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Carta aberta ao Roberto e aos queima-Bíblias

“O Roberto sempre foi meu amigo. Há tempo o conheço como um jovem honesto, sincero e faminto do transcendente. Ele sempre foi e continua sendo um apaixonado de Jesus e de sua palavra.
Roberto, sei que você andou estudando a história do Pizzarro que ofereceu uma Bíblia a Atahualpa cobrando que aceitasse a religião cristã.

Este imperador Incas jogou a Bíblia no chão, pois nem sabia de que se tratava ou talvez suspeitasse do autoritarismo e ganância do conquistador. Infelizmente os soldados espanhóis avançaram sobre ele e o eliminaram.

Mas tenha certeza e fique sossegado, ninguém vai lhe prender, nem lhe prejudicar, aliás, eu continuo lhe respeitando e até admirando a sua ousadia.

Você sabe muito bem que na Bíblia, sobretudo no AT há páginas que, lidas ao pé da letra, mandam matar até o filho que abandona a lei de Deus:

“se teu filho, teu irmão, teu melhor amigo, seguir outros deuses, deverás entregá-los à morte; tu o apedrejarás até que morra, por ter procurado afastar-te do SENHOR teu Deus” ( Dt 13,7-11)
Mas você deve se lembrar, Roberto, que vários cursos bíblicos lhe foram oferecidos onde a Palavra de Deus era lida e meditada a’ luz da revelação do amor de Jesus, fugindo do fundamentalismo, pois a Bíblia é’ para nós instrumento de paz, de amor, de respeito e não pode se tornar uma arma de morte, como acontece nas mãos de alguns.

Pelos ateus que conheço, pela tua pessoa que respeito, eu sei que todos vocês são garimpeiros da verdade, caçadores de autenticidade, defensores da tolerância, contra toda discriminação e exclusão.

Mas me permito, prezado Roberto, me permito manifestar a minha preocupação por este gesto de queima-biblia. No mundo de hoje as guerras começam quando se mexe com os sentimentos religiosos, que constituem a alma mais profunda do sentido da nossa vida e da vida dos povos. Religião é’ para ligar, unir harmoniosamente povos, raças, nações e culturas.

Queimar bíblias, quebrar imagens, humilhar o outro pela religião que professa, satanizar a crença do próximo, hoje, no terceiro milênio constitui um atraso cultural imperdoável para um universitário.

Por favor não brinque mais com isso. Rio Branco precisa de paz e de unidade, mesmo na diversidade. Deixe este jardim florido de tantas crenças emanar seu perfume, espalhando a beleza de sua diversidade.

Sorria a’ vida, deixe a gente encontrar na sua fé e na força da Palavra libertadora o sentido de sua existência e a coragem de continuar lutando, superando e vencendo todas as barreiras. Deixe este povo sonhar um mundo novo e respirar o seu puro oxigênio espiritual.

Roberto, quero continuar lhe vendo no rosto, como antigamente, aquele sorriso cheio de vida e de esperança e ninguém lhe roube aquela certeza de um Deus que é Pai e que não se cansa de procurar e de amar.

Conte com minha oração.

Padre Massimo Lombardi.

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