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Concepção negativa da pobreza

Nutro aversão aos discursos articulados e políticos em relação  à pobreza material das pessoas. Tenho consciência da delicadeza do tema e da condição de vida que a pobreza material imputa à humanidade. Há, todavia, ao lado dessa chaga social, a pobreza espiritual que empobrece, vilmente, o mundo dos pobres e dos ricos.

Acredito, no sutil entendimento de pessoa humana, ser a pobreza espiritual a maior de todas as pobrezas. Tem-se, aqui, a vilania, a covardia e a desnudez disfarçadas sob um véu de falsidade, de fraquezas, de opções de vida que envergonham a nós seres humanos, nascidos no seio de uma família e participantes do corpo social da comunidade.

Esses “pobres espirituais” agem segundo os interesses pessoais mais escusos, atropelam o código da ética, da moral, do trabalho e do convívio social. São figuras que ocupam espaços, que tomam como seus, dentro do corpo social, como a lei a serviço dos interesses pessoais. Lidar com essas “criaturas” é uma questão para a psicologia, a sociologia, às ciências médicas ou para as leis penais. Pois se trata, na verdade, senão de atos criminosos, pela infâmia como são praticados, mas de uma anomalia que o Estado de Direito deve olhar com certa urgência, para assegurar direitos fundamentais à sociedade.

Valor humano – no mundo globalizado, um dos temas que vem merecendo articulados discursos é justamente aquele referente à concepção negativa que se tem de pobreza e o menosprezo que a sociedade tem pelos pobres. Aqui, o homem passa a valer pelos bens materiais que possui e não pela pessoa humana que é. Ou ainda, pelo peso político que representa no corpo social e não por sua presença enquanto cidadão no seio da sociedade. Assim, em termos de uma definição, no sentido de existência e de ressurreição social, para a prosperidade econômica e a sociedade de consumo, a pobreza é percebida como um eco ou expressão de uma condição humana degradante.

A tradição cristã – estudos recentes, realizados em países desenvolvidos, demonstram que essa atitude humana de olhar a pobreza, sob o ponto de vista material, constitui uma ruptura com toda a concepção pré-industrial da pobreza, particularmente na ldade Média. A tradição cristã e todas as grandes religiões fizeram da pobreza um estatuto de santificação, enquanto a riqueza não era um valor nos antigos modelos sócio-culturais. Só bem mais tarde a noção de assistência é substituída pelo da integração.

Essa mudança não é apenas semântica, pois procura integrar, na pluralidade da realidade social, a ideia de um “direito” a uma vida decente, que a democracia deve assegurar a todo cidadão. Essa reivindicação de novos direitos e novas formas de solidariedade inscrevem-se no aprofundamento da noção de direitos do homem.

Condição humana humilhante – a pobreza como um sigma, leva à Sociologia a afirmar que ela evoca uma condição humana humilhante. Nesse sentido, distinguem-se três níveis de pobreza, que formam ciclos concêntricos: 1) primeiro, aquele que inclui todos os pobres, qualificados em relação ao seu baixo nível de renda; 2) segundo, aquele que reagrupa os pobres que se beneficiam de certa alocação social; 3) terceiro, o reúne os que recebem, ocasionalmente uma alocação, mas ao mesmo tempo são considerados como pessoas depravadas e mal formadas. O estigma da degradação, de maneira tradicional, confunde a pobreza com a prática de atos ilícitos. Uma vida fundada sobre a exclusão social constitui a verdadeira definição da pobreza.

Pelas ideias aqui postas e por outras implícitas, no texto de hoje, compreende-se a importância de uma luta contra todas as formas de exclusão, numa sociedade que deve defender a verdadeira eficácia dos “Direitos do Homem”. E todas essas “coisas”, mazelas do coti-diano, passam por um processo educacional. Assim, pobre é também a nação que despreza os professores.

DICAS DE GRAMÁTICA
Entregar a correspondência “em mão” ou “em mãos”?
– Entregar em mão, é claro. Em mãos? Cruzcredo! Nem pensar.

Posso dizer “ele é de menor”?
– De modo algum, pois o “de “não existe. “Ele é menor”. Pronto …

“Jorge Viana vai ter que encarar de frente os problemas do Estado”, disse um político, em matéria jornalística. Isso é bom para o povo?
– Para o povo eu não sei, para a língua é péssimo! É pleonasmo dos grandes! Encarar é sempre de frente, cara a cara, olhos nos olhos. Encarar de lado ou de costas? Nem mágico faz isso…
Aceitado ou aceito, professora?

– Nos verbos em que há duplo particípio (aceitado/aceito; entregado/entregue; acendido/aceso; imprimido/impresso, etc.), utiliza-se a forma regular (terminação -do) com os auxiliares ter e haver. Com os auxiliares ser e estar, utiliza-se a forma irregular. Assim, use: Eles tinham aceitado a encomenda. O juiz havia aceitado o recurso. O recurso foi aceito. A encomenda foi aceita.

É verdade que não existe “se eu ver” nem “quando eu ver”?
– É verdade. O futuro do subjuntivo do verbo ver é vir. Por isso diga: “se eu vir”, “quando eu vir”, como nos exemplos abaixo:

Se eu vir seu amigo lá na festa, direi de você.

Quando eu vir o nosso colega, direi sobre você.

Como usar onde, aonde, donde, professora?
Observe o que preceitua a gramática:

“Onde” aponta para situação estática – verbo de quietação. Ex.: O local onde se situa a Praça Plácido de Castro é aprazível.

“Aonde” indica situação dinâmica – verbo de movimento. Ex.: “Aonde moras, amiga?”

“Donde” indica procedência, causa, conclusão. Ex.: Ele passou muito bem no vestibular, donde se conclui que estudou bastante”.

Professora, e os tempos compostos dos verbos ter e haver?
– Veja, explico novamente. Use-os na forma regular, assim:

Ele tinha pagado a conta.

Ele havia pegado os documentos.

Ele havia gastado o dinheiro.

Ele tinha ganhado pontos na pesquisa.

* Luisa Karlberg – É membro da Academia Acreana de Letras; Membro Fundadora da Academia dos Poetas do Acre; Membro da Academia Brasileira de Filologia; Membro da International Writers and Artists Association (IWA), sediada na cidade de Toledo, Ohio, USA. Coordenadora da Pós-Graduação em Língua Portuguesa (Campus Floresta (2011-2018); Orientadora de Pós-Graduação em nível de Mestrado e Doutorado; Orientadora de Pós-Graduação Lato Sensu; Orientadora de bolsistas PIBIC (Campus Floresta – UFAC); Pesquisadora DCR do CNPq (2015-2018). Grã-Chancelar da medalha J.G. de Araújo Jorge, pela Academia Juvenil Acreana de Letras; Embaixadora da Poesia pela Casa Casimiro de Abreu.

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