A pesca era o programa dos quatro amigos, que combinaram de desfrutar o descanso do feriado de Corpus Christi somado ao fim de semana passado. O grupo sofreu acidente no percurso e o resgate foi realizado pelo Corpo de Bombeiros e pelo Centro Integrado de Operações em Segurança Pública (Ciopaer). A ação foi concluída na manhã de segunda-feira, 8, com o resgate do terceiro corpo, o de Wanderson Brasileiro.
A capela São João Batista reuniu amigos e familiares de Richard Leitão, o segundo a ser resgatado. Segundo informações da assessoria do Corpo de Bombeiros, ele estava há um quilômetro do local do acidente e chegou a Rio Branco por volta das 18h30 de domingo.
Richard tinha 31 anos e trabalhava como técnico financeiro na Secretaria de Estado de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, do Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedens). Seu pai, Francisco Leitão conta: “Minha oração é para que Deus guiasse e todos fossem encontrados”. E foi assim, compartilhando com os presentes no velório, que o último amigo foi encontrado.
Seu Francisco Leitão disse que, com a morte do filho, perdeu o grande companheiro da sua vida, já que Richard era seu filho, amigo e confidente. Ele contou que o filho era um bom rapaz, e que tinha sonhos de conseguir construir o seu lar, já que estava casado há cerca de 3 anos. Com tristeza no olhar, mas aparentando estar bem calmo, Seu Francisco lembrou que viu o filho momentos antes de ele sair nesta sua última viagem e que pediu para que Richard não fosse, porque se tratava de um local muito longe e isolado.
Francisco recordou que o filho amava este hobby e pescava com amigos quase todos os finais de semana. E ele sempre sentia segurança no filho. O problema desta vez é que a pescaria foi em um lugar perigoso, e que o grupo inteiro não conhecia muito bem o Rio Ituxi.
Sob muitos aplausos emocionados, suspiros e lágrimas, o corpo de Richard Leitão saiu da capela às 10h para ser enterrado no Cemitério São João Batista.
Sobrevivente recusava-se a retornar à Capital
Jailson Almeida, que é policial civil e sobreviveu ao naufrágio, desde o princípio havia se recusado a voltar para capital acreana enquanto as equipes não localizassem os três amigos desaparecidos. Ele retornou a Rio Branco no último voo, na tarde da segunda-feira, às 13h.
Antes de ser socorrido, ainda na sexta, 5, Jailson Valdomiro passou horas em busca de ajuda. O acidente aconteceu por volta das 9h da manhã. Sete horas depois, às 16h, ele foi acudido por um grupo de pescadores que passaram perto do local da tragédia.
O Rio Ituxi, onde estava o quarteto, deságua no Purus. Assim como os rios acreanos, está cheio devido às chuvas que têm se prorrogado na região. Além da correnteza, a periculosidade é aumentada com as cachoeiras, pedras e trechos mais difíceis que exigem experiência e perícia. Jailson só sobreviveu porque conseguiu se agarrar a uma pedra na hora em que o barco dele e dos demais pescadores virou. Em seguida, ele conseguiu nadar até a encosta do rio, lembrando que o Ituxi não possui praias nas suas margens. São apenas pedras e matas ciliares.
Corpo de Bombeiros fala das dificuldades durante o resgate e faz recomendações
BRUNA MELLO
Deslocamento da equipe e profundidade do rio foram alguns dos fatores que dificultaram na operação de resgate do Corpo de Bombeiros. Uma embarcação virou e três acreanos morreram no Rio Ituxi, no Amazonas (AM), na manhã da última sexta-feira, 5. No barco estavam os pescadores Wanderson Brasileiro, João Paulo, Richard Leitão e Jailson Almeida, único sobrevivente do acidente.
Segundo o coordenador da operação, coronel Carlos Gundim, várias dificuldades foram encontradas durante o resgate. Um dos problemas foi o descolamento da equipe via terrestre até o local. “A equipe de terra foi até a cidade de Vista Alegre (RO), de lá entraram no Ramal do Boi, 120 km de ramal, até chegar ao rio. Outra dificuldade foram as condições de mergulho, pois se trata de um local muito profundo com a correnteza muito intensa. O fundo do rio também tem muita pedra. Além disso, o rio está muito cheio, com a água entrando nas vegetações. Tudo isso dificultou na missão”, explicou.
Participaram diretamente da operação de resgaste 11 bombeiros do Acre e mais 5 de Rondônia (RO). Além disso, duas viaturas e um helicóptero também foram enviados para reforçar as buscas. O corpo da terceira vítima do acidente, Wanderson Brasileiro, chegou a Rio Branco na tarde desta segunda-feira, 8.
De acordo com o coronel, alguns critérios de segurança são essenciais durante a prática de esportes como a pescaria. Ele explica que a principal recomendação é que a embarcação não tenha excesso de carga. “Quando eles vão pescar, eles já levam o barco no limite, com muita ‘tralha’. Os pescadores levam churrasqueiras, baterias para iluminação, combustível extra, e muito deles vão sem colete. Outra coisa é verificar a potência do motor, de acordo com a capacidade do barco”, disse.
Gundim acrescentou que os quatro acreanos estavam sem coletes salva-vidas, e que a potência do motor da embarcação dos pescadores não era suficiente para ultrapassar uma cachoeira. “É lamentável, pois a vida de uma pessoa não pertence somente a ela, pertence à família e amigos. Quando isso acontece, todo mundo sofre”, lamentou.
Por fim o coronel disse que aproximadamente 90% dos acidentes podem ser evitados, pois são consequências da falha humana. “Nós fazemos campanhas de navegação no Acre todo, juntamente com a Marinha do Brasil, sediada em Boca do Acre, que sempre nos ajuda”, finalizou.