Aos visitantes da Expoacre uma coisa ficou bastante visível: o número de mesas vazias nos restaurantes e estabelecimentos alimentícios do local. O contraste ficava evidente ao se notar os espaços da Economia Solidária, Pequenos Negócios e outros de valores mais baixos lotados.
Apesar de a situação ser uma realidade, o empresário Alysson Bersange afirma que não há concorrência com as barraquinhas. O responsável pelo Mister Paulo Hamburguer’s aponta outro vilão para as vendas deste ano. “O nosso público é fiel. Não tem competição. O problema é realmente a crise econômica. Devido a isso, esta edição não está muito marcante. Você pode ver como está a Expoacre em comparação aos anos anteriores. Tem sido fraco. Apesar disso, eu estou bem, não tenho do que reclamar”.
A meta de Alysson era atender até mil pessoas por dia. No entanto, a realidade tem sido bem diferente. A média diária das pessoas que passam pela lanchonete são 300.
Para montar um restaurante na Expoacre, é preciso pagar uma taxa à administração. Alguns espaços custam R$ 1 mil e outros podem chegar a R$ 3 mil.
Alysson investiu mais de R$ 20 mil para montar o lanche Mister Paulo Ham-burguer’s. Além disso, ele e outros empresários empregam muitos garçons, o que gera vagas temporárias.
Para economizar, este ano o governo não contribuiu com a reforma dos espaços dos restaurantes. A informação foi dada pelo presidente da Comissão Organizadora da Expoacre, Dudé Lima. Por esse motivo, os empresários tiveram que arcar com todas as despesas. “Isso aqui estava todo deteriorado. O pessoal que ficou da alagação destruiu tudo. Arrancaram toda a fiação e quebraram o banheiro. O governo não reforma. Nós tivemos que reformar”, apontou Alysson Bersange.
Para ele, a Expoacre 2010 foi a melhor edição para o bolso. “Naquela época tiramos quase R$ 30 mil de lucro, já com tudo pago. Este ano o lucro total será bem inferior. Mas, apesar da crise estamos bem. Pensei que seria bem pior”.
“Eu vendo mais de 100 pratos por dia”
A empreendedora da Economia Solidária, Cristina Pinheiro, comemora o sucesso da barraca Sabor da Amazônia. Do início ao fim do dia de trabalho na Expoacre, ela mal tem tempo para descansar. É um pedido atrás do outro.
Os pratos são de encher a boca. Picanha, bobó de camarão, galinha picante, peixes dos mais variados, as opções são muitas. E o melhor de tudo, segundo os clientes, é o preço acessível. O produto mais caro, a picanha, custa R$ 15.
“Eu vendo mais de 100 pratos por dia. Tudo o que a gente traz a gente vende. Eu tenho uma clientela muito boa já das feiras”, vibra Cristina.
Segundo os cálculos de Cristina, essa feira lhe dará um lucro de aproximadamente R$ 10 mil. O que é muito bom, tendo em vista que ela investiu cerca de R$ 500 por dia. “A gente compra coisa muito boa, tudo de primeira qualidade. Buscamos sempre servir o melhor”, afirma.
As vagas disponíveis no espaço da Economia Solidária na Expoacre eram limitadas. Por este motivo, os empreendedores que queriam vender seus produtos e alimentos passaram por um sorteio. Cristina conta que ela teve sorte, pois foi convidada diretamente pelo secretário de Pequenos Negócios, Henry Nogueira. “As pessoas vêm pra cá porque querem uma comida caseira, boa, de qualidade, tudo feito no dia”.
“Melhorei as vendas depois que passei a aceitar cartão de crédito”, afirma ambulante
A organização da maior feira de agronegócios do Acre confirma a presença de 295 ambulantes cadastrados no local. Entre eles está Elisângela do Nascimento, que luta para tirar a melhor renda possível este ano com a venda de brinquedos.
A ambulante afirma que as vendas não estão boas como no ano anterior, mas que a expectativa de lucrar é boa. Ela ainda não totalizou tudo o que ganhou, mas espera repor os R$ 4 mil investidos em brinquedos.
“Acredito que vou repor tudo o que investi. Este ano, a primeira noite foi fraca. Sempre é. Mas, a cada dia, as coisas iam melhorando. O melhor dia foi na terça-feira, que eu vendi quase R$ 1 mil. Geralmente eu faço R$ 700”, aponta.
Os brinquedos custam de R$ 5 a R$ 80. Apesar do movimento tranquilo, ela afirma que já precisou ir três vezes até Plácido de Castro nesta semana para repor o estoque. “Fui à vila pegar mais”, justifica.
Todo o dinheiro que Elisângela recebe na Expoacre é investido em mais brinquedos para vender em feiras e festivais do interior do Estado. “As vendas boas começam na Expoacre. Depois daqui eu vou para os festivais em Feijó, Sena Madureira, depois tem o Dia das Crianças e o Natal”, explica.
Para driblar a redução de demanda por brinquedos, a ambulante conta que precisou se modernizar, senão ficaria para trás. “A crise está muito grande. Fora daqui eu trabalho na Praça da Revolução, no Centro. Lá está complicado. Para fazer R$ 200,00 em uma noite está muito difícil. Então isso aqui (a Expoacre) é o único meio de a gente conseguir liquidar um pouco das dívidas. Melhorei as vendas depois que passei a aceitar cartão de crédito. Essa máquina tem sido a minha salvação”, declara.
Casal leva restaurante para a feira há 40 anos
O casal de empresários Artur Franco, 75 anos, e Osmarina Feitosa Franco, 62 anos, é exemplo de empreendedorismo. São os mais antigos da Expoacre na área alimentícia. Responsáveis pelo estabelecimento Casa da Picanha, eles acreditam que o fator predominante para o sucesso é gostar do que se faz.
Nascido em Portugal e criado em São Paulo, no Brasil, Artur escolheu morar no Acre em julho de 1975. Em outubro do mesmo ano, ele estreou a sua participação na Expoacre com o restaurante Remanso do Tucunaré, atual Casa da Picanha.
Ele e a amazonense Osmarina deram vida a um dos mais tradicionais negócios da Expoacre.
Para levar o restaurante para dentro da feira, os empresários investem R$ 80 mil. Eles justificam que trabalham com a qualidade dos pratos servidos. “O filé do peixe, a picanha, isso tudo é muito caro”, aponta Osmarina.
Além de servir os acreanos com uma culinária refinada, o casal ainda gera 22 empregos no período da Expoacre, com a contratação de funcionários. “Para essa época, nós contratamos garçons que vêm de Porto Velho e ainda empregamos mais cinco jovens na cozinha”, explica.
Por noite, aproximadamente 200 pessoas jantaram no estabelecimento. Segundo Artur, essa edição deve gerar em torno de 10% de lucro.
“Tem dias que o movimento surpreende. Segunda e terça-feira, por exemplo, foram surpreendentes. Foi compensador. Mas, claro, se compararmos com o ano passado, sim, teve uma queda. No entanto, devido à crise que o País está passando, acreditava-se que seria pior. Esperamos não sair tristes”, declara Osmarina.
Para Artur, a maior diferença entre vender dentro da feira e fora dela é a estabilidade física. Na Expoacre, tudo pode acontecer, inclusive imprevistos. Além, é claro, de eles terem que seguir regras da organização do local, pois o espaço é alugado.
“A gente gosta do que faz. Estamos no ramo porque amamos a nossa profissão. É o que sabemos fazer, lidar com o público”, afirma Artur.
Empresários fazem da Expoacre uma vitrine para seus produtos
O empresário Luciano Maçanegro é dono de uma fábrica de café na região. Ele afirma que a Expoacre é uma oportunidade de mostrar a futuros clientes a qualidade do material. “O objetivo é expor o produto e fazer com que a população conheça a marca. Essa divulgação faz ter lucro no final, pois a pessoa conhece aqui, vê no mercado e vai comprar depois”, aponta.
Quem divide a mesma opinião é o empresário Carlos Moura. Ele vende móveis decorativos e também aposta na feira de agronegócios como vitrine dos seus produtos.
“Essa Expoacre está sendo uma surpresa pra gente. Apesar da crise, estamos tendo uma grande aceitação do público. É claro que vendemos mais no dia a dia. Aqui na feira, por outro lado, é o momento de expor. O resultado maior é pós-feira. Às vezes, eu vendo material depois de um ano daqui. O cliente liga e diz que quer aquela peça que viu. A prospecção de negócio é o melhor lucro da feira”, determina.