Para a maioria das pessoas uma vegetação de bambu (Bambusa vulgaris), da família Poaceae, é uma mera erva daninha sem qualquer utilidade prática, apesar de seu grande potencial botânico e econômico. Os projetos de pesquisas que vem sendo desenvolvidos pelo Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação (MCTI), bem como os CVT (Centros Vocacionais Tecnológicos) destinados ao manejo e processamento do bambu podem contribuir para mudar essa realidade, na medida em que a ciência e a tecnologia são indispensáveis para aumentar a produtividade, verticalizar a produção e agregar valor aos produtos primários para assegurar a elevação do padrão de renda da sociedade.
Segundo a obra clássica Sociedade Antiga, de Lewis Henry Morgan, a humanidade desenvolveu, ainda nos estágios iniciais de seu desenvolvimento, 07 grandes ideias: subsistência, governo, linguagem, família, religião, arquitetura e propriedade, as quais vêm sendo aprimorada ao longo de sua trajetória, graças aos extraordinários avanços científicos e tecnológicos. Foi graças ao desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, que a humanidade pode prescindir do canibalismo como forma de subsistência, encontrar solução para suas enfermidades, construir abrigos para se proteger e elevar o seu padrão social e econômico através da transformação da matéria prima e do incremento da produtividade. É dentro dessa lógica que se situa o CVT Bambu do Acre.
O bambu é uma planta tropical renovável que produz anualmente sem a necessidade de replantio. Apesar de seu grande potencial econômico e de sua eficiência no sequestro de carbono, seu uso no Brasil ainda é bastante limitado (artesanato, vara de pescar, móveis de estilo colonial, brotos comestíveis, escora para outras culturas, etc.).
Países como a China e a Colômbia, por exemplo, tem dedicado grande atenção a essa espécie vegetal, especialmente no que diz respeito ao seu potencial econômico. O Brasil, igualmente, começa adotar as primeiras medidas na utilização econômica do bambu. Dentre essas medidas está a aprovação da lei 12.484/2011 (Lei do Bambu) que institui a Política Nacional de Incentivo ao Manejo Sustentado e ao Cultivo do Bambu (PNMCB), os projetos de pesquisas estimulados pelo MCTI e o apoio financeiro e tecnológico na construção de CVT, especialmente destinados ao manejo do bambu, como esse que iniciamos no Acre, em parceria com o governo estadual.
O CVT Bambu do Acre cuidará da capacitação dos trabalhadores no manejo e do beneficiamento da espécie, visando à verticalização da produção, a agregação de valor a matéria-prima regional e a elevação do padrão socioeconômico dos envolvidos no projeto. Seu custo inicial está orçado em R$ 2.593.473, financiados pelo MCTI e contando com a necessária contrapartida do Governo do Acre. Permitirá, sem dúvidas, a atração de empreendedores privados interessados em processar, por exemplo, laminados em escala comercial a partir da tecnologia desenvolvida no CVT do Acre.
Eron Bezerra* – Doutor em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, Professor da UFAM, Engenheiro Agrônomo. Atual Secretário Nacional de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social, do MCTI.