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Os impactos trinacionais da inundação da bacia do Rio Acre e preparação para o futuro

A inundação do Rio Acre deste ano teve impactos internacionais.  Além dos efeitos nas áreas riberinhas, os centros urbanos de Iñapari na Região de Madre de Dios, Peru; de Cobija e Bolpebra no Departamento de Pando, Bolívia; e de Assis Brasil, Brasileia, Epitaciolândia, Xapuri, Rio Branco e Porto Acre no Acre tiveram prejuízos e custos históricos.

Para dimensionar estes custos, cerca de 50 representantes da sociedade civil, governos locais e defesas civis de Madre de Dios, Acre e Pando (a Região MAP) se reuniram na prefeitura de Iñapari, no dia 16 de fevereiro, para mais um encontro do Mini- MAP Gestão de Risco e Defesa Civil.  Este artigo relata brevemente os resultados desta reunião.

A inundação de 2015 iniciou com intensas chuvas centradas em Assis Brasil, Iñapari e Bolpebra na madrugada do dia 18 de fevereiro.  Em 15 horas, caíram 230 mm de chuva, cerca de 80% do normal para o mês inteiro em Rio Branco. O pico da inundação em Iñapari e Assis Brasil chegou a cota de 13,24 metros no dia 19/2 às 17h, cerca de 25 cm abaixo do nível da inundação em 2012.  Diferente da de 2012, quando as chuvas se concentraram na cabeceira do Rio Acre, chuvas prolongadas caíram também à jusante da fronteira trinacional.

A água da inundação em Assis Brasil/ Iñapari/ Bolpebra desceu o Rio Acre e foi acrescentada com a de chuva à jusante. A combinação destas águas resultou numa cota de 15,5 metros do Rio Acre em Brasileia no fim da tarde do dia 24/2. Um metro acima do que foi registrada em 2012. Esta água continuou descendo o Rio Acre, impactando Xapuri com uma inundação histórica, como em Rio Branco, onde a cota do Rio Acre alcançou 18,4 metros no dia 4/3, cerca de 0,7 m acima dos níveis em 1997 e 2012, que eram a maior cota até este ano.

Os estragos foram grandes.  A Defensa Civil de Iñapari estimou mais de 9 milhões de soles (1 sole = 1 real) de danos econômicos diretos em Iñapari. Em Cobija, cerca de 7.000 pessoas tiveram que sair das suas casas, ou seja, mais de 10% da sua população. As perdas em Brasileia, Epitaciolândia, Xapuri e Rio Branco foram bem maiores do que a inundação de 2012.

Para alcançar a soma trinacional dos prejuízos e danos desta inundação, o grupo encontrou dificuldades porque algumas definições diferem entre os países. Para compatibilizar os dados, participantes da reunião decidiram trabalhar conjuntamente para resolver este problema até junho.  Além do fator de definições diferentes, existe o problema que vários custos ocorrem depois do desastre.  Por exemplo, em 2012 depois da inundação, a única agência bancária em Iñapari ficou fechada durante sete meses, criando transtornos para a população.

Um outro fator se revelou também: a necessidade de envolver melhor a sociedade civil na prevenção, preparação e resposta a desastres como esta inundação. Dado que estamos entrando na época seca, na qual a escassez de água e a propagação de incêndios florestais podem ocorrer, o grupo trinacional decidiu desenvolver um programa de simulados de desastres para testar as nossas respostas e aprender como podemos melhorar a nossa preparação.

Uma lição das inundações históricas de 2012 e 2015 é que os eventos extremos estão ficando mais frequentes e com mais intensidade.  Esta tendência é esperada com base nas previsões da influência humana no clima. O aumento de gás carbônico de efeito estufa na atmosfera continua, capturando mais energia radiotiva.  No mesmo tempo, o ciclo de chuvas e secas vem se intensificando. Tudo promete que as chuvas e secas vão ficar mais fortes no futuro próximo.

A hora de se preparar é agora.

 I. Foster Brown, Pesquisador do Centro de Pesquisa de Woods Hole, Docente do Curso de Mestrado em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais (MEMRN) da Universidade Federal do Acre (UFAC). Cientista do Experimento de Grande Escala Biosfera Atmosfera na Amazônia (LBA), do INCT SERVAMB e do Parque Zoobotânico (PZ) da UFAC. Membro do Consorcio Madre de Dios e da Comissão Estadual de Gestão de Riscos Ambientais do Acre (CEGdRA).

Ing. Edgar Cáceres Gallego, Coordinador, Defensa Civil Regional de Madre de Dios.  Gobierno Regional de Madre de Dios.

Ing. Sandro Alvarado Hurtado, Director, Dirección Gestión de Riesgos-Centro de Operaciones de Emergencia. Gobierno Autónomo Departamental de Pando.

Lic. Angel Dario Cabrera Arenas,  Coordinador, Centro de Operaciones de Emergencia Regional. Gobierno Regional de Madre de Dios.

George Luiz Pereira Santos, Tenente Coronel do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre e Coordenador de Defesa Civil Municipal de Rio Branco, Acre.

A Gazeta do Acre: