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No dia delas, cerimonialistas falam da arte de antever os imprevistos

Cerimonialistas Izabel Barros, Lina Grasiela e Renata Peiró falam sobre a profissão. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)
Cerimonialistas Izabel Barros, Lina Grasiela e Renata Peiró falam sobre a profissão. (Foto: Odair Leal/ A GAZETA)

Hoje, dia 29, é comemorado o Dia do Cerimonialista. Esses profissionais são os verdadeiros anjos da guarda de autoridades, debutantes, formandos, noivos, enfim, eles têm o poder de prever o imprevisto. Estão sempre atentos a cada detalhe de uma comemoração.

O cerimonialista abre mão da sua vida pessoal, sua família, na maioria das vezes, dos seus finais de semana, e seguem com a rotina de mercador de sonhos.

Cerimonialista há 16 anos, Izabel Barros explica que este profissional é responsável pela organização, planejamento e coordenação do evento.

Durante um bate-papo, Renata Peiró, cerimonialista há quase 10 anos, destaca que o profissional contratado para estar à frente do evento deve ser de confiança. “É através dele que todos os outros profissionais serão contratados e não pode acontecer, por exemplo, de eu deixar de indicar um serviço melhor por questões remuneratórias. Nós, cerimonialistas, também temos um compromisso com a verdade”, explicou.

Para esses profissionais, a maior realização da profissão é a sensação de missão cumprida, poder ver os sonhos realizados. “É impagável ver o cliente satisfeito, quando ele vem agradecer, quando no outro dia recebemos mensagem de agradecimento, a despedida depois da festa. Tudo isso é impagável”, disse Peiró.

Com relação aos desafios da profissão, as cerimonialistas possuem a mesma opinião. Abrir mão de momentos com a família, por exemplo, durante o final de semana é uma missão difícil. “Geralmente, a gente trabalha quando está todo mundo descansando. Nossa agenda é desencontrada. Já coincidiu de ser aniversário do meu pai, de namorado. É uma renúncia mesmo”, relatou Peiró.

Barros ressalta ainda que os cerimonialistas são os primeiros que chegam ao local do evento e os últimos que saem. Dependendo do evento, o planejamento pode começar até três anos antes da data escolhida. Toda a preparação para o grande dia é dividida em assessoria do evento e o cerimonial do dia.

“Nós fiscalizamos a montagem da festa e depois acompanhamos todo o evento. Já fiz formaturas para mil pessoas, em que eu cheguei ao local 7h da manhã. Quanto mais clientes, mais trabalho. É preciso ter jogo de cintura”, disse Peiró.

Histórias marcantes
Durante as festas, imprevistos sempre acontecem. Histórias engraçadas e tristes fazem parte da rotina desses profissionais que são responsáveis por cada detalhe do evento, e pelo bom andamento da festa. Quem nunca presenciou um noivo (a) desmaiando no altar? O nervosismo toma conta dos protagonistas da festa, e cabe aos cerimonialistas driblarem os momentos inesperados.

Izabel Barros conta que já aconteceu do noivo desmaiar durante a cerimônia de casamento. “Izabel, vou desmaiar, ele dizia. Ele avisou de longe que ia desmaiar. Deu tempo de nós colocarmos a cadeira para que ele não caísse. Bom, isso foi inusitado”, lembrou.

Além de situações de desmaios, Peiró conta que, em 2014, um caso marcou sua história de cerimonialista. Durante um casamento, a avó da noiva faleceu no dia e no local da cerimônia. “A avó da noiva estava muito ansiosa. Ela preparou tudo e teve um ataque do coração. Nós conversamos com os familiares para que não contassem à noiva, que aquele momento era único para ela, e que esperassem mais um pouco. Contaram pra ela quase duas horas da madrugada. Era a mãe do pai da noiva, e ele ficou lá no altar segurando, fez as fotos, foi forte”.

Renata Peiró conta ainda da emoção que sentiu ao realizar um aniversário de 15 anos beneficente. Uma jovem da Casa Lar Ester, entidade que ampara meninas vítimas de abusos, pedofilia e de exploração sexual, ganhou um baile de debutante. “Foram os 15 anos mais simples que eu fiz, mas o mais emocionante. A moça chorava e eu pensava: em todos os quinze anos que fiz até hoje as meninas choravam, mas não tinham motivo e essa daqui tem. A história dela era muito triste. Eu não conseguia parar de chorar”, descreveu emocionada.

São inúmeras as histórias, e Peiró relatou brevemente mais uma marcante. O pai da noiva era portador da doença de Parkinson, distúrbio nervoso que prejudica a coordenação motora e provoca tremores. Por isso não conseguiria levar a filha até o altar, pois quanto mais nervoso mais ele se tremia.

“Ela estava entrando sozinha. Quando ela estava no meio da entrada, ele saiu da cadeira, foi andando e pegou ela pelo braço. Foi emocionante! Todo mundo chorou, não teve nem garçom que não chorasse”, expôs a cerimonialista.

De acadêmica de História à cerimonialista
Estudante do curso de História, Lina Grasiela nunca se imaginou como cerimonialista. Após ser aprovada no concurso do Tribunal de Justiça (TJ), ela foi a principal aposta do desembargador da época. “Eu comecei a trabalhar com cerimonial porque um desembargador viu em mim a possibilidade de ser uma profissional da área. Na época, eu era uma ‘hiponga’ do curso de História, andava com sandália feita de pneu de caminhão”, recordou.

Trabalhando há 18 anos com cerimonial, Grasiela começou aos 24 anos a carreira. “Eu passei dois anos com o vice-presidente do Tribunal. Ele me levava para todos os eventos, e eu passei a observar a coisa. São grandes os eventos, nacionalmente muito valorizados. Então conheci o chefe de cerimonial, porque existe um colegiado. Ele me convidou para fazer parte. Foi a minha escola para assumir o cerimonial do TJ/AC”.

Grasiela lembra que a caminhada não foi fácil, pois o cerimonial do Judiciário exige muito. Até então, ela só trabalhava com eventos do Judiciário. A profissional se lembra de como começou a trabalhar com cerimonial social. “A Izabel Barros tinha um casamento que ela não poderia fazer e perguntou se eu não queria fazer. Eu fui e nunca mais parei. Eu devo a ela. Tenho uma dívida de gratidão com a Izabel”, lembrou.

Atualmente, Lina Grasiela é bacharel em Direito, com MBA em Gestão Pública, e possui cursos de especialização nas áreas de Eventos, Cerimonial e Protocolo. Ela é assessora de Relações Públicas (RP) e Cerimonial do TJ/AC e Consultora da Lótus Cerimonial.

Dia Nacional do Cerimonialista
Há 6 anos, o Plenário do Senado aprovou em 28 de outubro o Projeto de Lei da Câmara 203/08 que instituiria o Dia Nacional do Cerimonialista. Dia 29 de outubro foi, então, o dia escolhido para celebrar, enaltecer e homenagear o trabalho do profissional que é visto como o braço esquerdo e direito das noivas, debutantes, formandos, autoridades, empresários, entre outros.

A profissão de cerimonialista ainda não é oficialmente reconhecida e, este ano, uma reunião inédita do Comitê Nacional do Cerimonial Público (CNCP), juntamente com os Chefes de Cerimonial de vários órgãos, irão se reunir com o objetivo de apresentar a proposta de adequação das Normas do Cerimonial Público brasileiro, devido às novas exigências da comunicação protocolar.

“O CNCP é o que veste nossa camisa, é nosso órgão representativo a nível federal. Esse comitê tem uma batalha junto às autoridades e chefes de cerimonial para reconhecer nossa profissão. Existe um projeto de Lei tramitando. A instituição do Dia do Cerimonialista foi o primeiro passo para o reconhecimento da nossa profissão”, concluiu Lina, que vai participar da reunião representando os profissionais acreanos.

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