Policiais descobriram um possível plano de fuga de detentos da Unidade Prisional Manoel Néri, em Cruzeiro do Sul, a 648 quilômetros de Rio Branco. Além da intenção de fugir, os textos também citam uma possível ligação do grupo com facções criminosas, suspeitas de agir também na Capital.
Por meio de recados, os detentos se comunicavam, inclusive, ameaçando de morte um dos integrantes do grupo. Em um dos bilhetes, entregue a um agente penitenciário, um preso fala sobre o esquema e diz que ele seria o responsável por ter conseguido o número de telefone do primo de um dos envolvidos, que ajudaria na fuga.
“Disse se ele não sair, de qualquer jeito ele ia sair. O Rambo mim deu o depoimento dele pra mim ler, tá aqui comigo (sic). Pois é, o Douglas vai ter que ser virar para tirar eles daqui. O Rambo me disse que se ajoelhou, implorou pra não morrer. O Douglas sabe que o Eurico vai matar ele. O Rambo min (sic) contou que o Eurico ia matar o Douglas. Ele não deixou o Eurico matar ele. Ele já ia matar o Douglas”, revela umas das conversas.
Em outro trecho, um detento cobra posicionamento sobre a fuga e cita ainda o recebimento de pistolas, que são representadas pela abreviação PT. “Já ligou para teu primo? Fica ligado que a gente tá separado, mas o que tu combinou ainda tá de pé. Olha, os moleque (sic) vão adiantar uma PT (pistola) depois do Fórum. Eu quero uma decisão”, pressiona.
Após a cobrança, a resposta também chega através de bilhetes: “Nós temos que ficar na mesma cela, se não, na mesma ala. Eu to te devendo e vou cumprir”, responde.
As conversas mostram ainda que os presos estavam pressionando um dos integrantes por acreditarem que devido o depoimento do detento que escreveu o bilhete, os demais teriam sido presos.
Em seguida, mais dois presos se interessam pela fuga. “Olha, o que os mano precisar, nós libera (sic) mais alguns PT (pistolas) escreve ai o que tu decide (sic), eu conversei com o mano. Aqui eles vão precisar de nós”, destaca.
As investigações preliminares apontam que um deles teria entrado em contato com outros membros da organização criminosa para ter uma autorização de executar o plano de fuga, que era intermediado por um dos presos.
Em resposta à solicitação feita por um dos integrantes, os presos revelam ter uma forma de comunicação. “Diz o recado no código que vou entender. O que precisar é só liberar, vamos confiar em ninguém não”, fala.
Foram vários bilhetes que chegaram até os agentes penitenciários da unidade. Em um deles, um dos presos deixa claro a proporção que o plano teria tomado. “Fica tranquilo que vai dar tudo certo. Daqui uns dias, o teu irmão vem e conta tudo. A chave tá na nossa mão. Fica na fé”.
Os bilhetes não seguem uma data cronológica, mas narram parcialmente uma possível fuga e que que presos contavam com gente de fora do presídio, além disso, grupos da capital acreana são citados em um dos bilhetes. “Iai (sic) Rambo já recebi a boa, os manos lá de Rio Branco já estão de acordo (sic). Vamos esperar a PT quando estiver tudo junto, eu mando o Nena da um alor (sic) pra eles lá. Vamos ter cuidado pra não dar errado”, acrescenta.
Em outros trechos, o detento revela ameaças aos agentes penitenciários. “O Rambo disse que o Eurico é forte no crime. Ele ficou com raiva porque vocês separaro (sic) ele. Ele disse que vai se vingar de todo mundo que bateu nele e disse que conhece todos. Ele tem muito acesso mesmo, ele é do PCC”, diz.
Presos foram transferidos para audiências, diz Iapen
Em nota, o Instituto de Administração Penitenciária do Acre (Iapen) disse que não tem conhecimento do caso e destacou que “na medida em que as denúncias forem repassadas à direção, elas serão encaminhadas à Polícia Civil e ao Ministério Público para verificar se essas questões são verídicas ou não”, finalizou. (Tácita Muniz / G1 Acre)