A arte de capturar uma imagem e eternizá-la. Essa é a missão dos fotojornalistas. Acima de qualquer coisa, eles transmitem a notícia apenas em imagem, que, às vezes, dispensa até legenda.
Não ache estranho se em algum evento público encontrá-los em cima de uma árvore, ou deitados no asfalto. Esses profissionais não poupam esforços para conseguir o melhor ângulo.
Não há empecilho que os façam se contentar com o clique comum. Entram em locais alagados, pisam na lama, sobem em telhados, desafiam as leis da gravidade se preciso for. Essas são coisas deles.
Por A GAZETA passaram muitos profissionais assim, dos bons de verdade. Cada um com um perfil marcante e único, porém, com uma determinação em comum: levar de volta à Redação a melhor foto para a capa do jornal.
Alguns deles têm histórias que não poderiam deixar de ser contadas. Os bastidores da notícia, neste caso, começam pelas imagens.
SÉRGIO VALE
“Nunca pensei que seria fotógrafo. Fui trabalhar no jornal numa função chamada tituleiro”, revela Sérgio Vale, o primeiro fotojornalista de A GAZETA.
Na época, o emprego estava destinado ao atual deputado estadual Nelson Sales, mas ele dispensou a oportunidade. Então, a máquina de fotografar foi parar nas mãos de Sérgio Vale. “Nunca mais larguei esse ofício. A máquina era uma Olympus Pen”.
Vale recorda também com humor que derrubou a primeira máquina fotográfica que ganhou do jornal. “Levei uma queda com ela”. E recorda que as primeiras imagens que ele fez para o jornal ficaram escuras. Apesar disso, sempre teve muito apoio. “Meu repórter na época era o nosso querido poeta Marcos Afonso. Tínhamos uma equipe maravilhosa. O Marcos pegou meu material e disse assim pra mim: tá uma maravilha”.
Uma briga garantida era a que ele tinha todos os dias para suas fotos saírem na capa. Vale gostava do status que o jornal dava à equipe. Ele conta que sempre era muito bem recebido pelos entrevistados, comunidade e autoridades por trabalhar na GAZETA. Sérgio fazia de ronda policial à coluna social.
“Nunca fiz uma faculdade da área, mas acabei tendo essa profissão como uma das coisas mais lindas que já aconteceu na minha vida. Tudo o que eu imagino já está enquadrado na minha cabeça. Sou muito feliz de ter trabalhado no jornal A GAZETA”.
Quando A Gazeta do Acre mudou para A GAZETA, Silvio Martinello chamou Sérgio Vale e pediu fotos verticais durante uma semana para que o novo nome pegasse bem. “Essa responsabilidade ficou na minha mão e foi muito bacana”, lembra.
Enquanto esteve no jornal, Sérgio Vale fez fotografias de pessoas importantes para a história do Acre, como o Chico Mendes. Além disso, esteve presente nos empates e no julgamento dos assassinos do líder seringueiro.
Na ficha, ele destaca que já apanhou de delegado, policial, de bandido, mas garante que nunca deixou de fazer a fotografia. “Eu era muito destemido”, afirma.
Uma prova disso foi ele ter feito uma das imagens mais importante que o jornal tem. A foto ganhou prêmio de menção honrosa de jornalismo. “Foi na época em que estávamos saindo da ditadura. Eu flagrei um homem dependurado em um ‘pau de arara’ dentro de uma delegacia em Rio Branco. Ele estava sendo torturado. Depois disso, a Delegacia Especializada de Roubos e Furtos fechou. O governo da época até afastou o delegado. No outro dia, quando fui fazer a ronda policial e cheguei na delegacia, os caras queriam me fuzilar. Quando fiz a foto, eu nem tinha ideia do que ia acontecer”, declara.
Sérgio Vale diz que a simplicidade é muito importante nessa profissão e fala com nostalgia dos tempos em que esteve no jornal. “Se eu disser que saí da GAZETA e não me arrependi, eu estou mentindo. Eu me arrependi muito porque ainda tenho aquela família como minha. Tenho um irmão que trabalha lá até hoje”.
GLEILSON MIRANDA
O repórter fotográfico Gleilson Miranda coleciona cliques importantes, como as imagens que fez com exclusividade dos índios isolados do Acre. E ele começou a escrever essa história há muitos anos, no jornal A GAZETA.
No local, Gleilson começou como office boy, passando também por diversos setores. Ser fotógrafo não estava nos planos dele.
“Comecei a fazer fotojornalismo na GAZETA por causa de uma greve dos jornalistas que existiu na época. Como eu gostava de ficar no laboratório e aprender a revelar as fotos, acabei sendo convidado pelo editor. Aceitei o desafio”.
E foi assim que ‘nasceu’ um dos melhores fotógrafos do Acre. Na época, o editor da Redação era o jornalista Mário Emílio Malaquias, conhecido pela sua seriedade e rigidez no trabalho. Gleilson recorda que tinha que procurar foto boa para a capa do jornal todos os dias.
“Você tem que ter um olhar diferenciado. Eu tive essa oportunidade de começar na GAZETA e ser exigido. Foi onde eu comecei. É uma escola para mim e para várias pessoas”.
A parceira de pauta era a jornalista Dulcinéia Azevedo. Os dois saíam juntos em uma moto à procura de uma boa manchete para o jornal. “Na época, todo dia, na área policial, era comum a gente encontrar cadáveres. Às vezes eu saía do jornal 2h, 3h da madrugada. Não tinha horário”, detalha.
Foram muitas pautas e se lembrar de todas é quase uma missão impossível para Gleilson. Porém, algumas marcaram como o incêndio da Aleac. “Eu estava em outra pauta quando de longe vi aquele fogo. Foi uma coisa horrível, pois ainda tinha muita gente trabalhando sem conseguir sair. Os bombeiros estavam em ação. Mas, a gente tinha que estar registrando”, relata.
Naqueles tempos, fazer fotografia era mais difícil. Nisso, todos os profissionais concordam. Não existiam máquinas digitais. O desafio era saber captar a melhor imagem, sem gastar o filme. Gleilson explica como funcionava o processo.
“Quando a gente chegava da rua tinha que tirar o filme da máquina, colocar num aspiral de uma bobina no escuro. Tínhamos que colocar o aspiral dentro de um tamborzinho com química e tampar ele totalmente e deixar lá por 10 minutos. Depois deixava mais um tempo para a imagem fixar. Então colocava para secar. Posteriormente, levávamos o negativo para o ampliador para a imagem passar para o papel. Na luz vermelha e com a imagem dentro da água, íamos vendo o resultado do nosso trabalho. Por fim, a foto ficava secando no varal para tirar toda a química. O material demorava até 2h para ficar pronto, às vezes”.
Hoje, já são mais de 20 anos nessa área e Gleilson garante que nunca irá deixar de fotografar. “Eu sempre fui repórter fotográfico”, aponta.
ROSE PERES
A fotógrafa Rose Peres começou no ramo aos 18 anos de idade. Já trabalhou em vários veículos de comunicação, entre eles, no jornal A GAZETA. Participou da cobertura de fatos históricos do Acre como a queda do avião da Rico e as prisões no desmancho do Esquadrão da Morte.
“Minhas principais passagens pela imprensa, em termos de cobertura, foram pelo jornal A GAZETA. Eu lembro do Esquadrão da Morte, das prisões. A gente não tinha horário para começar e nem para parar. Jornalismo bom é isso. Foi uma época realmente marcante”.
Rose Peres também recorda da prisão do ex-coronel Hildebrando Pascoal. Teve uma foto dela, inclusive, que chamou atenção pela posição da mão do acusado. Ele estava com o braço levantado como se estivesse dando ordens, um tipo de cumprimento. A imagem repercutiu e, no julgamento seguinte, ele teve de ser conduzido algemado.
“Além de ter gente de fora aqui no Estado, nós, do jornalismo acreano, fizemos um excelente trabalho. Não deixamos a desejar para os jornais de fora. Pegamos fotos importantes. Tivemos muitas fontes que nos deram furos”, relata.
Os desafios de estar nos bastidores da notícia e levar a informação visual até o leitor a motivava todos os dias, afirma. E contar com uma equipe dedicada também ajudou. “A GAZETA me marcou muito no sentido de administração. Foi muito bom ver que eles funcionam como empresa séria. Eu sempre tive muito apoio. Sempre que precisava tinha carro, equipamento”, destaca.
Na profissão há 26 anos, Rose descreve com precisão este encargo de capturar fotos da notícia. “O repórter fotográfico tem um papel muito importante, porque, às vezes, a imagem fala mais do que as palavras. É a foto na hora certa, com o olhar e o ângulo correto”.
Rose destaca que o Acre está repleto de excelentes fotógrafos e que a profissão é, sem dúvida, muito gratificante.
Atualmente, ela trabalha na Assessoria de Comunicação da Fecomercio, em Rio Branco. Apesar de amar a profissão, Rose pensa em se aposentar. Porém, parar de fotografar jamais. “Eu sempre fui repórter fotográfica. Acho que não daria para fazer outro tipo de fotografia”, afirma.
ODAIR LEAL
“Eu era novo na imprensa, e lembro que era um sonho de todo mundo entrar na GAZETA. Eu me esforcei muito para chegar a trabalhar aqui. Eu era um garoto saindo de um jornal semanal e tive A GAZETA como uma escola”, relata Odair Leal, atual fotógrafo de A GAZETA.
Leal esteve no jornal por três vezes. Ele se lembra da dificuldade de ir para a rua com um filme e batidas limitadas. “Não tinha como você ver o resultado na hora. Tinha que saber fazer de verdade”. E garante: “Meu empenho profissional é o mesmo de quando comecei. Não faço corpo mole”.
Para ele, o que mais marcou sua carreira no jornal A GAZETA foi trabalhar na época do Esquadrão da Morte. “Era um período negro. Eu cobri a prisão dele e até sofri represália na época. Fui agredido pelos presos”.
Quase todos os fotógrafos de jornais já viveram situação semelhante. Odair acredita que essas agressões acontecem pelo fato de estarem na ‘linha de frente’. “Se você quiser um bom material, tem que se esforçar. Teu material é uma vitrine”.
Com 19 anos de profissão, Odair garante que sempre foi fotógrafo. “Eu tinha um trauma, porque a única foto de quando era pequeno, o meu pai levou quando se separou da minha mãe. Eu comprei uma câmera Love, que era descartável, aos 12 anos, e fui fazendo fotos. As pessoas iam pedindo no começo, mas depois passei a vender. Fui ganhando dinheiro, gostei e foi se tornando profissão”, explica.
Odair trabalhou ainda para o Exército Brasileiro. Fez curso técnico e acabou ficando como o último aluno da turma, porque faltava muito. “Eu não conseguia ir todos os dias, pois trabalhava”.
Hoje, Odair é um dos fotógrafos mais premiados do Acre.