O acadêmico Wesley Goldstein, 27 anos, cursa o 7º período de Filosofia na Ufac. Entrou na universidade em 2010, e, desde então, já passou por duas greves dos professores.
Apesar de ver o sonho de se formar adiado mais uma vez, ele afirma apoiar a causa dos docentes. “Nós, estudantes, e que estamos mais próximos da realidade dos professores, sabemos das questões orçamentárias, das reivindicações tanto nacionais quanto locais. Acredito que isso surge do descontentamento da política nacional e da administração local em relação à aplicação desses investimentos. Eu apoio a greve dos professores. Inclusive, a gente tem organizado um evento para o dia 25 de setembro chamado ‘Manifesta’, no qual vamos ter uma série de debates com doutores da Ufac”, aponta.
Wesley reconhece que o tempo estendido da greve é um ponto negativo para o aprendizado e o planejamento de vida. No entanto, ele acredita que a culpa disso não cabe aos docentes. “A forma como o governo brasileiro tem tratado seus professores é realmente um desrespeito à nação. Se a gente perde o tempo agora, ganhamos lá na frente também. Os professores lutam por direitos hoje que talvez eu tivesse que lutar no futuro. Eu vou ser professor”, defende.
O estudante aposta em um fim para a greve ainda neste ano. Porém, uma coisa que o preocupa é a recuperação de conteúdo dos acadêmicos. Ele espera sensibilidade dos docentes no momento de exigir trabalhos e provas. “É preocupante o fato de como os professores vão agir conforme a necessidade de cada aluno, como vamos ser cobrados, se com a mesma diligência daquele período em que não houve greve”, destaca.
No 8º período do curso de Engenharia Florestal da Ufac, o estudante Lucas Monteiro, 31 anos, afirma estar receoso com o futuro acadêmico e profissional. Ele já enfrentou duas greves enquanto aluno e declara que se não fosse tantas interrupções já estaria formado. “A greve, de qualquer forma, prejudicou a minha formação. No entanto, entra também a troca de interesses do aluno e professores. Deixando claro que eu respeito a luta deles, que é de classe, como eu estarei algum dia em uma. Particularmente, eu me sinto prejudicado”, destaca.
O curso de Engenharia Florestal possui dez períodos ao todo. Ao começar a formação superior, Lucas tinha planos de nessa época da vida já estar fazendo alguma especia-lização. “É um problema de todos os alunos, não só meu. Entendemos que é uma causa nobre deles”.
Diferente de Wesley, o estudante Lucas está pessimista quanto à resolução das negociações. A economia fraca, a corrupção em alta e os vários cortes anunciados pelo Governo Federal o desanimam a acreditar que o retorno das aulas aconteça em breve.
“Acredito que a greve não vai acabar tão cedo. Já houve um anúncio de cortes de concursos federais para o ano que vem. Vivemos um momento delicado. Acredito que essa é a hora de mudar a política de educação. Os professores, relativamente, ganham bem, mas não têm condições boas de trabalho. Na sala de aula, eles não possuem tudo o que precisam. Se não mudarmos agora, acredito que não estarei vivo para ver esta mudança. É quase uma utopia, mas pode acontecer”.
Enquanto isso, o jovem, assim como muitos outros acadêmicos da Ufac e demais universidades federais do país, continuam outros projetos. “Prossigo com o meu trabalho fora da minha área. O chato é que eu ainda não estou formado”, lamenta.
A acadêmica de História Bacharelado da Ufac, Lauane Laura da Silva, 23 anos, está estagnada no 7º período desde o início da greve, há mais de cem dias. Ela iniciou a formação superior em 2010, mas teve alguns contratempos como atraso em duas disciplinas e duas greves longas.
Com um filho pequeno e o sonho de se tornar logo uma professora, ela culpa o Governo Federal pela demora no retorno às aulas. “A gente tem o planejamento de formar e passar em algum concurso. Temos muitos projetos, mas, infelizmente, a greve dificulta isso. Não há uma previsão de quando isso vai acabar. Então, ficamos de mãos atadas e com um futuro incerto”.
Lauane destaca que a luta dos professores é legítima e que tem o seu total apoio. Porém, ela e outros alunos acabam sendo atingidos. “Eu me sinto lesada. Não vou dizer que a culpa é dos professores. Se tem um culpado, ele é o Governo Federal, por não abrir negociações e quando abre é algo vergonhoso. Então ficamos de mãos atadas, porque ao mesmo tempo em que nos colocamos no lugar do professor, nós também sofremos como alunos por estarmos sendo prejudicados”.
Com quase quatro meses em greve, Lauane diz que não tem previsão certa para quando ela irá finalmente se formar. Segundo a jovem, o certo seria ela concluir as disciplinas no final deste ano, o que não ocorrerá mais. “Ainda não estamos com o calendário acadêmico ajustado. Isso só aconteceria no ano que vem. Essa é outra dificuldade que vamos enfrentar ao término dessa greve. Como vamos ajustar o calendário acadêmico? E as férias dos discentes? E as férias dos docentes? Serão muitas coisas a pensar depois”, expõe.
Estudantes criam petição pelo fim da greve
A acadêmica do 9º período de Direito e também uma das diretoras do Centro Acadêmico de Direito da Ufac, Maria Mariana, divulga nas redes sociais a petição dos estudantes pelo avanço nas negociações da greve que começou no dia 28 de maio deste ano. Ela pede o retorno imediato das aulas.
“Gostaríamos de deixar claro o nosso total apoio à luta pela valorização das universidades públicas, dos professores e técnicos a fim de garantir uma universidade de qualidade para todos. A greve é um instrumento legítimo da luta pelos direitos e melhorias do trabalhador e acreditamos que muitos avanços nas universidades se originaram das paralisações.
Ocorre que, no momento, é hora do comando local de greve pesar todos os benefícios e prejuízos que a continuação da paralisação podem acarretar, bem como considerar o cenário de crise em que se instaura o nosso país. A única conclusão a que podemos chegar é que os prejuízos causados pela greve já são exponencialmente maiores do que os benefícios que dela se podem extrair. Diante disso, questionamos: vale a pena postergar ainda mais esse atraso prejudicial à formação dos estudantes? O que ainda estamos esperando após mais de cem dias, sem nenhum avanço nas negociações?”, questiona Mariana.
A petição está disponível no site www.change.org. Depois basta pesquisar ‘Ufac’ e participar.
De acordo com o representante do Conselho Universitário, Maik da Silva Araújo, 33 anos, as assembleias dos professores são abertas a todos que desejem assistir. Maik garante que tem participado de quase 100% das reuniões e aponta que de mais de 700 professores da Ufac, apenas cerca de 100 são assíduos nos debates.
Ele afirma que a reação dos alunos é a mais variada possível. Tem os que são totalmente contra a greve, outros que se sentem prejudicados em todos os sentidos. Há também aqueles que apoiam, mas é uma minoria. A maioria está preocupada com o retorno às aulas, garante o conselheiro.
“Infelizmente, por ser prolongada, a greve prejudica os alunos, principalmente, na questão do retorno às aulas. Cada pessoa tinha feito a sua programação de vida. Os alunos não são contra os professores. Eles entendem que os docentes têm os direitos deles, mas que essa greve nos afeta diretamente”, explica.