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Estado do Acre, 53 anos: autonomia para quê?

Autonomia é palavra bonita, auspiciosa. Remete a movimento próprio, capacidade de se governar, independência. Coisa de gente grande.

O conceito é belo sim. E desejável. Mas que trabalho dá! É sempre resultado de um processo que demanda, antes de tudo, a clareza e a humildade de se admitir pequeno, carente, dependente. Demanda também o esforço de ir buscar, onde e como puder, o recurso de que se necessita.

E demanda, permanentemente, assumir a responsabilidade pela condução do seu crescimento. Assim tem sido a história deste estado: uma longa e emocionante luta pela sobrevivência e desenvolvimento.

Movido por esse anseio, emergiu o Movimento Autonomista, com a criação do Território do Acre, em 1903. Sem poder eleger seus governantes e sem poder usufruir benefícios decorrentes dos impostos aqui coletados durante o ciclo da borracha, os acreanos se viam submetidos política e economicamente à União.

E por isso fizeram, no início do século, a Revolta dos Cem Dias, a Revolta de Sena Madureira e a Revolta de Rio Branco. Em 1946, ainda território, o Acre recebe seu novo governador, o militar mineiro José Guiomard dos Santos, cuja gestão trouxe transformações econômicas, sociais e culturais.

Apoiado por muitos outros autonomistas, como deputado federal apresentou, no Congresso Nacional, um projeto de lei elevando o Acre de território federal a estado, medida concretizada em 1962.

Desse modo, logo houve a primeira eleição direta, em que o povo escolheu José Augusto de Araújo para governador. O professor de filosofia tinha ideais avançados: promoveu a reforma agrária e era entusiasta do método Paulo Freire, com o qual promovia a conscientização da classe dos trabalhadores. Em 1964, com o Golpe Militar, o capitão do Exército Edgard Cerqueira tomou o Palácio Rio Branco, obrigou José Augusto a renunciar e assumiu o governo.

Nos anos 70, o Governo Federal incentivava sulistas a ocupar a Amazônia. No Acre, logo surgiram os conflitos entre os povos que viviam do extrativismo e os fazendeiros que vinham de fora, os chamados “paulistas”.

Nesse momento começou a se destacar o líder Chico Mendes, figura forjada na luta sindical dos seringueiros e que, gradativamente, rumou para uma questão ainda mais abrangente, a ambiental.

O Acre atravessava grave crise econômica e social. Mas o seu povo era o mesmo: inconformado e aguerrido. Assim surgiu, em 1977, sob a liderança dos jornalistas Elson Martins e Sílvio Martinello, o jornal Varadouro, que, com reuniões de pauta abertas à população, tornou-se referência no Estado e fora dele. Chegou até mesmo a receber, na época, congratulações do jornalista carioca Henfil, do legendário Pasquim, e, décadas mais tarde, o Prêmio Vladimir Herzog, de imprensa alternativa.

Os anos 80 trouxeram o fim da ditadura militar e o país começou a respirar novos ares. No fim dos anos 90, a Frente Popular, composta pelos partidos de esquerda, recebeu um Estado “quebrado” e iniciou uma nova gestão.

Enfrentando dificuldades estruturais, gradativamente o Acre vem se erguendo, alavancando índices positivos em educação e saúde, buscando o desenvolvimento econômico, com a promoção da agricultura familiar, da criação de animais e da sustentabilidade ambiental.

Ainda há muito a ser feito, os desafios são imensos. Um deles, fundamental, é a valorização, por parte da população e de todos os setores do Estado, da identidade cultural acreana.

É lamentável, por exemplo, que o termo “seringueiro” ainda seja ouvido, nas ruas e nas escolas do Acre, como insulto e sinônimo de “subdesenvolvido”. O que prova que é grande o desconhecimento sobre o modo de viver na floresta, sobre a saga dos povos que nela viveram e ainda vivem, portadores que são de riquíssimo cabedal, capaz de fazer muito doutor por aí se acanhar.

Assim, uma verdadeira e ampla autonomia se estabelece sobre uma sólida autoestima, com cidadãos conscientes das crises e batalhas que já atravessaram e tantas vezes venceram, com cidadãos orgulhosos de sua vocação e história.

* Onides Bonaccorsi Queiroz é jornalista

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