Não há risco de paralisação das obras da ponte sobre o rio Madeira – BR-364, distrito de Abunã, em Porto Velho. O cronograma está inclusive adiantado e o clima tem colaborado, com a baixa nos níveis da água, o que facilita enormemente o trabalho da Construtora Arteleste. Estão da mesma forma assegurados os recursos necessários à continuidade dos trabalhos até à conclusão, posto que a obra é classificada como prioridade no orçamento da União e no PAC.
A informação é do engenheiro Alan Oliveira de Lacerda, supervisor da Unidade Local Porto Velho e indicado para a chefia do Setor de Engenharia com a posse de Sérgio Mamanny na titularidade da Superintendência Regional RO/AC. O empreendimento acaba inclusive de receber o compromisso da procuradora da República em Rondônia, Gisele Dias de Oliveira Bleggi Cunha, que negou, em pronunciamento distribuído à imprensa, que tenha a intenção de pedir na justiça a paralisação das obras.
A procuradora demonstra, com isso, sensibilidade social para com a dramática situação das centenas de milhares de famílias de considerável parcela do território rondoniense, na região de Ponta de Abunã, e de todo o estado do Acre, que sofrem com a elevação dos preços e atrasos na entrega dos produtos de consumo em decorrência das elevadas tarifas e da demora na travessia do rio.
“Ela mostrou ter consciência de que a ponte significa a redenção para toda essa gente, além de representar igualmente forte componente de estratégia econômica e geopolítica para a região amazônica e o país, pois consolida a abertura dos mercados asiático e andino para nossos produtos. A ponte é o elo que falta para tirar Rondônia e Acre da condição de fim de linha da geografia brasileira para situar no coração da logística continental, com excepcionais ganhos na redução de distâncias, economia de frete e competitividade dos preços no mercado internacional. O Brasil ganha com o que sai daqui, mas pode ganhar muito também com o que pode vir de lá, com a ocupação dos caminhões vazios” – disse ele.
Sabotagem
Alan Lacerda preferiu não comentar o trabalho que está sendo realizado pelos técnicos do DNIT para avaliação dos custos da mudança dos atracadouros das balsas para uma área a jusante (abaixo) das obras da ponte. Isso não impede, contudo, que a experiência de técnicos ligados ao transporte hidroviário desaconselhe a iniciativa, por demorada, cara e em pouco tempo absolutamente inútil, a partir da abertura da ponte ao tráfego de veículos.
O mais adequado, para prevenir a repetição de acidentes como os que ocorreram quando as balsas ficaram estranhamente à deriva para chocar-se e destruir as estacas-raiz instaladas para receber os pilares da ponte seria a adoção de medidas de segurança pela própria Rodonave, cujos equipamentos foram, afinal, provocadores dos acidentes. A Marinha constatou que apenas um rebocador fica de sobreaviso para socorrer as balsas em caso de pane dos motores durante a travessia do rio. Isso não adianta coisa alguma, pois o socorro – se funcionasse – demoraria pelo menos dez minutos para chegar até à balsa.
Ou seja: não chegaria – como não chegou – a tempo de evitar os acidentes. Os especialistas recomendam que seja exigido da Rodonave maior treinamento dos operadores das balsas, bem como a instalação de um motor reserva em cada equipamento, pronto para ser utilizado em caso de pane do primeiro. É claro que a manutenção obrigatória, regular e preventiva das balsas é algo tão obvio que torna dispensável a referência.
A menos que a intenção fosse exatamente a provocação dos acidentes, como forma de atrasar as obras da ponte ou, com alguma sorte dos eventuais mentores da estratégia, paralisar as obras. Improvável? Não é o que pensa a Marinha, cujas investigações não descartam a possibilidade de sabotagem por parte da empresa Rodonave Navegações, maior interessada na paralisação da obra. É exatamente isso que informou o delegado da Delegacia Fluvial da Marinha do Brasil em Porto Velho, capitão de corveta Félix Carlos Júnior, para quem nenhuma hipótese é descartada na investigação, inclusive a sabotagem.
De qualquer forma as atenções estão voltadas para acompanhar o desenrolar da questão, pois que não pode ser desconsiderada a eventualidade de novos “acidentes” para pelo menos retardar o andamento das obras, conforme observou o senador Jorge Viana na Tribuna do Senado, uma voz à qual se uniram em coro os senadores Valdir Raupp e Sérgio Petecão. “Vamos permanecer atentos – disse Jorge Viana – pois a empresa Rodonave, de um ex-deputado do PP Roberto Dorner, do Mato Grosso, tem uma mina de ouro nas mãos, é o melhor dos negócios, cobra um absurdo e não quer nunca que a ponte aconteça, porque vai matar a galinha dos ovos de ouro”.