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DESAPARECIDOS: A dor de não saber

Janaína tinha 13 anos de idade quando desapareceu; Alessandra, mãe da adolescente, nunca deixou de procurá-la. (Foto: Odair leal/ A GAZETA)

Hoje, 2 de novembro, para muitas pessoas, é o dia de velar e visitar o túmulo de quem já foi muito querido e partiu. É uma data para relembrar os mortos, aqueles que, em vida, deixaram uma marca no mundo. Afinal, esse é o ciclo da existência humana.

Porém, há também quem não possa fazer isso pelos seus finados. Quando uma pessoa desaparece, fica um ponto de interrogação para a família e amigos.

É assim que a autônoma Alessandra Pereira da Silva, 53 anos, afirma se sentir. Há quatro anos ela luta dia após dia para descobrir o que aconteceu com a filha Maria Janaína da Silva, que tinha 13 anos de idade quando desapareceu.

Era uma quinta-feira, 15 de setembro de 2011. Aquele parecia ser um dia comum para Alessandra. Ela recorda de ter chamado a filha caçula para ir à igreja. A menina já tinha brincado bastante de skate, uma das suas atividades favoritas.

Ao voltarem para casa, já à noite, Janaína pediu para brincar de skate novamente com os amigos na rua, próximo da casa dela. “Não vai mais”, foram as palavras que Alessandra usou para tentar impedir que a menina saísse.

“Naquele momento, eu senti um aperto no peito. Ainda assim, ela foi e eu nunca mais vi minha filha”, lembra Alessandra emocionada.

Apesar do pressentimento, a autônoma afirma ter esperado três dias para fazer o boletim de ocorrência e registrar o desaparecimento. Ela conta que a menina costumava dormir na casa de amigas e que esperava que a jovem estivesse em algum desses lugares. Ao perceber que a filha não voltaria, ela procurou a polícia.

A partir de então, começou uma busca implacável para tentar descobrir o paradeiro da adolescente. Alessandra espalhou cartazes pela cidade, foi a programas de televisão pedir ajuda, além de ir com frequência às delegacias. Não descansou por um minuto.

Foi assim durante dois anos. E, apesar de todos os esforços, até aquele momento, ninguém conseguiu encontrar sequer uma pista do paradeiro de Maria Janaína. A família, amigos e vizinhos convivem com esse mistério diariamente.

Para onde Janaína teria ido? Alguém estaria envolvido com o desaparecimento? Por quê nenhuma pista havia sido descoberta após anos?

Alessandra não tinha nenhuma resposta, nenhuma pista, mas sentia que algo ruim havia acontecido com a menina. Ainda assim, ela precisava de alguma explicação, um ponto final, qualquer coisa para ter paz. Toda essa situação a estava levando à beira de uma depressão.

Além de Janaína, Alessandra tem um casal de filhos já adultos. Um deles é policial. Certo dia, esse mesmo filho, em uma operação, durante a prisão de um sujeito acusado de roubar uma moto, descobriu que estava frente a frente com uma possível testemunha do que teria acontecido com a adolescente. “Meu filho gravou tudo. Esse homem olhou para ele e perguntou se ele queria saber onde estava a irmã. Então contou o que sabia. Disse que ela havia sido atraída para uma emboscada por outra menina. Lá, tinham cinco homens. Eles a estupraram. Depois, não quiseram libertá-la com medo de que ela os denunciasse. Então a assassinaram”, relata Alessandra, ainda muito chocada.

A gravação foi cedida para contribuir com as investigações da polícia. Após isso, algo muito estranho aconteceu. “Os homens citados pelo rapaz que roubou a moto ficaram sabendo que ele os havia entregado. Poucos dias depois, ele apareceu morto”, conta Alessandra.

Mesmo com a gravação, o caso foi arquivado pela Justiça. Essa é uma das situações que mais revoltam a autônoma Alessandra. “A pior coisa é a impunidade. Queria que tivesse sido eu, mas não minha filha. Ela tinha tanto para viver ainda. Não fazia mal a ninguém. Era uma criança. Eu fico me perguntando o porquê até hoje. Quero justiça”.

Alessandra afirma saber quem são os principais suspeitos, mas está de mãos atadas. Ela aponta que são pessoas perigosas, principalmente o chefe do bando. “Eles são integrantes da Gangue do Tambor. E, pela gravação, mataram a minha filha bem perto de mim, a alguns passos de casa”.

A autônoma Alessandra Pereira é de origem humilde e sustenta a casa com as roupas que vende. Diz não saber ler muito bem e ajuda alguns irmãos que passam necessidade. Isso a tem mantido de pé ainda. Tudo o que ela pede é a atenção da Justiça no caso da menina Janaína. “Já são quatro anos nessa angústia. Se fosse filho de alguém importante, talvez o culpado já estivesse preso e o corpo da minha filha encontrado”, reclama.

Maria Janaína estudava o 5º ano do Ensino Fundamental. Era uma adolescente cheia de sonhos. O maior deles era se tornar juíza. Ela também passava parte do dia lendo e escrevendo poemas. Porém, o que a jovem gostava mesmo era de andar de skate e patins.

Na casa da família, a mãe ainda mantém o quarto de Janaína intacto. Os lençóis de cor rosa, as bonecas e os livros estão lá. Alessandra gosta de entrar ali quando a saudade aperta.

Nesta segunda-feira, a autônoma terá que passar mais um Dia dos Finados sem poder velar pela filha. A sensação de vazio é inevitável. “O meu maior sonho é descobrir onde eles jogaram o corpo da minha filha e que pagassem pelo que fizeram. Para mim, essa foi a maior tristeza da minha vida. Morreu meu pai e minha mãe, mas eu sei onde eles estão enterrados. E a minha filha que até hoje eu não sei do paradeiro?”, indaga ela, entre lágrimas.

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