica da Universidade Federal do Acre (Ufac). Com expectativas de uma nova vida, Adriano vê nos estudos uma chance de mudar a visão das pessoas e dar um futuro melhor à sua família.

Preso desde de 18 de outubro de 2014, ele foi condenado a 9 anos de prisão por tráfico de entorpecentes. Ele conta que trabalhava como motorista desde os 18 anos, quando contratou um ajudante que, segundo ele, estava carregando 15 quilos de droga no caminhão. Adriano diz ser inocente e vê nos estudos uma forma de voltar de cabeça erguida para o convívio social.

“Meu pai morreu e eu era o único homem da casa, trabalhei desde os 18 anos para ajudar minha família. O rapaz que me ajudava no caminhão me traiu e acabei sendo preso como traficante, mal visto pela sociedade. Sei que vai ser difícil, porque a sociedade acha que a gente aqui dentro é pior do que lixo, porque acreditam que o lixo pode ser reciclado, mas o ser humano não. Mas, quero sair de cabeça erguida e vou mostrar isso para todo mundo”, destaca.

De acordo com a especialista em educação penal, a pedagoga Vanila da Costa Pinheiro, esse foi o quarto ano em que o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) foi disponibilizado aos presidiários que se enquadram dentro dos critérios exigidos pelo Ministério da Educação (MEC), como documentação e nível de escolaridade. Este ano, foram 26 detentos que participaram do processo seletivo.

Adriano foi o único que passou no exame até a terceira chamada. Vanila explica que todos os procedimentos que ficam a cargo da direção já foram tomados. “Tudo que nós poderíamos fazer enquanto presídio, fizemos. O MEC não estipula quem pode ou não fazer, eles abrem a seleção para regime provisório, semiaberto e fechado. Cabe ao juiz de cada comarca decidir se o preso vai sair ou não”, explica ela.

O detento conta que recebeu apoio da família, direção do presídio e assistência social. Para se preparar para o Enem, Adriano recebeu livros do ensino médio e conta que estudou por muitas horas, enquanto outros presos saiam para o banho de sol.

“Quando chegava a hora do banho de sol, eu ficava na cela estudando todos os dias. As vezes, também ia para a biblioteca, quando a assistente social me tirava da cela. Agradeço pela confiança da direção, estou há pouco tempo aqui e me esforcei bastante. Queria que a Justiça me desse essa oportunidade de fazer a universidade. Tentei fazer o Enem antes, mas trabalhava muito e não tinha tempo para estudar. Aqui, aproveitei o tempo livre e estudei bastante, me esforcei, me preparei para passar no Enem,” enfatiza.

A direção enviou o primeiro ofício à Justiça, onde foi deferido que o detento poderia cursar agronomia, caso a unidade disponibilizasse escolta e transporte. Sem efetivo suficiente para isso, a direção propôs que Adriano saísse e fosse monitorado eletronicamente. A Justiça ainda não respondeu a sugestão da unidade.

Caso consiga a autorização para cursar agronomia, Adriano diz estar preparado para ser olhado com uma certa discriminação entre os colegas de curso. “De uma forma ou outra, sendo inocente ou não, estou passando por aqui. Para muitos, eu não tenho jeito, mas vou mostrar para muita gente que eu não sou um lixo, vou provar que vou ser alguém na vida lá na frente. Estou com minha consciência limpa”.

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