Em “A Sociedade dos Poetas Mortos”, Robin Williams deu vida a um professor com um comportamento que fugia do tradicional. Em vez de seguir um conjunto de ideias pré-estabelecidas, o professor John Keating pedia que os alunos refletissem, aproveitassem a vida e se expressassem. Mais que resultados acadêmicos, o professor queria que os alunos se apegassem ao aprendizado e valorizassem as palavras, rasgando literalmente, os livros das regras.
Lembrei muito desse filme precioso há poucos dias, em Cruzeiro do Sul, ao conhecer a professora Cândida Pereira Lima, uma senhora simpática de 94 anos. Dona Cândida sempre quis ser professora, mas só conseguiu realizar o sonho depois de cursar o magistério, aos 30 anos.
Um encontro com a educadora Maria Angélica de Castro, mudou sua forma de ensinar. A diretora do então Departamento de Cultura do Território do Acre, durante o governo de José Guiomard dos Santos, pregava um modelo de ensino que não é pautado no professor e sim no aluno, que deveria ser sempre o centro das atenções. Maria Angélica foi uma das mulheres que fez história na educação acreana e mudou para sempre a maneira de dona Cândida ensinar seus alunos.
A partir desse encontro, ela passou a focar no potencial de cada aluno, estimulando-os a pensar por si mesmos. Absolutamente lúcida, dona Cândida conta, com orgulho, que esse encontro com Maria Angélica a fez rever seus métodos e até elaborar uma cartilha voltada não apenas para cumprir um calendário letivo, mas a partir da metodologia aprendida, possibilitar aos alunos criar conhecimentos.
Para essa quase centenária professora, não enxergar o valor do conhecimento, não ver sentido no que se aprende, é um dos motivos do fracasso na escola. E do alto dos seus 94 anos ela ainda faz questão de ensinar os que param para ouvi-la. Ela ainda sonha em reunir professores para repassar o velho e bom conteúdo com um jeito mais descolado de ensinar.
Desde criança, dona Cândida nunca teve limites para seus sonhos; muito menos aos 94 anos. Me impressionou a capacidade dessa senhora franzina em pensar educação como algo transformador.
Atenta ao mundo, ela troca fácil as novelas pela TV Senado. Fica horas assistindo, vibrando quando aparece o senador Jorge Viana de quem é fã. “Meu sonho é falar com ele”, diz.
Dona Cândida é professora com “p” maiúsculo. Criativa, falante e, principalmente, uma apaixonada por ensinar. Tem dificuldade de lembrar algo que lhe dê mais prazer do que lecionar. Sabe como ninguém exercitar o conceito de “carpe dien” que o professor John Keating apresentou aos seus alunos no filme “Sociedade dos Poetas Mortos”.
Com ela, descobrimos pessoas reais, criativas, que superam toda a sorte de dificuldades e atuam pela coletividade exercitando posturas inovadoras, “colhendo suas rosas”. A trajetória dessa senhora de aparência frágil, mas de uma força incomum, é um relato eloquente de amor a um oficio hoje tão desvalorizado.
Diz a lenda que, no Japão, o imperador só se curva diante do professor, por reconhecer sua importância. No Brasil, a valorização do profissional encarregado de formar as novas gerações de cidadãos deveria ser prioritária, para que sejam sempre modelos a serem seguidos.
E devíamos nos curvar, sim, a esses profissionais, integrantes da Sociedade dos Poetas Mortos, “que se dedicam a extrair a essência da vida”, que atuam motivando seus alunos a não desistirem dos seus sonhos, e despertam neles o desejo de aprender e transformar o mundo.
Assim como essa orgulhosa normalista que tive o prazer de conhecer.
Socorro Camelo* é jornalista (DRT- 065) e está assessora de comunicação do Ministério Público do Estado do Acre (MPAC)