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No Acre, ONG luta há 36 anos em defesa dos Direitos Humanos

A luta a favor dos Direitos Humanos do povo acreano faz parte da vida de Raimunda Bezerra desde o final da década de 1970. (Foto: ARISON JARDIM / ASSESSORIA)

Criado em 1979, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos e Educação Popular do Acre (CDDHEP) contribui na defesa e promoção dos Direitos Humanos individuais e coletivos do Estado. A entidade é baseada no artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que defende que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade”. O Centro atua nas esferas econômicas, sociais, culturais, ambientais e políticas, na tentativa de colaborar com uma sociedade mais justa e democrática.

Uma das fundadoras do local, Raimunda Bezerra, 63 anos, natural de Brasileia, conta que inicialmente o Centro era ligado à Igreja Católica e, somente após alguns anos, se transformou em uma Organização Não Governamental (ONG). Nos anos 1970, ela acompanhou de perto o movimento dos seringueiros, dos sindicalistas e de associações de moradores.

Há mais de 30 anos na luta a favor dos Direitos Humanos, Raimunda destaca algumas conquistas, como tornar conhecido os direitos das pessoas, além da abertura para discussões de políticas públicas voltadas para esta área. “A partir deste momento, muitas pessoas passaram a defender os direitos de todos”, disse.

Outra conquista foi à criação de instrumentos de proteção e garantia dos Direitos Humanos, tais como as secretarias, planos e conselhos de Direitos Humanos. “Essa é uma conquista da sociedade”, acrescentou Raimunda.

Com voz suave e calma, Rai fala que o CDDHEP faz parte da sua vida e rotina diária. “O Centro e a luta a favor dos Direitos Humanos fazem parte dos compromissos fundamentais da minha vida”, concluiu a militante.

No seu curriculum de serviços prestados ao Acre e a humanidade, fazem parte os projetos ‘Crianças e Adolescentes: Viver sem Violência é um Direito’, que forma conselheiros tutelar e lideranças comunitárias; ‘Direitos Humanos e Cidadania’, programa de formação de lideranças comunitárias; e a oficina ‘Revigorando o Enfrentamento à Violência Contras as Mulheres’. Além disso, Raimunda colaborou com a criação da ‘Capacitação de Educação em Direitos Humanos’ e participou do projeto ‘Mulheres da Paz’.

No ano de 2012, Rai recebeu a indicação ao ‘Prêmio Betinho – Atitude Cidadã’, lançado em agosto do mesmo ano, pelo Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida (Coep Nacional) e rede Mobilizadores.

Ano passado, Raimunda representou o CDDHEP e recebeu o 3º Prêmio Estadual de Direitos Humanos, na categoria instituição. Ela também foi responsável pela implantação da Rádio Comunitária Gameleira, uma importante ferramenta de mobilização, educação, informação e interação com as comunidades do Segundo Distrito de Rio Branco.

O resgate de uma vida

O jovem acadêmico falou de como o CDDHEP mudou sua vida. (Foto: odair Leal/ A GAZETA)

Aos 14 anos, trabalhando como flanelinha informalmente, Jaed Freitas foi resgatado por integrantes do Centro de Direitos Humanos. Ele parou de estudar ainda enquanto cursava a 6ª série do ensino fundamental. Hoje, aos 25 anos, Jaed cursa História/ Licenciatura na Universidade Federal do Acre (Ufac). Participa ativamente dos projetos realizados pelo Centro e é o atual responsável pela Rádio Comunitária Gameleira.

Tímido, mas convicto de suas escolhas, Jaed conta abertamente o que a ONG CDDHEP representa na sua vida. Para ele, o Centro foi responsável por uma mudança radical do seu destino. “Eu acredito que o CDDHEP fez por mim o que o Estado não fez: o papel social”, afirmou.

Para o jovem, o Centro e todas as pessoas envolvidas nesse trabalho social representam sua família. Ele ressalta a importância que Raimunda Bezerra teve no seu processo de amadurecimento. “Eles acreditaram que eu poderia ter uma chance. O CDDHEP é tudo pra mim!”, contou ele, emocionado.

Responsável pela rádio comunitária, Jaed fala que foi um caso de amor à primeira vista com o Radiojornalismo. “Me levaram para fazer atividades na rádio. Foi então que eu me apaixonei. Amei tudo! Eu lembro na época em que nós ligamos o transmissor, fazíamos o programa e desligava, porque a polícia podia chegar, como muitas vezes aconteceu”, recordou. Na época, a rádio ainda não tinha autorização para funcionar.

Para o acadêmico, a principal diferença da rádio comunitária e da rádio comercial é a interação com a população. É como “se estivéssemos na casa do ouvinte batendo um papo. O locutor tem intimidade com o ouvinte”, disse Jaed.

Rádio Comunitária Gameleira

Estrutura da Rádio Comunitária antes da enchente de 2015. (Foto: Arquivo pessoal)

Idealizada há 11 anos, por Raimunda Bezerra, a rádio Comunitária Gameleira, frequência 87,9, pertence ao centro comunitário CDDHEP. Somente quatro anos atrás, em 2011, conseguiu a licença para funcionamento. Foram incontáveis às vezes em que a Polícia Federal quis apreender – e apreendeu – os equipamentos da rádio. Segundo o atual responsável pela rádio, Jaed, a burocracia atrasou o processo para tirar a autorização de funcionamento.

Hoje, a rádio continua com um alcance pequeno. Apenas os moradores do Segundo Distrito têm acesso à transmissão em boa qualidade. Cinco programas fazem parte da programação diária: ‘Amanhecer Sertanejo’, das 6h às 10h; ‘Fala Comunidade’, das 10h às 11h; ‘Futilete’, das 12h às 13h; ‘Comando 87’, das 13h às 14h; e toda sexta-feira tem o programa aberto às organizações da sociedade civil em geral, das 11h às 12h.

O jovem Jaed explica que a audiência da rádio é avaliada de acordo com o número de ouvintes que interagem através do telefone, fazendo pedidos de músicas, tirando dúvidas ou fazendo sugestões. “Nosso público é do Segundo Distrito. As comunidades ao redor da rádio, Cidade Nova, Recanto dos Buritis, Belo Jardim, Seis de Agosto. São os ouvintes mais ativos”, comentou.

No início de 2015, uma enchente atingiu o Acre e alguns municípios, como Rio Branco, sofreram com a ‘fúria’ das águas. Na Capital, mais de 50 bairros foram atingindo pela enchente. Cerca de 10 mil pessoas tiveram que deixar suas casas. O bairro Seis de Agosto, onde fica localizada a sede do CDDHEP e a rádio comunitária, ficou embaixo d’água.

O prejuízo foi total! Todos os equipamentos da rádio foram perdidos, mesa de som, computadores, monitores, microfones, entre outros. O Centro também perdeu parte dos móveis e diversos arquivos. O orçamento para reconstrução gira em torno de R$ 7 mil. Além disso, o transmissor que foi comprado recentemente (após a alagação) queimou. Somando mais R$ 3 mil no orçamento final.

De acordo com Jaed, quando as águas começaram a subir, uma equipe foi até a sede do Centro e colocaram bases altas em todos os equipamentos e móveis, mas “quando conseguiram chegar lá, já de barco, estava tudo submerso, não imaginávamos que a água iria subir tão rápido”, lamentou o jovem.

Projeto Social
Entre os projetos realizados pela ONG, o programa Integrando Direitos Humanos e Socioambientais, voltado para a produção familiar, atende 10 famílias no interior do Estado. Financiado pelo Oi Futuro há oito meses, o projeto tem o objetivo de desenvolver a comunidade rural da Vila Campinas, em Plácido de Castro. Integrar ações socioeconômicas, ambientais e culturais através da educação popular, com atividade de renda agroecológicas.

“Esse é um direito dessas pessoas. Damos o suporte com o material e nós acompanhamos as famílias para fazerem produção familiar para o próprio consumo. À medida que for desenvolvendo o projeto, vai gerar uma renda para elas”, esclareceu Jaed, que também acompanha a iniciativa.

O jovem explica que o projeto representa um dos princípios básicos dos Direitos Humanos, direito a alimentação saudável. As famílias produzem produtos orgânicos, livres de agrotóxicos. “Estou tendo a oportunidade de acompanhar desde o princípio da produção familiar que é construir hortas, plantar e colher. Além disso, é uma oportunidade de renda extra para as famílias. Este projeto tem um valor imensurável”, ressaltou.

Ele avalia positivamente a evolução das famílias ao longo desses oito meses de produção. A princípio, e ainda sem instruções, os produtores queriam utilizar agrotóxicos para manter a horta livre de pragas. Após palestras, cursos e acompanhamento periódico, os mesmo produtores mostram preocupação com a qualidade dos alimentos. “Até quando levamos sementes eles querem saber qual a procedência e se é nativa. Já mostrando preocupação com os próximos plantios”, justificou.

“Estamos fazendo alguns eventos para arrecadar dinheiro”, disse Jaed

Jaed mostra obras que serão leiloadas para arrecadar dinheiro. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

Para reestruturar a sede do CDDHEP e a rádio comunitária, o Centro vem realizando alguns eventos e pequenos sorteios para arrecadar fundos para reconstruir o local. O objetivo agora é reconstruir a rádio e, logo em seguida, o Centro, que está funcionando provisoriamente em uma casa alugada.

O primeiro evento foi realizado no 14º Bis, o Baile Forrofiando com o CDDHEP foi um sucesso. Cerca de 280 pessoas participaram e, de acordo com Jaed, o baile superou as expectativas. “O retorno foi ótimo para o CDDHEP. Estávamos com medo de fazer, mas deu certo. Foi um evento muito legal”, afirmou.

As atividades para a arrecadação de fundos não param. Neste sábado, 12 de setembro, no período da tarde, o Centro vai realizar o sorteio de uma rifa, de uma obra do artista plástico Jésse Luiz, intitulada ‘Crianças Indígenas’. O valor é de R$ 5,00. Os interessados em adquirir podem entrar em contato através do telefone: 9927-9524 ou pela página no Facebook SOS CDDHEP.

Após o sorteio, outro quadro será sorteado. As vendas ainda não começaram. Além disso, uma Festa Latina está sendo organizada também em prol da recuperação do Centro. Interessados em colaborar e conhecer o trabalho da ONG podem acessar: http://cddhep.org/

DOAÇÕES
http://cddhep.org/ ou página no Facebook SOS CDDHEP

RIFA
Interessados em adquirir rifa ou conhecer o trabalho da ONG: 9927-9524 (Falar com Jaed)

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