O texto traz uma reflexão sobre a universidade pública, os professores, o ensino, a pesquisa, os alunos, os feudos universitários. É importante falar sobre isso, pois se vive uma época em que a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação tecnológica são elementos fundamentais na competitividade entre nações. Consequentemente, é imperdoável a maneira como a Universidade Pública vem sendo tratada nos últimos anos. Nos últimos tempos o MEC elegeu como prioridade única o ensino fundamental, ora o ensino médio.
Sabe-se, todavia, que o trabalho de formação de uma nação não pode ser feito em cima de prioridades únicas – tem de ser um todo integrado, equilibrado – mas com todas as frentes se desenvolvendo simultaneamente: ensino fundamental, ensino médio, ensino superior. Só assim é possível pensar um Brasil sobranceiro, independente dos farândolas que sugam suas riquezas. A educação é o caminho para a liberdade! O ensino é o aspecto mais importante em uma boa universidade e deve ter o maior peso, seguido da inovação e da pesquisa. Por isso, acredita-se que a universidade precisa buscar equilíbrio entre ensino e pesquisa.
Mas de todos os males cometidos contra o sistema educacional brasileiro nenhum deles é pior que o descaso à pessoa humana. Esquecem os governantes que o maior investimento econômico e social que o país pode fazer é aquele voltado às pessoas. E o Brasil se olvidou dessa verdade relativa ao investimento humano, há alguns anos. Organizam-se, de vez em quando, polidas campanhas contra o desperdício, a sonegação de impostos, combate às armas de fogo, à fome etc. Não se fazem campanhas para o grande e criminoso desperdício humano. Essa mentalidade favoreceu o primado do anti-intelectualismo, do corporativismo no serviço público, dos feudos universitários.
No contexto de uma política equivocada, mais cômodo parece a muitos raciocinar ao contrário, e comprar desenvolvimento “prêt a poter”. Dá-se ao país um desenvolvimento artificial e como decorrência virá, de contrapeso, o desenvolvimento da mediocridade. Abrem-se, assim, espaços para poucos colherem os frutos da produção. Assim, tantos se beneficiam, usurpam o país, enriquecem de modo misterioso, sem perceber que tanto eles (corruptos e novos ricos), igualmente o povo, todos se avassalam por que não permitem que o país ofereça melhores condições de vida para todas as pessoas. Aqui é um lugar onde os ricos ficam mais ricos e os pobres mais pobres.
Ademais, no contexto do caos educacional, avilta-se a figura do professor. Parece não haver critérios de escolha/seleção, pois qualquer pessoa pode ser professor/professora. O resultado são essas figuras dantescas, essas manobras egoístas, os feudos universitários que roubam a nação e os sonhos da juventude do país. É uma desgraça que leva o desrespeito pelas profissões universitárias e pela humanidade como um todo. Quer queiram ou não, o professor é o educador do mundo. E muitos não se dão ao respeito, cometem atos infames.
Assegura-se que nem tudo é caótico na Universidade Pública. Há excelentes profissionais, boa estrutura física, liberdade para a pesquisa e o ensino, bons alunos. Mas todos os pontos positivos são atingidos pela mandriice dos feudos que ruminam vaidades em salas e corredores sombrios. São constituídos pelo que há de pior na criatura humana: pessoas improdutivas, medíocres, desonestas, que buscam colher vantagens em tudo e com todos. Onde houver recursos financeiros para lá se dirigem os erradios. Muitos não escrevem nada, não ensinam e têm o Currículum Lattes recheado de bancas de concurso. Estão em todos os lugares possíveis, atuam em várias áreas do conhecimento humano. É como se fossem senhores e senhoras, todos, donos da Universidade Pública. Ali fazem a lei e quem não se ajoelha precisa travar, com “o bando”, verdadeiras batalhas.
Nota-se, assim, o ambiente universitário dominado por um corporativismo dos mais pesados, consolidado pela estrutura dos Centros que protegem criaturas intocáveis, improdutivas, mesquinhas, mas que fazem a “lei”. Em meio a eles, vê-se o respeito acabando, a petulância aumentando, o desamor brotando, valores trocando, enfim, a educação indo por um caminho escuro, sendo pisoteada e pisoteando seres humanos.
Do cenário sombrio, brumoso, maculado, que aqui se fala, é urgente – antes de qualquer medida, mesmo a salarial e plano de carreiras – uma discussão ampla, madura, responsável, avaliativa, capaz de fazer com que a universidade pública deixe de ser cidadela e passe a praça livre, onde as gerações se encontrem para discutir o ensino, a pesquisa, a extensão. Do jeito que está seria uma vergonha permanecer de pé.
DICAS DE GRAMÁTICA
ELE “INTERMEDIA” A NEGOCIAÇÃO?
– Em língua portuguesa ninguém deve fazer isso. Mediar e intermediar conjugam-se como odiar: Ele intermedeia (ou medeia) a negociação. Remediar, ansiar e incendiar também seguem essa norma: Remedeiam, que eles anseiem, incendeio.
AO MEU VER, ESTÁ CORRETO?
– Não! Diga: a meu ver, a seu ver, a nosso ver.
O PAI “SEQUER” FOI AVISADO?
– De forma alguma use essa expressão. Sequer deve ser usado com negativa: O pai nem sequer foi avisado. / Não disse sequer o que pretendia. / Partiu sem sequer nos avisar.
* Luísa Galvão Lessa Karlberg IWA– É Pós-Doutora em Lexicologia e Lexicografia pela Université de Montréal, Canadá; Doutora em Língua Portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ; Mestra em Língua Portuguesa pela Universidade Federal Fluminense – UFF; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da Academia Acreana de Letras; Membro perene da International Writers end Artists Association – IWA; Coordenadora da Pós-Graduação em Língua Portuguesa – Campus Floresta; Pesquisadora DCR do CNPq.