A cena se tornou comum nas escolas de Rio Branco. Estudantes desfilam pelos pátios com cortes nos braços. Alguns encaram como brincadeira, mas o problema é grave e tem causado preocupação nos gestores das instituições, professores e na família.
A estudante Beatriz Diaz (nome fictício), tem apenas 13 anos, no entanto, já foi diagnosticada com depressão. Após perder dois amigos em um curto período, ela começou a se cortar.
A jovem diz que faz isso para sentir alívio. “Aconteceram muitos problemas e eu comecei a me cortar. Sinto uma tristeza imensa, acho que vou morrer. Às vezes eu vejo gente morta e fico ouvindo vozes. Já me cortei tanto, que o braço escorria sangue”.
Beatriz tem marcas nos braços, costelas e nas pernas. O desespero da adolescente já foi tão longe, que ela confessa ter praticado a auto-mutilação dentro de sala de aula. “Eu sento bem na frente, mas o professor não percebe, porque eu sou discreta. Uso qualquer coisa. Porém, na maioria das vezes, faço isso em casa, trancada no meu quarto”.
Quando os pais da jovem perceberam a situação foram até a escola. A gestora do local pediu que providências fossem tomadas e logo Beatriz começou a ser atendida por um psiquiatra e uma psicóloga, que também é professora dela.
Agora, todos os dias, a menina tem a bolsa revistada. Já lhe tomaram o estilete que usava para fazer os cortes, mas ela alega sempre dar um jeito para conseguir algo cortante. “Meus pais conversaram comigo. Disseram do risco que isso me causaria, inclusive, que eu poderia pegar uma infecção ou doença maior”.
Apesar disso, Beatriz confessa não querer mais essa vida. “Converso todo dia com uma psicóloga. Vou parar. Acho que é só uma fase”.
Outra estudante que vive situação semelhante é Jéssika Medeiros (nome fictício), 12. Ela explica que faz o chamado pacto de sangue há um mês. A ideia é se cortar junto com uma amiga.
O que no início era apenas uma brincadeira se tornou válvula de escape para ela. “Eu acho que a gente quer sentir dor. Achamos que ao nos cortar a situação vai se resolver”, justificou.
Ainda que tenha feito a prática, ela admite saber que a auto-mutilação é errado. “Eu faço para fugir dos problemas, mas tenho medo de passar dos limites. Quero me cortar, mas não quero morrer ao atingir um pulso”.
Cursando o 8º ano do Ensino Fundamental, a estudante Angélica Coelho (nome fictício), 13, alega praticar a auto-mutilação desde 2014. “Comecei a fazer no 7º ano, mas ninguém via porque eu usava sempre uma capa que escondia as marcas. Fazia porque achava que a minha mãe não gostava de mim, somente dos meus irmãos”.
Nas férias ela até chegou a parar com os cortes, mas com o início das aulas tudo voltou à tona. “No 7º ano eu era muito calada. Não falava com ninguém e ninguém falava comigo. Não tinha amizades e em casa me sentia excluída. Depois, na nova turma, fiz amizade com a Beatriz Diaz, que é como uma irmã para mim”.
Angélica já chegou a usar uma faca e a trocar objetos cortantes com outra amiga da escola. Ao ver Beatriz Diaz com depressão, ela afirma ter sido atingida pelos mesmos sintomas. Ficava triste constantemente e se mutilava durante a aula. “Além disso, me marcou muito a morte da minha avó. Éramos muito ligadas. Eu me sentia sozinha”.
Outras estudantes da escola pararam de falar com as três adolescentes e passaram a tratá-las com indiferença, afirma Angélica. “Ficavam nos chamando de doidas e diziam que a gente fazia pacto com o capeta, mas não é verdade. Fiquei ofendida, pois elas não sabem o que a gente passa. Já outra colega começou a imitar a gente pensando que isso era uma modinha nossa. Dissemos que era besteira ela ter se cortado. Não queremos que as pessoas façam isso”, adverte.