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ARTIGO: A revolução da agricultura do Acre

Com crescimento de 31%, Acre atingiu R$ 578 milhões na produção agrícola em 2021, diz IBGE

Nos últimos 15 anos a agricultura acriana vem passando por uma revolução tecnológica, com expressivos ganhos econômicos, sociais e ambientais. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre 1998 e 2013, a área total colhida com agricultura no Acre cresceu 56%, passando de 83 mil para 129 mil hectares, sendo 91% ocupados com lavouras anuais e 9% com lavouras perenes. A área colhida com agricultura em 2013 representava apenas 5,5% dos 2,3 milhões de hectares desmatados até 2012.

Em 2013, as regionais do Baixo Acre e Alto Acre responderam por 49% da área colhida com lavouras anuais e perenes e as regionais do Juruá, Tarauacá-Envira e Purus foram responsáveis por 51%. As lavouras com maiores áreas colhidas foram milho (45,5 mil hectares) com produção de 124 mil toneladas, mandioca (43,9 mil hectares) com produção de 939 mil toneladas e banana (7,6 mil hectares) com produção de 77 mil toneladas.

Entre 1998 e 2013, a lavoura de milho apresentou aumento de produtividade de 111%, passando de 1.300 para 2.738 quilos por hectare. Entretanto, esse número ainda é 48% menor que a média nacional de 5.254 quilos por hectare. Em 2013, os municípios com maior produtividade média foram Senador Guiomard (4.000 kg/ha), Porto Acre (3.650 kg/ha), Rio Branco (3.600 kg/ha) e Acrelândia (3.500 kg/ha). Estudos realizados pela Embrapa mostram que em algumas áreas cultivadas com uso intensivo de tecnologias, a produtividade de milho na safra 2014-2015 foi superior a 7 mil quilos por hectare.

Nesse mesmo período, a produtividade de mandioca aumentou 61%, passando de 13 mil quilos por hectare em 1998, para 21 mil quilos por hectare em 2013, superando em 52% a média nacional de 14 mil quilos por hectare. Em relação à lavoura de banana, o aumento na produtividade foi de 30%, passando de 8,2 mil quilos por hectare em 2004, para 10,6 mil quilos por hectare em 2013, sendo 25% infe-rior à média nacional de 14,2 mil quilos por hectare.

Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), na safra de 2014/2015, o valor bruto da produção (VBP) agropecuária do Acre foi de R$ 1,6 bilhão, com a agricultura respondendo por 41% e a pecuária por 59% desse total. Na agricultura a mandioca, banana e milho foram as culturas que mais contribuíram para o valor bruto da produção, sendo responsáveis por 55%, 32% e 7%, respectivamente.

A revolução na agricultura acreana vem ocorrendo graças ao processo de inovação tecnológica, que tem permitido recuperar áreas de capoeiras e de pastagens degradadas para o cultivo de lavouras anuais, principalmente o milho, por meio de sistemas de plantio em monocultura e em integração lavoura-pecuária.

Os governos federal e estadual vêm promovendo políticas e programas para o fomento da agricultura intensiva nas áreas já desmatadas, visando à produção de alimentos e de matérias-primas para produzir ração destinada a empreendimentos de avicultura, suinocultura, piscicultura e para a suplementação de bovinos. Essas políticas também têm possibilitado aos produtores o acesso a crédito rural e a serviços de assistência técnica e extensão rural para a adoção de tecnologias como mecanização e sementes de cultivares adaptadas às condições de clima e solo do Acre, além de insumos como fertilizantes e defensivos agrícolas.

Segundo o Censo Agropecuário (IBGE), em 2006, apenas 10% dos 29.483 estabelecimentos agropecuários do Acre receberam assistência técnica e extensão rural (Ater). Em 2013 e 2014, 33% e 29% dos 34.283 produtores familia-res do Acre foram beneficiados com ações de Ater financiadas com recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). Na safra 2014/2015, 8.109 produtores tiveram acesso a financiamentos do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf), no valor de R$ 138,4 milhões. Além disso, entre 2006 e 2014, o Banco da Amazônia financiou R$ 39 milhões para aquisição de tratores, máquinas e implementos agrícolas.

Além dos incentivos na melhoria da produção agrícola acreana, o Governo do Estado implantou uma rede de silos graneleiros nos municípios de Rio Branco, Senador Guiomard, Acrelândia, Plácido de Castro, Capixaba e Brasileia, com capacidade de secagem de 240 toneladas de grãos a cada 5 horas e capacidade estática de armazenamento de 25.500 toneladas. A rede de armazenamento da Companhia de Armazéns Gerais e Entreposto do Acre (Cageacre) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) tem capacidade estática de armazenamento de 29.279 toneladas. Na safra 2014/2015, essa rede de silos já beneficiou e armazenou mais de 21 mil toneladas de milho.

Com o aumento da governança ambiental e implementação de políticas de promoção e acesso ao crédito para adoção de tecnologias e aquisição de máquinas, implementos e insumos, as atividades agrícolas têm reduzido a sua participação no desmatamento da região. Esses investimentos beneficiam diretamente pequenos, médios e grandes produtores que possuem regularização fundiária, ambiental e adotam práticas produtivas sustentáveis. Os resultados são mais expressivos entre 2003 e 2013, quando o desmatamento anual caiu de 108 mil para 31 mil hectares, enquanto a área agrícola aumentou de 110 mil para 129 mil hectares. Com isso, a relação entre a área agrícola e o desmatamento anual diminuiu de 98% para 17%, nesse período. A maior parte da área desmatada em 2013 destinava-se ao plantio de lavouras como mandioca, milho, banana, arroz e feijão por agricultores familiares. O restante das áreas desmatadas foi aproveitado por médios e grandes produtores para o estabelecimento de pastagens cultivadas.

Esses dados indicam que a agricultura acreana está se tornando independente dos desmatamentos e queimadas, embora essas práticas devam continuar ocorrendo como parte da tradição e da estratégia de produção da maioria dos agricultores familiares e das populações indígenas do Estado, para garantir segurança alimentar e renda alternativa as suas famílias.

Segundo o Instituto de Mudanças Climáticas do Acre, em 2012 o estado possuía uma área desmatada de 2,28 milhões de hectares (13,9% da sua área total), sendo 319 mil hectares de capoeiras e 1,92 milhão de hectares de pastagens. A ampliação da adoção de tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e por outras instituições de pesquisa, públicas e privadas, para intensificar a agricultura com lavouras anuais e sistemas integrados de lavoura e pecuária em áreas desmatadas contribuirá para consolidar novos modelos produtivos e fortalecimento da produção agrícola e pecuária, com aumento da renda dos produtores, geração de empregos e ampliação da classe média rural, acelerando o processo de desenvolvimento socioeconômico sustentável do Acre.

* ¹Pesquisadores da Embrapa Acre
judson.valentim@embrapa.br
²Analistas da Embrapa Acre

A Gazeta do Acre: