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“Hoje eu não tenho nada para dar a eles”, diz mãe sobre o Dia das Crianças

Letícia e Jéssica Rodrigues Leite improvisam nas brincadeiras no quintal de casa. (FOTOS: ODAIR LEAL/AGAZETA)

BRENNA AMÂNCIO

Nos pés um chinelo surrado, uma camisa folgada, e o olhar cheio de brilho. O capacete já está na cabeça. Uma cadeira de balanço velha e quebrada é o veículo. O quintal de terra e lama precisam ser desbravados. A aventura já vai começar.

É assim que as irmãs Letícia, de 9 anos, Jéssica, 7 anos, e Michele Rodrigues Leite, 2 anos, fazem para se divertir. Nas mãos delas, todos os objetos velhos descartados no quintal da casa viram um brinquedo incrível e divertido que somente elas podem ver.

As pequenas desbravadoras são filhas de Maria Inês da Silva Rodrigues, 25 anos. Além das meninas, a mulher tem também o caçula Daniel, de apenas 4 meses.

Inês e o esposo estão desempregados. Vieram recentemente da zona rural para a cidade. Sem condições de pagar o apartamento onde vi-viam no Km 7 da Estrada Transacreana, a família veio morar com a mãe de Inês, no bairro Caladinho.

A casa é simples. Atualmente, nela moram oito pessoas, sendo quatro crianças. O local possui apenas três cômodos divididos por tábuas e cortinas. A sala, cozinha e quarto se tornam pequenos para as brincadeiras das meninas.

A mãe de Inês é faxineira, porém, também está desempregada. A família sobrevive da assistência do Bolsa Família e de doações de parentes próximos. Por causa disso, ainda não passaram fome.

Quando moravam no interior, Letícia e Jéssica estudavam. Agora, no novo lar, precisam se matricular em outra escola. Tarefa que Inês já está providenciando.

O irmão de Inês, o oitavo morador, fica a maior parte do tempo fora de casa. No entanto, o espaço, que já era pequeno, torna-se ainda menor à noite.

A matriarca dorme em um colchão no chão, o filho fica em outra cama e o bebê na rede. No entanto, Letícia, Jéssica, Michele, Inês e o esposo dela dividem um único colchão. Cinco pessoas dormem no mesmo lugar. Não tem muita opção.

Inês não consegue conter as lágrimas quando lembra que mais um Dia das Crianças está chegando e nada será diferente. Como em outras datas, ela não pode oferecer um dia especial aos pequenos. “Eu queria dar alegria para eles, porque eu nunca pude dar. Eles nunca tiveram presentes. Queria vê-los se alegrar ao menos no Dia das Crianças. É muito ruim ver todo mundo ganhar presentes e a gente não poder dar nada para os nossos filhos”, desabafou.

O sonho dela é ter uma casa própria e dar melhores condições de vida aos filhos. Já o sonho das três irmãs é bem mais simples: ter uma bicicleta. “Hoje eu não tenho nada para dar para eles”, lamenta.

Apesar das dificuldades, a família sobrevive de sonhos e planos futuros. As crianças, em um mundo de inocência, não enxergam as diferenças gritantes que o sistema impõe. Talvez elas não entendam ainda o motivo de algumas crianças terem tanto e elas tão pouco. Mas isso não parece lhes importar. O sorriso está lá sempre.

Inês é mãe de quatro crianças e está desempregada

Casal de idosos confecciona 50 bonecos para crianças carentes

Lúcia e Cauby realizam trabalhos voluntários há 15 anos às crianças carentes. (FOTO: ODAIR LEAL/AGAZETA)


BRENNA AMÂNCIO

O que para a maioria seria descartado no lixo virou brinquedo nas mãos do casal de aposentados Lúcia Maria Lima Neri, de 64 anos, e José Ferreira Neri, 77 anos, mais conhecido como ‘Cauby’. Tampinhas, embalagens de iogurtes e plásticos se transformaram em um divertido boneco palhaço.

O casal confeccionou 50 unidades para entregar a crianças carentes de Rio Branco e Sena Madureira. Com a ajuda da família, de amigos e conhecidos, as embalagens e tampinhas foram sendo juntadas e virando o brinquedo que fará a alegria da meninada no Dia das Crianças.

Um amigo da igreja ensinou Lúcia a fazer o boneco. Empolgada em ajudar, ela decidiu há 3 meses iniciar as confecções para o Dia das Crianças. Ela, com a ajuda do esposo, tirava todos os dias um tempinho para transformar os plásticos em brinquedo.

Cada boneco contém 40 tampinhas, uma garrafinha de iogurte vazia, elástico e uma cabeça comprada em armarinho.

Essa foi a primeira vez que Lúcia e Cauby realizaram a confecção dos bonecos. No entanto, o trabalho solidário com as crianças carentes de Rio Branco e Sena Madureira já dura 15 anos.

Em anos anteriores, o casal entregou lanches, roupas e brinquedos doados pela comunidade à ‘galerinha’, que já considera os dois como um tipo de padrinhos. “Alguns deles nem conhecem os pais”, destaca Cauby.

A expectativa das crianças escolhidas pelo casal é grande em receber o boneco. Para elas, esse será o único presente do Dia das Crianças, um produto reciclado e feito com muito amor.

“Eu também fui uma criança carente. Não tinha brinquedos”, revela Lúcia, emocionada. “Talvez seja por isso que eu goste tanto de ajudar, porque eu não tive nada disso”.

Ao lado dela, Cauby, parceiro fiel, tentou conter as lágrimas. Humilde, ele pediu desculpas por estar tão emocionado. É que lhe bateram lembranças de uma infância árdua e de muito trabalho. Ajudava o pai na roça e veio de Sena Madureira para Rio Branco já adolescente.

Lúcia e Cauby, exemplos de humanidade, gastam parte do dia deles fazendo bem ao próximo. A infância difícil foi primordial para a formação de adultos sensíveis com a situação alheia.

O casal possui uma vida assídua na igreja, na qual realizam a maior parte das missões solidárias. “É gratificante fazer o bem. Sentir a alegria da criança. Saber que estamos levando um pouco de felicidade a ela é gratificante”, afirma Lúcia. E com razão.

Além de ajudar crianças de origens humildes, a atitude deles também preserva o meio ambiente.

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