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Tentativas de golpes pelo telefone fazem vítimas diariamente em Rio Branco

Após perceber o golpe, Luciana Silva foi à delegacia. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

“Você ganhou R$ 50 mil e uma casa”, “Estamos com seu filho, deposite R$ 10 mil para pagar o resgate”, “Você acaba de ganhar um prêmio de R$ 20 mil, ligue para 011 999945**”, frases como essas diariamente fazem vítimas em um golpe muito comum nos dias de hoje. O fato é que bandidos se aproveitam da fragilidade emocional de algumas pessoas, e enviam mensagens via celular ou realizam ligações, geralmente com o prefixo de estados distantes do Acre, na tentativa de enganar as pessoas.

Esse é um crime comum no Brasil, mas, especialmente, no Acre muitos casos chamam atenção. Não é preciso pesquisar muito. Quase todo mundo já recebeu uma mensagem ou ligação do tipo. Se não, ao menos conhece alguém que já recebeu e que caiu no golpe.

Foi assim com a empregada doméstica Luciana Silva, de 47 anos. Há uma semana, durante o expediente, ela recebeu duas mensagens, logo em seguida uma ligação com o prefixo de São Paulo. Ao telefone, um homem que se identificou como funcionário da Caixa Econômica Federal disse para Luciana que ela havia ganhado um prêmio no valor de R$ 25 mil. “Ele disse que já tinha aberto uma conta no banco para mim. Só que, para eu receber esse dinheiro, eu teria que pagar R$ 200,00. Contei para meu patrão, e o homem disse que eu havia quebrado as regras, e que eu teria que pagar mais R$ 390,00”, explicou.

Luciana conta que o homem insistiu das 10h até às 15h, sempre ao telefone, persistente. Após fazer o primeiro depósito em uma casa lotérica, ainda pela manhã, o suposto funcionário pediu para que a mulher se dirigisse até uma agência da Caixa. Lá ela deveria efetuar outro depósito. “Quando cheguei à Caixa, comecei a desconfiar, como depositar mais R$ 390,00, se eu já tinha depositado R$ 200,00? Ele disse que eu não poderia retirar o dinheiro porque eu tinha quebrado o protocolo do sigilo. Contei para meu patrão e meu filho”, contou a empregada doméstica.

Trabalhando há oito anos na mesma residência, Luciana disse já ter recebido diversas ligações e mensagens. Mas nunca tinha acreditado, pois sabia que era trote. Dessa vez foi diferente, Luciana entrou nas estatísticas e foi mais uma vítima do velho golpe do prêmio.

Ainda sem saber como caiu na farsa, ela conta que tudo era muito real. “Liguei lá na Caixa, e chequei o nome do funcionário. Até o nome dele batia com o que o homem falava”, disse Luciana.

Após perceber que estava sendo vítima de um golpe, ela foi para a delegacia registrar um boletim de ocorrência. Lá foi informada de que o seu era o terceiro caso registrado no dia. “Eles disseram que iam apurar os fatos, e que era pra eu ficar na expectativa, mas que não daria em nada”, afirmou a empregada doméstica.

Curiosamente enquanto esperava o atendimento na delegacia, o suposto funcionário da Caixa ligou novamente. foi quando Luciana passou o telefone para a delegada plantonista. “Ela falou que era da polícia, xingou ele e o homem não ficava calado. Ele xingou a delegada. Disse que era tudo verdade, sim, que ele era um pai de família e que não estava mentindo. Ele sabia todos os meus dados, nome, endereço, tudo”, falou.

Luciana teve um prejuízo de R$ 200,00, consciente de que não terá o dinheiro de volta. E diz o que ficou de aprendizado: “Ficar alerta sempre”, finalizou.

Golpistas criativos – A imaginação desses criminosos é fértil. Todos os dias, histórias diferentes surgem na tentativa de enganar novas pessoas. Com o jornalista Ray Melo, a história do prêmio se repetiu. Dessa vez com uma suposta promoção da companhia de telefone Oi, que teria premiado o jornalista com um carro e mais R$ 25 mil. “A promoção era da Oi, e o número era da Tim. Eles disseram que eu teria que fazer uma recarga no valor de R$ 80,00, mais ou menos. Aí eu perguntei pra eles: Como que a promoção é da Oi e você me liga de um número da Tim? Ele desconversou e desligou”, contou, rindo da situação.

Recentemente, o jornalista foi novamente alvo da tentativa de golpe. A história dessa vez foi diferente. Um homem tentou se passar por um amigo de Ray, dizendo que estava numa estrada e que tinha batido o carro. “Ele disse que precisava de R$ 1.500,00 para pagar o prejuízo e que quando chegasse aqui em Rio Branco iria me ressarcir. Contou que estava com dinheiro só na conta. Então perguntei onde ele estava e que lugar era esse que não aceitava cartão?”, comentou.

Para o jornalista, a falta de um cadastro rigoroso nas operadoras de telefonia pode contribuir com a prática desse tipo de crime. “A pessoa, por exemplo, vai ao Centro da cidade e tem várias meninas vendendo chip, simplesmente com o CPF ela cadastra. Mesmo que não seja dela, há uma facilidade”, finalizou.

Idosa morre após trote

Francisca Oliveira Mendonça, 63 anos, foi vítima do falso sequestro por telefone. (Foto: Cedida)

Após receber uma ligação anunciando que sua filha, Maria José, de 31 anos, tinha sido supostamente sequestrada, a aposentada Francisca Oliveira Mendonça, de 63 anos, morreu, mesmo depois de confirmar que sua filha estava bem e que o sequestro era falso. O caso ocorreu no dia 18 de junho, no bairro Vitória, na Capital.

Segundo a vendedora Maria de Jesus, 40 anos, filha da aposentada, a idosa recebeu uma ligação anunciando um falso sequestro, da filha Maria José. “O homem falava para minha mãe não falar nada, só escutar. Ele disse que estava com minha irmã, com uma faca no pescoço dela e que precisava de R$ 10 mil. Ele ainda colocou uma mulher para falar ao telefone, pedindo socorro”, explicou.

A vendedora explicou que a mãe correu desesperada para a casa da vizinha, para ela escutar o que o homem dizia ao telefone. A vizinha, Maria Márcia, de 50 anos, ainda tentou alertar a idosa de que era um trote, tentou acalmá-la e a aposentada não acreditava. “Minha mãe me ligou, perguntando pela minha irmã, ai o telefone já ficou mudo. Na hora ela desmaiou, foi um choque. Ela estava sem controle, e talvez quando falei pra ela, o alívio deve ter sido grande, não sei explicar, foi um choque. Foi então que o coração dela parou”, contou a filha.

Ainda de acordo com a filha, a aposentada estava realizando uma bateria de exames e contou que ela fazia tratamento há cerca de dois anos. Ela explicou que a mãe foi alertada diversas vezes sobre esse tipo de trote, mas infelizmente se deixou levar pela emoção. “Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Com a nossa família é que nós não imaginamos mesmo”, relatou tristemente.

Para Maria de Jesus, falta ação da polícia para controlar e coibir esses crimes. “Quando a polícia quer, ela consegue. Todos os dias isso acontece, não somente com uma pessoa, mas com vá-rias. Nada é feito, apenas quando acontece com as autoridades tudo é descoberto”, finalizou.

Legislação é branda e prática de estelionato por telefone tem pena baixa

BRENNA AMÂNCIO

Além das tecnologias, o crime também avançou. Golpes por telefone e via internet ainda fazem muitas vítimas. Apesar do número significativo de pessoas enganadas por falso sequestro, estelionato, entre outros, a polícia esbarra em uma Legislação branda, que não pune severamente quem pratica essas ações. Crimes desse tipo são tão complexos, que, na maioria das vezes, o autor nunca é encontrado.

O estelionato aplicado por meio de telefone tem uma aplicabilidade segura para o criminoso. Primeiro, porque ele não possui qualquer tipo de contato com a vítima. Segundo, devido ao fato de ele conseguir, de maneira enganosa e fraudulenta, ludibriar a pessoa sem risco algum para ele. É uma modalidade que ainda rende frutos aos criminosos.

A pena para o crime de estelionato vai de 2 a 8 anos, aponta o diretor técnico policial, delegado Roberth Alencar. “Existem várias pessoas que foram processadas criminalmente por conta de estelionato que são sentenciadas à pena de um ano, dois anos. Ou seja, a certeza da impunidade facilita com que ele não corra riscos e nem seja preso. Além disso, ainda tem a questão da prescrição e a dificuldade de investigar, devido ao meio em que o crime é cometido. Essa prática de crime acaba se tornando vantajosa”.

Roberth aplica isso ao avanço da tecnologia e às facilidades impostas pelas próprias operadoras telefônicas.

O falso sequestro existe há aproximadamente 10 anos e as pessoas ainda hoje continuam a praticar, e outras continuam a cair, aponta o delegado. “Antigamente se ligava para dez pessoas e se faziam cinco vítimas. Hoje, liga-se para dez e se faz uma vítima. De todo jeito, ainda se faz vítima”.

Apesar das dificuldades, Robert Alencar afirma que é possível chegar aos criminosos. “Antes havia uma dificuldade maior, porque os passos investigativos são identificar a origem da conta bancária, o cadastro do telefone e então partir para séries de diligências que podem encontrar a autoria. Esse era o primeiro problema que existia há 3 anos, antes da edição da Lei 12.850, que estabeleceu a possibilidade dos delegados de irem diretamente aos bancos e operadoras de telefonia e conseguir os dados cadastrais dos proprietários de contas e do telefone. Antes disso tinha que se pedir autorização do juiz. Daí se aguardava a liberação da operadora e dos bancos e isso demorava meses, porque o Brasil é imenso e ocorrem crimes a cada minuto. Demorava-se meses para coletar uma prova que talvez nem fosse identificar a autoria. Com a edição da Lei 12.850, hoje, o delegado faz um ofício direto e, em tese, em poucos dias eles encaminham a informação”, relata.

Outra dificuldade em combater crimes de estelionato via telefone está nas fronteiras. A Polícia Civil do Acre não tem atribuição para trabalhar em outros estados, de onde, geralmente, está a origem dos golpistas com vítimas feitas aqui. Com isso, cabe às autoridades apenas enviar cartas precatórias pedindo que a outra polícia faça as investigações. “Aí vem outra dificuldade. Se as polícias, às vezes, não conseguem fazer o dela, então vão fazer de outros estados?”, indaga.

Crimes cibernéticos
Crimes cibernéticos são os praticados por meio de internet e uso de computador. Hoje em dia, o mundo virtual causa a impressão de ser terra sem lei. Errado. Tudo o que se posta, divulga e pesquisa pode ser rastreado e usado contra o autor.

Atualmente, o que mais ocorre no meio cibernético é crime contra a honra. Em redes sociais é fácil identificar calúnias, difamação e injúria. Há também aqueles que divulgam fotos sensuais para expor o outro. Nas delegacias do Acre existem dezenas de procedimentos instaurados e concluídos, onde foi possível identificar o autor.

“Em relação aos crimes cibernéticos, o que gerava dificuldades era a falta de legislação. A Lei Carolina Dieckmann foi a primeira a inserir em seu texto dois crimes de caráter cibernéticos. Logo depois foi editada a lei 12.965, de abril de 2014, que determinou o Marco Civil. Com isso, tornou-se obrigatória todas as operadoras a manter dados arquivados para apresentar à Justiça, o que não ocorria antes”, explica.

Quando a Telexfree foi impedida de continuar as suas atividades pela Justiça, os desembargadores envolvidos na ação começaram a receber e-mail de uma pessoa anônima, que os ameaçavam. Os textos diziam que a morte de cada um dos magistrados estava sendo planejada.

O caso gerou preocupação no meio Judiciário acreano. A Polícia Civil iniciou as investigações e descobriu que o autor morava no estado de São Paulo. Apesar disso, o acusado não foi preso, pois dentro da Legislação não há algo que possibilite o ato. Ainda assim, o delegado apontou que todos os computadores dele foram apreendidos.

Recentemente o Departamento Técnico da Polícia Civil do Acre conseguiu identificar um hacker, que invadiu sistemas de um programa de fidelização. Ele alterava cadastros e comprava produtos pela internet. O delegado afirma que conseguiram quebrar os dados da operadora que fornecia sinal de internet para ele, além dos dados da entrega dos produtos o que os levaram a um endereço.

“Descobrimos quem seria o proprietário. Ele havia se mudado. Nós pedimos a prisão primeiramente em Minas Gerais e depois em Alagoas. A diligência se deu em três estados até acharmos esse hacker. A Polícia Civil obteve sucesso e o inquérito está concluído”.

Esse hacker nunca esteve no Acre. Ainda assim, ele fez vítimas no Estado, sendo uma delas o governador Tião Viana. Ele cometeu crimes em todo o Brasil e foi preso em Alagoas com um pendrive contendo vários dados de contas bancárias com senhas para dar continuidade aos crimes dele.

O que fazer para não cair na fraude?

“Falar pouco”, orienta o delegado Roberth Alencar. (Foto: Brenna Amâncio/ AGAZETA)

Segundo Roberth, não existe uma fórmula mágica para sair de situações como crimes praticados exclusivamente pelo uso do diálogo. Mas existem dicas valiosas que poderão manter a segurança em quem sofre uma tentativa de golpe pelo telefone. A primeira é como uma regra básica: falar pouco.

“Geralmente os criminosos não têm informações. Eles dizem ‘Eu estou aqui com a sua filha sequestrada’. Então a vítima se antecipa e pergunta ‘Qual filha? A Maria ou a Antônia?’. Com isso, o criminoso vai dizer ‘É a Antônia’. Aquilo já vai fazer com que a vítima passe a acreditar sem perceber que ela mesma deu a informação”, exemplifica.

Uma segunda dica da polícia é fazer perguntas a quem estiver do outro lado da linha, argumentar em poucas palavras coisas que possam confundir o falso sequestrador ou golpista. “Um exemplo é se ele disse que está com a sua filha você responder que não tem filha. Então ele vai dizer que na verdade é o seu sobrinho. Pronto. A vítima já pode perceber que não tem ninguém sequestrado. À medida que a vítima vai confundindo o autor do crime, ele vai apresentando sinais de irritação. Daí você desliga o telefone”, aponta.

Segundo o Departamento Técnico da Polícia Civil, geralmente, as pessoas que caem em golpes por telefone são idosas ou que possuem dificuldades de se comunicar. “Ninguém vai sequestrar uma pessoa humilde. O objetivo do sequestro é garantir uma recompensa. E pessoas humildes, em tese, não têm essa recompensa”, afirma o delegado.

O próprio delegado Roberth Alencar foi vítima recentemente de uma tentativa de golpe. Ele recebeu uma ligação onde uma mulher lhe oferecia um curso de ensino religioso. Porém, antes de começar, ele teria que pagar três parcelas de R$ 1 mil. Para sair da situação, ele começou a brincar com a criminosa, deixando-a confusa até o momento em que ela desistiu do ato.

Mas nem sempre é possível rir de situações como essa. Em alguns casos, o desfecho é bem ruim. Foi o que aconteceu com a aposentada Francisca Oliveira Mendonça, 63 anos, que morreu no dia 18 deste mês após receber um telefonema indicando que a sua filha havia sido sequestrada.

A idosa não resistiu ao susto da ligação, que se tratava, na verdade, de uma tentativa de golpe. Os bandidos pediam que Francisca depositasse R$ 10 mil em uma conta bancária, mas nem chegaram a ver a cor do dinheiro. O crime custou a vida da aposentada.

De acordo com o delegado Roberth Alencar, essa situação se caracteriza como tentativa de estelionato. “A investigação tem que constatar que o criminoso tinha a intenção de matá-la. No entanto, o objetivo claro dele é a vantagem indevida. Então ninguém pode ser punido por um crime que não previu. A não ser, no caso de modalidade culposa, quando ele não tem a intenção de matar, mas age com negligência. O que não foi o caso. Se não for comprovado o dolo dele de matar, ele vai responder apenas por tentativa de homicídio e o óbito da vítima vai servir somente como circunstância agravante. Nesse caso, a pena dele ficaria um pouco mais alta”.

No caso da polícia identificar o autor de falso sequestro ou de um golpe, ele deverá ressarcir a vítima. No entanto, nesse caso existe um significativo problema, aponta o delegado. “Como o criminoso vai ter dinheiro? Na prática, esse é um dinheiro perdido”.

Roberth deixa claro que nem sempre essas ligações são feitas de dentro do presídio. Às vezes, a pessoa está solta e vê essa prática como um trabalho.

No entanto, quando o criminoso age de dentro da penitenciária, existe alguém de fora responsável por receber o dinheiro.

Outra dificuldade está em conseguir medida cautelar nesses casos.

As medidas cautelares servem para produzir provas, como a interceptação de telefonemas e e-mails, por exemplo.

A interceptação telefônica ajudaria muito a polícia nas investigações de crimes desse tipo. No entanto, ela só pode ser feita em crimes com pena alta, o que não é o caso de estelionato via telefone ou crimes cibernéticos. “Só dá para investigar aqueles que praticam o falso sequestro em forma de quadrilha”.

São muitos os crimes de falso sequestro e estelionatos praticados por meio do telefone. No entanto, a Polícia Civil não possui um dado geral de quais foram solucionados, pois cada delegacia segue as suas investigações. “É até difícil trazer esse dado estatístico, porque as pessoas não denunciam. Geralmente, elas sofrem a tentativa de golpe e não levam o caso à delegacia”.

É possível identificar a farsa nos detalhes, aponta o Procon
Ao sofrer golpes pelo telefone, muitas vítimas procuram logo o Procon para denunciar. Mas o órgão pode apenas orientar em caso de estelionato. O certo é ir imediatamente a uma delegacia.

De acordo com o agente fiscal do Procon Acre, Rommel Queiroz, a primeira coisa a se fazer ao receber mensagens dizendo que a pessoa ganhou um prêmio alto em dinheiro ou carros é não ligar para o número indicado no SMS.

Um exemplo bem típico dessa situação é a velha mensagem que chega dizendo que o cliente daquela operadora telefônica ganhou R$ 50 mil, mas, primeiramente, ele precisa fazer uma recarga em um número indicado no texto. Os sinais do golpe estão claros. Há, geralmente, erros de português ou situações improváveis como, por exemplo, indicando que duas operadoras ou empresas concorrentes estariam fazendo uma parceria para premiar clientes.

“Coca-cola e Pepsi juntas premiam você em dinheiro”, isso é algo bem difícil de ser verdade. Ou seja, é falso!

“Não existem prêmios por recarga. Todas as operadoras garantem isso”, declara o agente fiscal.

Se, ainda assim, a pessoa cair no golpe, ela não deve hesitar em ir a uma delegacia prestar queixa, indica Rommel. “Muitas pessoas, por vergonha ou constrangimento, não procuram a polícia após caírem nessa situação”.

Outra atitude que pode ajudar muito o cliente em casos de dúvidas da procedência de alguma mensagem com premiação ou ligações com ofertas de cursos ou cartões de crédito é ligar para a operadora telefônica. A empresa tem um setor de segurança responsável por verificar tais situações. O Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) poderá tirar as dúvidas.

Idosos são os principais alvos
Os casos de golpes são tão antigos quanto o surgimento dos celulares. Logo que esses aparelhos revolucionários surgiram no mercado, nasceu também a modalidade criminosa de praticar golpes por meio de ligações e mensagens de texto.

Os primeiros crimes relacionados a isso tinham como principal alvo os idosos. As ligações os enganavam com o assunto da aposentadoria. O criminoso pedia à vítima para depositar determinada quantia em uma conta bancária. Só assim eles teriam acesso ao dinheiro.

Esse foi um dos primeiros casos atendidos pelo Procon em relação ao estelionato via telefone. Um idoso chegou a depositar mais de R$ 2 mil para receber a tal aposentadoria especial. O autor nunca foi rastreado e o dinheiro jamais foi recuperado.

“É muito difícil rastreá-los depois que a pessoa cai no golpe. Geralmente, eles usam telefone pré-pago uma única vez para praticar o crime e depois descartam o aparelho. Até agora não tive notícias de que alguém foi ressarcido”, lamenta.

Agente fiscal do Procon Acre, Rommel Queiroz. (Foto: Brenna Amâncio/ A GAZETA)

Não forneça dados
Nem sempre o objetivo do criminoso é garantir êxito no seu golpe no momento da ligação. Às vezes, ele aproveita para conseguir arrancar alguns dados da vítima durante o diálogo. Isso é extremamente perigoso.

Segundo Rommel, o roubo de dados é um dos casos mais comuns atendidos no Procon/AC. O autor do crime consegue o RG, CPF, nome da pessoa para confeccionar cartões de crédito, documentos falsos ou pedir linha telefônica. Quando menos espera, a vítima já está com o nome negativado.

“Esse tipo de situação tem como a gente resolver. A vítima faz um boletim de ocorrência, pega a negativação da empresa, que, geralmente, é de fora do Estado, e nos procura. Nós vamos atrás da empresa e limpamos o nome dela. Isso nós temos obtido sucesso”, garante.

ARTIGO: Aconteceu comigo

*Por Bruna Mello

Não é de hoje que esses trotes pelo celular vêm fazendo vítimas. Informação não falta. A mídia está sempre alertando a população, e ainda assim é fácil ver pessoas que caem nessa mentira.

Meu pai, aproximadamente há uns oito anos, foi alvo de um desses criminosos. Ele recebeu uma mensagem dizendo que tinha ganhado um prêmio de 50 mil, e que precisaria ligar para o número enviado para realizar os procedimentos e receber o dinheiro.

Na hora, ele soltou um grito de felicidade, me chamou e contou tudo. Eu o alertei e disse que aquilo era trote e que possivelmente ainda de dentro de algum presídio. “Pai, isso é mentira, presta atenção”, eu dizia incansavelmente. Tarde demais. Ele já tinha se deixado levar pela emoção. Trancou-se no quarto com o telefone fixo e sua carteira de dinheiro.

Eu que já estava desesperada, preocupada que algo pior pudesse acontecer, acompanhei tudo pela janela. Na época, as recargas de celular ainda eram feitas com cartões que as operadoras vendiam. Ao telefone, os homens exigiam inúmeras recargas para que meu pai pudesse sacar o ‘prêmio’.

Sobrou pra quem? Isso mesmo, eu. Lá fui eu (mesmo sem querer) comprar as recargas. Estávamos todos preocupados. Depois de quase duas horas ao telefone, ele foi começando a entender todo o esquema, e só depois disso desistiu e desligou.

Resultado: Quase R$ 400,00 em ligações para celular e um prejuízo perto de R$ 200,00. Ele ficou arrasado, mas aprendeu a lição. Hoje, com 88 anos de idade, quando ele recebe mensagens do tipo, me mostra e pede para apagá-las.

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