X

A arte de ensinar e a arte de aprender

O filósofo austríaco, naturalizado britânico, Ludwig Wittgenstein, afirmou: “os limites da minha linguagem denotam os limites do meu mundo”. A nossa versão popular: “As perguntas que fazemos revelam o ribeirão onde queremos beber”. Assim é o caminho de ensinar e aprender. Em sala de aula, o professor dever dar atenção aos alunos. Procurar ouvir o que perguntam. Assim fazendo, o professor perceberá que elas revelam uma sede imensa de conhecimento! O mundos do estudantes é gigante! A sede da juventude atual não se mata bebendo a água de um mesmo ribeirão! Eles desejam águas de rios, lagos, lagoas, fontes, minas, chuvas, poças d’água, riachos, até que se encontrarem com o mar, o mar da vida, do conhecimento, da maturidade.

Então, é fácil notar, no cenário de sala de aula, muitos mundos, muitos corações, múltiplas leituras da vida, lares diferentes, famílias estruturadas ou não. E, nesse espaço sagrado, não pode o professor deixar os alunos beberem no mesmo ribeirão, eles não irão gostar. É preciso atrair o aluno, despertá-lo para o novo, para o mundo, mostrar que a vida oferece milhões de lições, que eles saibam escolher as melhores. Motivá-los a isso, a empreender viagens pelos livros, o mundo fantástico da leitura, fazer descobertas, escolher os melhores caminhos, ambicionar sucesso na profissão eleita.

Também, a ação educativa é um ato de amor. Toda experiência de aprendizagem se inicia com uma experiência afetiva. É a fome que põe em funcionamento o aparelho pensador. Fome é afeto. O pensamento nasce do afeto, nasce da fome. Não se deve confundir afeto com beijinhos e carinhos. Afeto, do latim affetare, quer dizer ir atrás. O “afeto” é o movimento da alma na busca do objeto de sua fome. É o Eros Platônico, a fome que faz a alma voar em busca do fruto sonhado. É assim que  entre a arte de ensinar e a arte de aprender existe uma grande diferença, não obstante acharem-se ambas intimamente vinculadas.

Em sala de aula, o bom professor, deve gostar de ouvir conversas, afinal ele é também um psicólogo de seus alunos, um psicanalista na vida. Isso porque é nas conversas que moram os mundos diferentes do nosso. Nesse sentido,Thomas Mann faz uma advertência ao dizer “aos intelectuais, aos escritores, aos artistas, cientistas e a outros que são depositários do patrimônio cultural da humanidade”. Firmemente, Mann assinala a responsabilidade dos intelectuais que se omitem e se alheiam do combate aos inimigos da inteligência e da cultura, a pretexto de resguardarem a “integridade” e a “pureza” do espírito de qualquer contaminação de “caráter político”. Isto insistia Mann, resultava, efetivamente, em servir de um modo ou de outro ao “partido do interesse”, ou seja, os interesses de uma ordem política decadente, reacionária e por isso mesmo temerosa da cultura e do espírito.

Os educadores, em sala de aula, estão a um metro de distância dos alunos. E, no entanto, ao seu redor gira um universo do qual o centro é ele, o professor, e não o aluno.  Fascinam-nos, como educadores, esses universos que tangenciam a vida e que, no entanto, estão distantes do nosso, por circunstâncias alheias, mas que o professor deve, também, navegar nesses múltiplos mundos e, assim, compreender que a arte de ensinar é, também, a arte de aprender!

Num universo assim visto, o ensino/aprendizagem ocorre de modo agradável, fascinante, encantador. É a educação unida em prol do bem maior: a humanidade, o saber, o conhecimento. Então, deve o professor, sempre, provocar, instigar, conduzir o estudante ao processo da reflexão crítica, na construção de um mundo melhor, menos utópico e mais real.

Entendemos como Nietzsche que “Aquele que é um verdadeiro professor toma a sério somente as coisas que estão relacionadas com os seus estudantes – inclusive a si mesmo” Desejamos, pois, a mudança, ocasião em que os professores, em suas conversas, falarão menos sobre os programas e as pesquisas, e terão mais prazer em falar sobre os seus alunos. Assim a escola passará a ser um ambiente atrativo e acolhedor dos sonhos da juventude.

DICAS DE GRAMÁTICA
A MORAL E O MORAL SÃO A MESMA COISA?
Não! O moral diz respeito ao ânimo, à disposição e ao estado de espírito das pessoas: “o moral da classe estava baixo depois da prova de língua portuguesa”, “o técnico melhorou o moral do time”. A moral corresponde à ética, moralidade, lição, conduta: “seguia a moral religiosa”, “entendeu a moral da história?”

O CASO DO MIM E DO EU; DO TU E DO TE
É comum as pessoas dizerem: Este livro é para mim ler. Qual o equívoco? O certo é para eu ler. Simplesmente não observamos que o mim torna-se o sujeito de ler. Pelas leis da gramática, mim e te não funcionam como sujeitos da ação. Logo, deve-se dizer: Para eu fazer, para eu ler, para eu escrever. Mim e te não praticam ação. Logo, mim não passa no ENEM; mim não namora, mim não vai a jogo de futebol. Eu, sim, passo no ENEM. Estudo para eu passar no ENEM.

* Luisa Karlberg – É membro da Academia Acreana de Letras; Membro Fundadora da Academia dos Poetas do Acre; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da International Writers and Artists Association (IWA), sediada na cidade de Toledo, Ohio, USA. Coordenadora da Pós-Graduação em Língua Portuguesa (Campus Floresta (2011-2018); Orientadora de Pós-Graduação em nível de Mestrado e Doutorado; Orientadora de Pós-Graduação Lato Sensu; Orientadora de bolsistas PIBIC (Campus Floresta – UFAC); Pesquisadora DCR do CNPq (2015-2018). Grã-Chancelar da medalha J.G. de Araújo Jorge, pela Academia Juvenil Acreana de Letras; Embaixadora da Poesia pela Casa Casimiro de Abreu.

Categories: Luísa Lessa
A Gazeta do Acre: